Geração do quarto: educação socioemocional é o caminho para ajudar jovens

Hugo Monteiro Ferreira explica os cinco pilares que sustentam processos educativos saudáveis; pesquisador participou de masterclass realizado pelo Clube Canguru

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Menino joga no computador
Mais convivência e diálogo em casa, propõe Hugo
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Desde 2020, mais de 47 crianças e adolescentes foram mortos pelos pais por espancamento, no Brasil, de acordo com dados levantados pelo pesquisador, psicólogo e pedagogo Hugo Monteiro Ferreira, a partir de notícias veiculadas na imprensa. O autor do livro A geração do quarto – quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar diz que, além desses casos, há muitos outros, por exemplo, de violência sexual contra as crianças, violência contra a mulher – praticada, muitas vezes, na frente dos filhos -, transfobia e racismo. Segundo Hugo, são diferentes tipos de violência – física, psicológica ou simbólica – que funcionam como uma linha de conduta das famílias que compõem a matriz da geração do quarto. “O ambiente todo é tóxico, não há saúde no ambiente. E a toxicidade gera esse comportamento muito característico desse público”, disse o pesquisador, durante masterclass realizada no sábado (4), de forma online e presencial, em São Paulo, para o Clube Canguru.

O público a que ele se refere são meninos e meninas entre 11 e 18 anos, que passam mais de seis horas no quarto, fazendo uso excessivo da tecnologia, dormindo mal, sem a prática regular de esportes e com sérias questões de saúde mental. Na escola, porém, não tiram notas vermelhas – o boletim é “azul”. Sofrem, contudo, de bullying, cyberbullying, transtornos alimentares, automutilação e ideação suicida. Para Hugo, são os jovens com o perfil da geração do quarto que promovem os ataques violentos às escolas

“Analisando desde o massacre de Columbine (EUA), em 1999, até Suzano (SP), em 2019, o perfil do violentador é o perfil de quem esteve no quarto. São meninos que tinham passado por violência, viviam muito ligados na internet, tinham acesso a armas branca ou de fogo e demonstravam essa violência no cotidiano”.

Programas de educação socioemocional nas escolas são o caminho apontado pelo autor para ajudar esses jovens. Ele ressalta a importância de não negligenciar as emoções e trabalhar o assunto com famílias e escolas. “A consciência emocional, o lúdico, o riso e o humor são essenciais para o bem-estar em qualquer ambiente. Quando há um trabalho socioemocional realmente cuidadoso, eu vejo melhoras significativas, vejo as crianças tendo um comportamento mais empático, mais compassivo, amoroso e com uma consciência emocional maior”.

A seguir, veja mais detalhes do programa socioemocional proposto pelo pesquisador.

Saiba mais sobre o Clube Canguru.

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5 pilares da educação socioemocional para a geração do quarto

1. Autocuidado

Cuidar de si, assim como cuidar do outro favorecem a autoconfiança e autoestima e geram pessoas mais resilientes. Do contrário, o descuido remete à submissão e insegurança, facilitando práticas como as de abuso. 

2. Autoconhecimento

Fazer com que as crianças conheçam a história de seus ancestrais, sua família e seus valores são formas de trabalhar a questão identitária. Assim como os gostos de cada um e como se pensa dentro de casa questões políticas e ideológicas. Quando se reconhece a importância da biografia, quando nos conhecemos, admitimos o sentido que construímos, damos significado à vida.

3. Convivência  

É importante aprender a conviver com as diferenças, respeitando quem não é espelho, quem pensa e sente diferente. Nos processos horizontais, todos têm voz e vez. As famílias da geração do quarto se caracterizam pelo desrespeito à alteridade, é preciso portanto desconstruir essa prática e construir de outro modo, sempre respeitando o conhecimento alheio.  

4. Dialogicidade

A dialogicidade é fundamental na educação das emoções. Por mais que haja contradição e conflitos, é preciso erradicar a violência e promover a escuta acolhedora e a comunicação não violenta. As crianças têm de aprender a ouvir e a falar, e a viver na vida sem guerrear com ela. 

5. Amorosidade

É o estado do cuidado. Quando somos amorosos conosco, não nos machucamos nem deixamos que nos machuquem, não oprimimos nem deixamos que nos oprimam, não condenamos nem damos ouvidos a quem nos condena. Compaixão, empatia, perdão e gratidão são as quatro grandes emoções que compõem a amorosidade.   

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