Liberação de máscaras em espaços abertos das escolas é precipitada?

Máscara não é mais obrigatória no Estado de São Paulo, em qualquer área ao ar livre, inclusive nas escolas. No Rio de Janeiro, uso da proteção também foi flexibilizado. Especialistas analisam prós e contras dessas medidas para as crianças

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Menina sem máscara em um espaço público
Especialistas debatem sobre a flexibilização do uso de máscaras em público
Buscador de educadores parentais
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Por Verônica Fraidenraich e Bruno Penteado* – O governo de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (9) que o uso de máscaras não será mais obrigatório em qualquer espaço aberto do estado, inclusive, quadras e pátios das escolas. No entanto, nas salas de aula e locais fechados, o equipamento de proteção contra a Covid-19 continua sendo necessário. A divulgação foi feita pelo governador João Doria (PSDB), durante coletiva de imprensa, após quase dois anos da obrigatoriedade da máscara.

“Continua obrigatório o uso (da máscara) na sala de aula ou nos ambientes fechados. Nos ambientes abertos, nas quadras que só têm a cobertura, mas não são fechadas nas laterais, não precisará mais do uso de máscara”, disse o secretário estadual de educação de São Paulo, Rossieli Soares.

Cidades como Rio de Janeiro também desobrigaram o uso de máscara em escolas. Em Santa Catarina, crianças entre 6 e 12 anos não precisam mais usar a proteção. No geral, a flexibilização leva em conta a queda no número de casos, internações e óbitos pela doença, graças ao avanço da vacinação, porém, apesar das decisões de governos, a medida não é consensual entre especialistas.

À Canguru News, Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), disse que a flexibilização do uso das máscaras deveria ser uma das últimas medidas a serem adotadas no combate à pandemia, sinalizando a proximidade do seu fim, o que ainda não é o caso. Ele afirma que as máscaras são “uma forma de proteção barata, acessível a todos e que funciona”, e que seu uso deve ser alinhado com distanciamento e vacinas para a proteção completa. Porém, em ambientes como escolas e transportes públicos, não há como garantir essas duas últimas formas de se proteger, portanto, as máscaras se tornam ainda mais essenciais. 

O pediatra reconhece que há sim um prejuízo a ser levado em conta na socialização das crianças ao voltarem às aulas com os rostos cobertos, o que deve ser observado pelos pais. Estudos têm mostrado impactos em questões sociais e emocionais devido ao uso prolongado de máscaras. Mas, entre prós e contras, Kfouri avalia que os benefícios da proteção superam os prejuízos.

Para Margareth Dalcomo, pneumologista, professora e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o uso de máscaras em ambientes fechados segue recomendado, mesmo que as taxas de vacinação tenham melhorado. “Está demonstrado que o contágio da doença, independentemente da cepa circulante, é ambiental, por aerossol, e portanto, a proteção individual e coletiva é, a meu juízo, tempestiva e ainda prevalece como medida sanitária. Vale lembrar hábitos culturais saudáveis e muito civilizados, de há muito adotados pelos orientais, de utilizar máscaras quando apresentam qualquer sintoma de resfriado, ou para viajar em aviões”, disse ela em artigo para o jornal O Globo.

João Prats, infectologista do BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma que dentre toda a população, as crianças foram as menos afetadas pela Covid, porém, a retirada da máscara pode prejudicar, em especial, crianças de risco, que têm doenças autoimunes e comorbidades e são mais suscetíveis a adquirir Covid grave. “Essas talvez devem seguir usando máscara, assim como pessoas ao redor delas. Se na sala da escola tem um aluno com algum grau de doença, seria uma política legal da escola que todos da turma usem máscara para proteger a criança que tem maior risco”, destaca o especialista.

Covid longa também pode afetar as crianças

Para o presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP é importante lembrar que a Covid também leva a complicações em todas as idades, inclusive na pediatria, como a Covid longa. “Mesmo quadros leves podem evoluir para uma forma crônica da doença”, afirmou Kfouri, reforçando as preocupações que levam a Sociedade Brasileira de Pediatria a sugerir a continuidade do uso dessa proteção para as crianças, principalmente nas escolas.

