Casos de meningite voltam a crescer e motivam apelo global por vacinação

Doença pode ser fatal e surtos estão aumentando, assim como sarampo e outras enfermidades, por conta da baixa imunização de crianças; OMS lançou estratégia para reduzir mortes em 70% até 2030

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Menino deitado, com a mão na testa e bochecha rosada, aparentando estar doente
A Organização Mundial de Saúde, lançou, em novembro de 2021, a primeira estratégia global de combate à meningite
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Assim como tem ocorrido com outras enfermidades, também os casos de meningite, doença que pode ser fatal e afeta principalmente as crianças, estão crescendo no Brasil devido à baixa cobertura vacinal. A vacina é capaz de combater 90% das formas mais graves da doença, mas a imunização segue em baixa em várias capitais e regiões do país. Esse é o caso de Belo Horizonte, que, por meio de sua Secretaria Municipal de Saúde, informou a queda na procura pelo imunizante.

Em 2020, a cobertura vacinal em Minas Gerais foi de 86,43% em menores de 1 ano e de 85,67% em crianças de um ano de idade ou mais. Já em 2021, a cobertura registrada caiu para 73,7% nos menores de um ano e para 72,26% para os maiores de um ano de idade. A taxa está bem abaixo da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, que recomenda uma cobertura vacinal de 95%. 

Em consequência da pandemia de covid-19, famílias adiaram a imunização de crianças e o cartão de vacinação de muitas delas está desatualizado. A notificação de casos da doença em 2020 foi a menor das últimas duas décadas, também reflexo do isolamento social. Foram notificados 357 casos, número que, nos anos anteriores, sempre esteve acima de 1 mil. Com o retorno das atividades presenciais, aliado à baixa adesão ao imunizante, a expectativa de especialistas é que o registro do número de casos de meningite, a partir de agora, siga em curva ascendente.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou, em novembro de 2021, uma ação global de combate à meningite. O objetivo da iniciativa é eliminar os surtos de meningite bacteriana – forma mais fatal da doença – até o ano de 2030 e reduzir 70% das mortes no mesmo período. De acordo com a OMS, a estratégia tem o potencial de salvar mais de 200 mil vidas todos os anos. 

Correndo contra o tempo

Para que as vacinas ofereçam a proteção correta, é necessário que se apliquem todas as doses completas, incluindo reforços, dependendo da faixa etária, enfatiza Lessandra Michelin, infectologista e gerente médica de vacinas da GlaxoSmithKline, companhia farmacêutica britânica. 

“A vacinação contra a meningite faz parte do calendário de rotina de crianças e adolescentes. Não se deve esperar que aconteçam casos para buscar a prevenção. A meningite é uma doença muito séria e grave, que pode levar ao óbito em até 24 horas, ou mesmo causar sequelas como perda de visão, audição, convulsões e até amputação de membros. Como o período de incubação da bactéria é muito curto, não há tempo suficiente para que a vacina feita após a exposição possa proteger adequadamente”, explica Lessandra Michelin.

O sistema vacinal da Sociedade Brasileira de Imunizações propõe que, em crianças, diversas doses sejam aplicadas. A primeira dose deve ser aplicada aos 3 meses de idade, com duas doses no primeiro ano de vida e reforços entre 12 e 15 meses, entre 5 e 6 anos e aos 11 anos de idade. Já em adolescentes, casos nunca tenham recebido o imunizante, a vacina meningocócica conjugada ACWY deve ser aplicada em 2 doses, com intervalo de 5 anos entre elas. Em adultos a dose é única. 

O que é a meningite? 

As meninges são membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. Quando inflamadas, seja por ação de vírus, bactérias, fungos ou protozoários, acontece a meningite. Ela é um sinal de que os sistemas de defesa do corpo humano foram enfraquecidos, o que faz a inflamação se instalar nas membranas responsáveis pelo sistema nervoso central, cuja função é processar informações informações dos impulsos recebidos pelo corpo e enviá-los ao cérebro. 

“A criança pode desenvolver meningite bacteriana adquirindo a bactéria de outra pessoa contaminada, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Além disso, adolescentes e adultos jovens podem ser portadores da bactéria e podem transmitir a doença mesmo sem adoecer, sendo chamados de portadores assintomáticos”, explica Lessandra Michelin.

Principais sintomas

Segundo Melissa Palmieri, infectologista pediátrica, membro do Departamento de Infectologia e Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo, os primeiros sintomas da meningite podem ser confundidos com qualquer infecção usual, como gripe e resfriado, só que com rápida evolução do quadro. Entre seus principais sintomas estão: dor de cabeça, vômito, febre, rigidez na nuca (dificuldade de dobrar o pescoço) e, em casos graves, manchas vermelhas na pele. Crianças muito pequenas também podem apresentar falta de apetite, irritabilidade e prostração (fraqueza, abatimento e moleza).

“Com a evolução rápida do caso grave, os maiores pontos de atenção são: rigidez na nuca, febre alta, sensibilidade à luz, confusão mental, dores de cabeça e vômito. Existe possibilidade de que os casos evoluam para um quadro de infecção generalizada, que infelizmente pode levar a criança a óbito. Em bebês, onde a percepção dos sintomas é mais difícil, o pequeno pode diminuir sua atividade, parar de mamar e a moleira pode ficar elevada, como sinal de aumento de pressão da região craniana”, relata Melissa Palmieri. 

Tratamento 

Melissa Palmieri enfatiza a importância da prevenção da doença. “O ideal é prevenir a doença, porque sua manifestação e instalação é muito rápida. Embora existam antibióticos para meningite ocasionada por bactérias, muitas vezes, por sua agressividade, o tempo do estabelecimento do antibiótico pode ser tardio, em comparação com a rapidez da circulação dessa infecção.”

Caso diagnosticada com meningite, a criança pode passar por uma série de tratamentos, além de acompanhamento rigoroso e monitoramento de possíveis lesões neurológicas. O paciente deverá receber antibióticos por via intravenosa imediatamente. Crianças com mais de seis meses de idade também podem receber corticosteróides para ajudar a prevenir problemas neurológicos permanentes. Além disso, podem receber fluidos diretamente pelas veias e utilizar máscaras de oxigênio.


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