Mães são mais afetadas pela quarentena do que os pais, diz pesquisa do Reino Unido

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Mãe e filha sentadas à mesa; mãe observa enquanto filha escreve; imagem ilustra matéria sobre mães na quarentena.
Durante a quarentena, mães estão passando mais tempo cuidando dos filhos e de sua educação domiciliar do que os pais. Foto: Freepik
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Uma pesquisa realizada por economistas das Universidades de Cambridge e Oxford, na Inglaterra, e Zurique, na Suíça, entre 9 e 14 de abril, mostrou que, na quarentena, as mães do Reino Unido dedicam pelo menos 50% a mais de seu tempo que os pais para cuidar das crianças e passam de 10% a 30% mais tempo que eles em atividades escolares dos filhos. As informações são do jornal inglês The Observer, que é associado ao jornal The Guardian. 

A pesquisa indica que não importa se a mulher trabalha em casa, fora de casa ou não trabalha: normalmente, ela gasta pelo menos uma hora e meia a mais que os homens em cuidados com os filhos e educação domiciliar todos os dias. Enquanto elas dedicam seis horas diárias a essas atividades, os pais passam pouco mais de quatro horas por dia com as crianças – também independentemente de seu status de emprego.

“Qualquer situação que você tenha, em média, a mulher sempre está fazendo mais e não é porque ela está trabalhando menos”, diz o Dr. Christopher Rauh, economista da Universidade de Cambridge.

Anna Bosworth, consultora freelancer de marketing e mãe de um bebê de oito meses e de uma menina de cinco anos, conta que, durante o “lockdown”, desistiu de sua carreira para que o marido pudesse seguir trabalhando em tempo integral numa agência de publicidade. “Não há um segundo em que eu possa trabalhar, das 5 da manhã até os meus filhos dormirem às 20:30. Não posso fazer nada produtivo”, diz ela. Anna explica que a prioridade do casal é manter a casa e pagar as contas – e o trabalho do marido é a maneira mais segura de garantir isso. Normalmente, o casal recebe ajuda dos avós e de uma cuidadora para que ambos possam trabalhar. “Sou feminista e acredito na escolha”, afirma. “Mas, por causa da pandemia, fiquei sem poder escolher. Eu me sinto como uma dona de casa dos anos 50″, desabafa.

Desigualdade é maior em famílias com maior renda 

A pesquisa apontou que a desigualdade de gênero é maior nas casas que têm uma renda familiar mais elevada. Uma mãe que ganha mais de 80 mil libras por ano (cerca de 46 mil reais por mês) e está trabalhando de casa, gasta 3,3 horas por dia com a educação domiciliar das crianças e 3,8 horas por dia com cuidados aos pequenos – mais de 7 horas no total. Um pai com a mesma renda dedica apenas 2,1 horas por dia com educação domiciliar e 2,3 horas por dia aos cuidados das crianças – menos de 4,5 horas no total. 

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“Quanto maior a renda familiar, mais tempo as mulheres passam educando em casa comparadas aos homens”, afirma Rauh. “As pessoas criam explicações – como que as mulheres são melhores em tomar conta das crianças devido à evolução – mas, se isso fosse verdade, não iria se aplicar à educação em casa. Mesmo assim, ainda vemos essas diferenças aqui”, continua ele. 

A renda das mães parece afetar a quantidade de educação domiciliar que as crianças recebem: mulheres que ganham menos dedicam menos tempo a isso. No caso dos pais, os que têm uma renda menor passam aproximadamente o mesmo tempo que homens que ganham mais com a educação domiciliar dos filhos. Nos casais de menor renda, a maior diferença é em relação aos cuidados com as crianças: as mães gastam 3,9 horas diárias com isso, enquanto os pais só gastam 2,4 horas. 

Segundo o Observer, a plataforma de educação domiciliar Atom Learning diz que, desde que a quarentena começou no Reino Unido, no dia 23 de março, mais de três quartos dos pais que registraram o filho para lições online grátis e prepararam o trabalho escolar eram do sexo feminino. 

A reportagem também afirma que houve queda no número de trabalhos acadêmicos de autoria individual enviados por mulheres, enquanto envios de acadêmicos homens aumentou. O Working Families, que tem serviço de aconselhamento jurídico para pais, viu um aumento de seis vezes em perguntas desde que a quarentena começou, 80% vindas de mulheres. “Nós temos visto evidência de que mães estão sendo penalizadas e não estão sendo apoiadas para trabalhar de casa porque elas têm filhos. Nós também vimos mães tendo que tirar licença não remunerada ou sendo dispensadas”, afirmou a instituição. 

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Preocupação com saúde mental das mães na quarentena 

A matéria do Observer também aponta as preocupações sobre o impacto que a quarentena pode ter na saúde mental das mães. O texto cita pesquisa do King’s College, de Londres, que aponta que, desde o início da quarentena, 57% das mulheres dizem que elas estão se sentindo mais ansiosas e deprimidas, comparado com apenas 40% dos homens. Mais mulheres que homens também relatam que estão dormindo menos e comendo de maneira menos saudável que o usual.

Sam Smethers, chefe-executiva do Fawcett Society, instituição de caridade no Reino Unido, disse que implicações mais amplas da desigualdade de gênero na quarentena estão claras. “Isso mostra que as suposições padrão sobre quem cuida das crianças fundamentalmente não mudou. O padrão é que sejam as mulheres. Ainda há uma expectativa de que mulheres farão seus empregos se ajustar aos cuidados dos filhos, enquanto no caso de um homem, o emprego vem primeiro”, comentou ela à reportagem. 

Leia a matéria do Observer/The Guardian

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