A adolescência é uma das fases mais complexas do desenvolvimento do ser humano. É um período crítico de muitas mudanças físicas e psíquicas, de construção social e afetiva. O corpo da criança começa a se transformar e onde antes havia mar calmo, agora há uma tempestade hormonal que faz com que as formas mudem e também mude o formato de comunicação. Constantes flutuações de humor e ânimo, desejo de independência e autonomia e tendência grupal com distanciamento dos pais e da família fazem parte do que chamamos de síndrome da adolescência normal.
Em tempos de quarentena, em que a convivência familiar confinada ao ambiente doméstico pode intensificar conflitos, tornando a tempestade ainda mais intensa, devemos seguir o conselho de um bom marinheiro: em uma tormenta, é melhor navegar a favor do vento e das ondas.
Daí então que eu gostaria de fazer um convite para que, em vez de encararmos essa fase tão importante da vida como “aborrescência”, resgatemos os cuidados – e também a paciência – que eram dedicados ao bebê e à criança pequena.
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Cometemos o erro de ir deixando enfraquecer a preocupação com a alimentação, com os estímulos, com o desenvolvimento e com o relacionamento afetivo entre pais e filhos à medida em que a criança vai se tornando capaz de realizar suas próprias escolhas.
No entanto, as bases de uma boa saúde devem ser semeadas na infância e continuar sendo cultivadas na adolescência para que os bons frutos sejam colhidos na vida adulta e na velhice, visto que muitas das doenças da senilidade podem ser prevenidas com um estilo de vida saudável.
Um estudo recente com quase 150 mil adolescentes na Europa e na América do Norte mostrou que apenas 4,4% das meninas e 4,7% dos meninos têm um estilo de vida saudável aos 11 anos. Esse índice piora, 0,85% e 1,5%, respectivamente, aos 15 anos. Estilo de vida saudável nessa pesquisa significava realizar alguma atividade física diariamente, passar menos de duas horas por dia em frente às telas, ter o hábito diário de consumir frutas e vegetais, não realizar consumo de álcool e nem de produtos de tabaco.
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São resultados alarmantes e que demonstram que não estamos dando a devida atenção a um ser que ainda está em desenvolvimento e precisa ser direcionado na realização de boas escolhas. A autonomia e a independência que devem ser desenvolvidas e incentivadas nessa fase requerem ainda o olhar atento dos cuidadores para que bons hábitos não sejam deixados para trás e para que não haja prejuízo na vida adulta. Por mais que já tenham tamanho, ainda precisam da ajuda de um adulto para que organizem suas vidas de maneira saudável.
A adolescência é o segundo nascer da criança. Portanto, reitero meu convite para que essa fase da vida seja acolhida pelos pais como um período fascinante de transição de um ser humano em desenvolvimento, mas que ainda precisa de muitos cuidados.
O hebiatra é o pediatra especializado em adolescência. O atendimento mais específico e focado nas questões tão peculiares deste momento de vida pode ajudar muito no conduzir mais suave dessa travessia.
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