A puberdade está chegando cada vez mais cedo: saiba as razões e como agir com seu filho

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a puberdade é considerada precoce quando acontece antes dos 8 anos de idade, nas meninas, e dos 9 anos, nos meninos

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Puberdade precoce: saiba as razões e como agir com seu filho; menina de casaco laranja tem mãos sobre bochechas e olha para o lado assustada
A menstruação ocorre nas meninas dois anos após o início da puberdade
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O aumento do número de crianças que têm apresentado um aceleramento nos sinais de puberdade têm preocupado pais e médicos. Um cenário em que meninas menstruam antes dos 11 anos de idade, por exemplo, passou a ser mais recorrente. A infância tem ficado cada vez mais curta e isso pode ter consequências físicas e psicológicas. Alguns dos fatores que contribuem para a puberdade precoce, segundo especialistas, são a má alimentação, excesso de consumo de produtos industrializados e de exposição de estímulos visuais inadequados para a idade.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a puberdade, fase em que ocorre o início da maturação sexual, é considerada precoce quando acontece antes dos 8 anos de idade nas meninas ou 9 anos nos meninos. Nas meninas, o primeiro evento puberal é tipicamente o desenvolvimento mamário, seguido do aparecimento dos pelos pubianos e axilares e, cerca de dois anos depois, do primeiro período menstrual. Já nos meninos, o primeiro marco puberal é tipicamente o aumento do volume testicular, seguido do aumento peniano e do aparecimento de pelos pubianos e axilares.

Primeira menstruação com 10 anos?

A ginecologista infanto-puberal Virgínia Werneck afirma que a idade média dos eventos da puberdade têm diminuído. “No início do século XIX, a puberdade acontecia aos 13 anos de idade. Hoje em dia a puberdade a partir de 8 anos de idade já é considerada normal para as meninas, sendo que a idade média fica em torno de 10 anos. A primeira menstruação, ou menarca, ocorre dois anos depois do início da puberdade. As causas deste fenômeno têm a ver com mudanças na alimentação, consumo de produtos industrializados e estímulos visuais inadequados para a idade”, explica.

Ainda não se sabe exatamente o que causa essa ativação cerebral repentina que leva ao início da puberdade precoce. Pesquisa recente desenvolvida na USP mostrou que a puberdade precoce está relacionada à mutação genética do cromossomo 15. A médica Virgínia Werneck esclarece que a puberdade precoce pode ter uma causa genética, mas explica que a grande maioria dos casos são idiopáticos, ou seja, não têm causa aparente. 

“O que mais preocupa os médicos são os tumores no hipotálamo, no ovário ou na glândula suprarrenal. Eles produzem hormônios e levam ao desenvolvimento precoce. Os tumores são doenças graves que podem colocar a criança em risco de vida, por isso ressalto a importância de um acompanhamento médico. Os pediatras podem identificar alterações no corpo que precisam ser observadas. Qualquer coisa que saia da normalidade precisa ser acompanhada. É importante ressaltar que na maioria das vezes a evolução é benigna, mas um acompanhamento médico é essencial”, destaca Virgínia Werneck.

Puberdade precoce pode afetar desenvolvimento e crescimento

Agnaldo Lopes, ginecologista, obstetra e presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), diz que já operou uma menina de 6 anos de idade que menstruou para retirar um tumor de ovário. Ela apresentava mamas e pelos pubianos. Ele afirma que, além do risco de contrair uma doença grave, o fator psicológico e a baixa estatura são consequências preocupantes da antecipação da puberdade. 

“A puberdade precoce pode atrapalhar o desenvolvimento físico das crianças porque, com a ativação dos hormônios, há o fechamento das epífises ósseas, o que leva à baixa estatura. A questão psicológica também é problemática. É importante que os pais entendam a situação e conversem com os filhos, porque pode haver um sentimento de inadequação social. As crianças terão que lidar com mudanças radicais no corpo antes da hora”, explica o médico Agnaldo Lopes.

A estudante Laíze Souza, 34 anos, contou que sua filha Maria Eduarda teve pelos pubianos aos 7 anos de idade, o que fez com que ela procurasse um endocrinologista. Ela decidiu iniciar um tratamento com medicamentos para retardar a puberdade da filha. Maria Eduarda tomou injeções mensais até os 11 anos de idade e pôde se preparar psicologicamente neste período. 

“Ela conseguiu lidar melhor com a situação porque teve tempo de se preparar para ela, conversamos bastante e ela teve todo um preparo psicológico. Mesmo assim ela ficou incomodada por ter parado de crescer já que sempre foi uma das mais altas da turma”, revela Laíze. 

Edmundo Baracat, ginecologista e professor titular da disciplina de ginecologia da Faculdade de Medicina da USP,  explica que o tratamento para a puberdade precoce é feito com uma medicação semelhante ao hormônio liberador de gonadotrofina (GRH) e regula a fabricação dos hormônios que estimulam os ovários e testículos. Em alguns casos é necessário incluir no tratamento o hormônio do crescimento (GH).  Ele ressalta a importância do acompanhamento médico e enfatiza que o tratamento com medicamentos só é indicado quando a puberdade precoce acontece em decorrência de por uma doença. 

“É preciso tratar as doenças, e não aplicar o medicamento somente para melhorar a estatura da criança. O hormônio de crescimento só deve ser aplicado em casos raros, quando o paciente não responde ao tratamento adequadamente”, explica Baracat.

A importância da alimentação e dos estímulos visuais

Apesar de não ter uma causa definida, os especialistas afirmam que é possível prevenir a puberdade precoce cuidando da alimentação e do conteúdo audiovisual consumido pelos filhos. 

“Eu falo para as minhas pacientes proporcionarem uma boa alimentação para os filhos, evitando que a criança ganhe peso exageradamente ou que entre em contato com produtos muito industrializados com muitos conservantes. Outra recomendação é evitar que as crianças sejam expostas a conteúdos que elas não estão preparadas para assimilar”, conta a ginecologista Virgínia Werneck. 

Apesar de todos os cuidados, nem sempre é possível evitar que a puberdade ocorra antes da hora. A advogada Alessandra Faro contou que sua filha Alice ficou menstruada aos 10 anos de idade e que ela não esperava que isto fosse acontecer. “Eu fiquei menstruada com quase 12 anos e achava que aconteceria isso com ela. Sempre cuidei muito da alimentação na minha casa e nunca deixei meus filhos assistirem a conteúdos inadequados para a idade deles. Percebi que, por mais que façamos a nossa parte, o mundo mudou, a tecnologia é muito acessível para eles, e é muito difícil evitar que isso aconteça. Hoje ela tem 12 anos e já tem gostos de adolescente. A infância está ficando mais curta”, lamenta Alessandra.


Leia também: Estudo da USP descobre causa da puberdade precoce


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