Cirurgia bariátrica em jovens mantém resultados após 10 anos do procedimento

Pacientes que foram operados com menos de 21 anos perderam cerca de 31% do peso e eliminaram comorbidades como diabetes e hipertensão

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Pés de menina com meias estão sobre uma balança
No Brasil, cresce cada vez mais o número de adolescentes com obesidade
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Por Agência Einstein – Jovens e adolescentes que realizaram cirurgia bariátrica para controle da obesidade conseguiram manter os resultados por mais de 10 anos após o procedimento, aponta estudo americano publicado no Journal of the American College of Surgeons. Segundo a pesquisa, além da perda de peso, esses pacientes conseguiram controlar a hipertensão, diabetes, depressão e outras comorbidades associadas à obesidade.

O estudo foi feito com base no acompanhamento de 96 pacientes que fizeram cirurgia bariátrica nos Estados Unidos quando tinham até 21 anos (média de idade era 19 anos) entre os anos 2002 e 2009. O índice de massa corporal (IMC) desses jovens era em torno de 44,7 (o que já é considerado obesidade grave) e o peso médio era de 126 quilos, variando de 110 a 147 quilos. 

Quase todos eles (90%) foram operados com a técnica do bypass gástrico, que reduz o tamanho do estômago por meio de um grampeamento e desvio de parte do intestino. O restante usou a banda gástrica, que utiliza um dispositivo em forma de anel na parte superior do estômago.

O médico responsável pelas cirurgias na época voltou a procurar os pacientes para uma teleconsulta pelo menos dez anos depois do procedimento. Assim, eles informaram o peso atual, o menor peso que alcançaram após a cirurgia e como estavam as outras comorbidades – entre elas diabetes, hipertensão, depressão, apneia do sono. O profissional também perguntou se essas pessoas estavam em algum relacionamento, se casaram, se tiveram filhos.

Segundo a pesquisa, os pacientes que foram submetidos ao bypass perderam, em média, 31% do peso corporal, enquanto os que fizeram a banda gástrica perderam 22%. Além disso, todos os participantes que tinham hiperglicemia, diabetes e asma antes da cirurgia relataram remissão completa dessas comorbidades e melhora nos quadros de ansiedade e depressão. Para os pesquisadores, os resultados demonstram que esses jovens hoje levam uma vida normal e corrobora que a cirurgia é segura e pode ser uma alternativa de tratamento da obesidade nessa população.

Problema também existe no Brasil

No Brasil, o número de adolescentes e jovens com sobrepeso ou obesidade é cada vez maior, o que preocupa especialistas. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 apontam que 1 em cada 5 (19,4%) adolescentes entre 15 e 17 anos estão com sobrepeso e 6,7% com obesidade. Entre os adultos jovens de 18 a 24 anos, esse número é ainda mais alarmante: 33,7% estão com sobrepeso e 10,7% com obesidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que até 2025 o mundo terá pelo menos 75 milhões de crianças e adolescentes obesos.

Segundo o cirurgião bariátrico Adilon Cardoso Filho, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia, o Brasil praticamente não usa mais a técnica banda gástrica por causa dos resultados ruins a longo prazo. Por outro lado, é o país que mais realiza o bypass. 

Cardoso diz que essa pesquisa demonstra o efeito satisfatório da cirurgia a longo prazo, mas ressalta que os resultados consistentes só são duradouros quando o paciente recebe uma boa orientação psicológica e médica durante o pré-cirúrgico e está consciente e maduro sobre o processo ao qual vai se submeter.

“Se o paciente for bem informado sobre tudo o que vai acontecer daqui um ano, dois anos, cinco anos, ele vai ‘assinar’ esse contrato e vão se passar cinco, dez, quinze anos e ele estará com a saúde plena, muitas vezes mais saudável do que amigos que são magros. Mas para que isso aconteça, a moeda de troca é o compromisso dele para manter esse resultado a longo prazo”, destacou o cirurgião, lembrando que a cirurgia sozinha não faz milagres.

Outro ponto importante, diz Cardoso, é que para manter os efeitos satisfatórios da cirurgia a longo prazo, a decisão de operar deve ter partido do próprio paciente e não de algum familiar. 

“A obesidade é uma doença, a obesidade tem CID [sigla que classifica as doenças internacionalmente]. A pessoa tem que estar consciente da sua condição e querer mudar de vida para manter os resultados. Se ela operar por pressão de outros, com o tempo não vai conseguir manter os efeitos”, alerta o médico. 

Segundo Cardoso, o protocolo de acompanhamento médico pós cirurgia bariátrica inclui avaliação após uma semana do procedimento; um mês; três meses e um ano. A depender do resultado dos últimos exames, o paciente deverá continuar com acompanhamento semestral ou anual. 

Além disso, o médico institui cinco mandamentos para o operado: não beber álcool; não comer doce (não é proibido, mas não deve ser uma rotina); reaprender a mastigar; ter disciplina de se alimentar cinco vezes por dia e “casar” com o médico que o operou, mantendo o acompanhamento constante. Ao final de cinco anos, o paciente deve atingir o ponto de ajuste (peso médio) e pode ter um pequeno reganho de peso. “Mas a qualidade de vida terá melhorado imensamente”, diz.

Para Cardoso, se não houver foco na mudança de hábitos alimentares desde a infância, a obesidade no país (e no mundo) só vai piorar. “Tratar a obesidade é complexo e os números são cada vez mais alarmantes. As comorbidades podem não aparecer na adolescência, mas elas virão mais tarde. É preciso atacar a obesidade não quando o paciente já está obeso. É preciso prevenir desde a infância”, finalizou o médico.

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