Puberdade precoce entre meninas cresceu na pandemia, mostra estudo

Estresse e estilo de vida sedentário durante o isolamento social podem ter contribuído para antecipar mudanças fisiológicas que levam à maturidade sexual

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Menina se olha no espelho
Isolamento social imposto pela pandemia contribuiu para fenômeno
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Um estudo publicado na quinta-feira (3) mostrou que as meninas entraram mais cedo na puberdade durante o isolamento social imposto pela Covid-19. Outras pesquisas já haviam feito essa constatação, relacionada aos primeiros meses da pandemia, sugerindo uma possível ligação entre o vírus e um gatilho para o início da adolescência. No entanto, este novo estudo, realizado na Universidade de Gênova, Itália, relaciona a puberdade precoce às condições determinadas pelo vírus e pelo isolamento social para contê-lo. O fenômeno teria sido motivado por fatores de risco como o aumento do uso de dispositivos digitais e a redução da atividade física diária, segundo o levantamento publicado no Journal of the Endocrine Society.

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após analisar dados de 133 meninas italianas que foram encaminhadas para uma clínica pediátrica, entre 2016 e 2021, porque seus seios começaram a se desenvolver antes dos oito anos de idade. Os estudiosos avaliaram a incidência da puberdade precoce antes e depois da pandemia e uma possível relação entre a Covid-19 e mudanças no estilo de vida. Foram encontrados 72 casos de puberdade precoce antes da pandemia (janeiro de 2016 a março de 2020) e 61 casos entre março de 2020 e junho de 2021, o que mostra um salto de dois para quase quatro novos casos por mês entre os dois períodos analisados.

A puberdade é considerada precoce quando uma série de mudanças físicas e psicológicas acontecem no corpo antes dos 8 anos de idade, nas meninas, e 9 anos, nos meninos. Nas meninas, ocorre o desenvolvimento mamário, seguido do surgimento dos pelos pubianos e axilares. Cerca de dois anos depois, vem o primeiro período menstrual. Já nos meninos, o principal marco puberal é o aumento do volume testicular, seguido do aumento peniano e do aparecimento de pelos pubianos e axilares.

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Durante a pandemia de Covid-19, o número de meninas com suspeita de puberdade precoce aumentou 1,79 vezes, informa o estudo. No geral, a obesidade é citada como sendo o maior fator de risco, porém, segundo os cientistas, existem achados que sugerem que outros fatores contribuem diretamente para a ativação puberal precoce. 

“Mais estudos são necessários para investigar como o uso crescente de dispositivos digitais, a redução da atividade física diária e as mudanças nos padrões de sono impactam na composição corporal e na distribuição de gordura e como isso influencia o desenvolvimento puberal das crianças. A avaliação das relações causais entre a pandemia de Covid-19 e a puberdade precoce/rapidamente progressiva requer estudos epidemiológicos e mecanísticos rigorosos de curto e longo prazo”, afirmam os autores do estudo.

As causas da puberdade precoce ainda não são claras e vêm sendo investigadas. Pesquisa desenvolvida na USP mostrou que esse fenômeno está relacionado à mutação genética do cromossomo 15. Agora, este estudo italiano descobriu que as meninas analisadas pela pesquisa passavam em média duas horas por dia usando celulares e 88,5% pararam de praticar atividades físicas. A partir disso, eles sugeriram que a luz azul das telas e a falta de exercício podem atrapalhar o desenvolvimento hormonal feminino.

O estresse também teria influência. “Há uma hipótese evolutiva interessante de que, quando as meninas estão muito estressadas, elas menstruam mais cedo para se reproduzir e proteger o futuro da espécie”, afirmou Mohamad Maghnie, autor do estudo, em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail.

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