A Covid longa, ou Síndrome Pós-Covid, citada pelo especialista, é uma condição que tem sido observada em diversos pacientes que se recuperaram da doença. Os afetados por essa síndrome podem experimentar sintomas de ordem física, cognitiva e até emocional, alguns recorrentes são a fadiga, perda de paladar ou olfato, perda de memória e dificuldade de concentração. 

Atualização da caderneta vacinal

O pediatra e médico sanitarista Daniel Becker, que faz parte do comitê de enfrentamento à Covid do Rio de Janeiro, disse que as crianças fazem parte da categoria de não vacinados e por isso a recomendação do comitê, diante da liberação total de máscaras na cidade, é de atualização da carteira de vacinação, não apenas para covid, mas para todas as vacinas, visto que muitas famílias, por conta da pandemia, deixaram de levar os filhos aos postos de vacinação durante a pandemia.

“As escolas poderão decidir se mantêm ou não – a maioria deve liberar. Eu recomendaria manter mais duas ou três semanas. A dose de reforço da equipe é importante. E as famílias que se sentem inseguras podem continuar a enviar seus filhos de máscara, claro”, escreveu Becker, em rede social. Ele também ressaltou que crianças que ainda não tomaram as duas doses da vacina sigam usando máscara até atingirem a cobertura completa.

Aumento de casos nas escolas

Apesar das sérias preocupações envolvendo a saúde dos pequenos, Kfouri não acredita que, caso não usem mais a máscara, as crianças possam causar um novo aumento grave da doença para o sistema de saúde geral. “Não acredito que a onda da doença vá mudar com ou sem máscara, mas as tendências se acentuam ou desaceleram mais rápido se você usa essas medidas. Se a curva de casos está em descendente, vai descer mais lento, se está em ascendente, vai subir mais rápido”.

Quem deve usar máscara mesmo com flexibilização

No caso da presença de algum sintoma gripal, o governo paulista recomendou o uso do acessório, mesmo não sendo mais obrigatório. Pessoas não vacinadas, imunossuprimidos e que têm doenças crônicas também devem se proteger com a máscara. O mesmo vale para ambientes abertos mas com grandes aglomerações.

Cidades e estados que desobrigaram o uso de máscara

Em Santa Catarina, crianças de 6 a 12 anos não são mais obrigadas a usar máscaras, e no Rio Grande do Sul, o governo chegou a desobrigar o uso para o público abaixo dos 12 anos de idade, mas teve de voltar atrás após decisão da Justiça, que determinou obrigatoriedade do uso.

Na cidade do Rio de Janeiro, desde segunda-feira (7), as máscaras não são mais exigidas em qualquer ambiente, mesmo locais fechados. No caso das escolas, cabe à direção de cada instituição decidir quanto à necessidade ou não de uso do equipamento. Entretanto, o Ministério Público do Trabalho do Rio recomendou nesta quarta-feira (9/3) que o uso da máscara contra a Covid seja mantido em instituições de ensino públicas e privadas do estado, segundo publicou o portal Metrópoles.

Liberação total das máscaras em SP pode ocorrer em duas semanas

O governador de São Paulo afirmou que a expectativa é de liberar o uso total da máscara dentro de duas semanas, se os indicadores continuarem em queda. “Com o crescimento da vacinação de crianças de 5 a 11 anos, possivelmente em duas semanas o governo pode avaliar a liberação do uso completo de máscaras. Mas isso vai depender da consciência de cada pessoa. Se tudo continuar correndo bem, até o dia 23 de março, São Paulo pode anunciar a liberação completa do uso de máscaras em todos ambientes e em todas as circunstâncias”, disse João Doria.

Em São Paulo, quase 90% da população elegível (ou seja, adultos e crianças acima de 5 anos de idade) estão com o esquema vacinal completo. Porém, se consideradas somente as crianças de 5 a 11 anos, faixa etária para a qual há vacina pediátrica disponível, apenas 20% tomaram a segunda dose, necessária para proteção total contra o coronavírus.

*Bruno Penteado é candidato a trainee na Canguru News sob supervisão.
**Texto atualizado em 10/03/2022


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