O que fazer para seu filho dormir sozinho no quarto dele (a noite toda, de preferência)

O despertar de madrugada das crianças é uma das queixas mais comuns dos pais; Debora Coghi, mentora familiar e de sono, dá dicas para ajudar a criança a dormir bem

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O que fazer para seu filho dormir sozinho no quarto dele (e a noite toda, de preferência); mãe lê para filho que está sentado em seu colo na cama
Ler livrso antes de dormir ou contar histórias relacionadas à própria vida da criança são maneiras de ajudá-la a se acalmar e fazer o soninho chegar
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Um dos grandes desafios para os pais é ensinar o filho a dormir sozinho em seu quarto. Muitas crianças exigem a presença de um adulto para pegar no sono e há também aquelas que acordam de madrugada reclamando a ausência dos pais. Outra situação comum é quando o filho se acostuma a dormir no quarto dos pais e não aceita a ideia de mudar essa prática, por mais que queiram convencê-lo disso. São situações diversas relacionadas ao sono das crianças de diferentes idades – dos pequenos, com 1 ou 2 anos, aos maiores, com 7, 8 ou 10 anos –, que podem durar meses ou anos e deixam muitos pais estressados e cansados por terem de acordar à noite e por não saberem ao certo como lidar com esse desafio.

Segundo Debora Coghi, mentora familiar e em sono materno-infantil, de Belo Horizonte, há vários fatores que podem levar as crianças a não dormir bem. Entre eles, questões emocionais, medos e pesadelos, doenças e mortes na família – ainda mais em tempos de pandemia, mudanças importantes como a chegada de um irmão, a separação ou um novo casamento do pai ou da mãe. A maneira como a criança reage a essas mudanças pode se refletir no sono e por consequência na sua saúde.

“Uma criança que não dorme bem pode ter muitos prejuízos em seu crescimento e desenvolvimento. Não dormir adequadamente também pode aumentar a ansiedade e até desencadear a obesidade nos pequenos, devido ao aumento das taxas de cortisol no sangue, o hormônio do estado de alerta e do estresse. Isso sem contar a queda no desempenho escolar, crescimento físico e capacidade de lidar com frustrações”, comenta Debora.

Entre as queixas mais habituais dos pais relacionadas ao sono estão os despertares noturnos. “Já trabalhei com famílias com crianças que acordavam 10 a 12 vezes durante a noite. Os pais estavam enlouquecidos. A privação de sono acaba com a harmonia familiar e muitas vezes até com o casamento. Todo mundo estressado, a criança exigindo cada vez mais e os pais se sentindo perdidos diante desse quadro caótico”, relata a mentora.

Debora ressalta que muitos pais também têm dificuldade em dormir, e devem observar se isso se reflete nos filhos. Além disso, existem vários fatores que podem levar crianças a acordarem de madrugada e procurarem por seus pais.

“A princípio, sempre devemos analisar o básico: a boa rotina – e aqui preciso reforçar que uma boa rotina para um adulto não significa uma boa rotina para uma criança – e o ambiente. Detalhes pequenos como o tipo de luz que você usa na sua casa também podem afetar o sono do seu filho”, afirma a especialista. Outro ponto que ela destaca é a necessidade de estabelecer um vínculo de confiança entre a criança, o ambiente e os cuidadores. “A maneira mais eficiente de criar um vínculo é impondo uma mesma rotina todos os dias, ofertando presença de qualidade, acolhimento e usando as histórias ao nosso favor”, diz. Abaixo, Debora detalha uma série de aspectos importantes para os pais ajudarem o filho a dormir sozinho. Confira!


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8 ações para ajudar seu filho a dormir sozinho

Estabelecer um ritmo diário

A falta de rotina é um dos principais fatores que pode ocasionar problemas de sono. Segundo Debora, existe um delicado equilíbrio de fluidez de energia na criança que, em geral, muitos pais e cuidadores desconhecem. “A criança flui por sua natureza em um ritmo semelhante ao da respiração, onde há o inspirar e o expirar, com períodos alternados de concentração e expansão. Na fase de inspiração ou concentração, a criança direciona sua atenção para uma atividade que a relaciona a seu universo interior. São basicamente atividades que envolvem foco e/ou cognição para serem realizadas, como comer, dormir, desenhar e atividades manuais como um todo. Já no período de expiração ou expansão, a criança se relaciona principalmente com o mundo externo. Crianças expandem brincando livremente, correndo, gargalhando e gritando, por exemplo. Para cada período de inspiração, a criança precisa de um período de expiração e assim seu ritmo diário é estabelecido.

Estimular a autonomia

Autonomia nasce na auto-solução da criança. Na capacidade que ela tem em se auto-solucionar diante de situações desafiadoras. Se ela não se resolve em brincadeiras – por exemplo, brinca sozinha – ela não se solucionará em outros pontos, principalmente no sono. Se os pais estão sempre entretendo o filho com soluções prontas para o tédio dele, por meio de tablet e TV, por exemplo, ele pouco evoluirá neste processo saudável de tolerar um pouco de frustração todos os dias, e a frustração é necessária pois fortalece a criança para a vida adulta. “O tédio infantil é o berço da criação. Vale ressaltar que eu escrevi ‘um pouco de frustração’, e não mais frustração do que eles são capazes de tolerar, por exemplo. Quando a frustração é maior do que a tolerância da criança – como por exemplo, ser deixada chorando sozinha por longos períodos em seu quarto escuro – é que nasce o trauma. O resto, é só força que você dá pra ela encarar as situações desfavoráveis da vida”, esclarece Debora.

Criar momentos de vínculo

Se a criança tem momentos de vínculo e presença real dos pais em algum momento do dia, ela será capaz de se separar deles depois, para brincar e se relacionar com o mundo externo, buscando algo para fazer por ela mesma. Essa autonomia também é importante para a hora de dormir, quando o filho se sentirá seguro para dormir sozinho, sem a presença dos pais. “A autonomia no adormecer é um dos pilares mais fortes da qualidade do sono. O processo de construção da autonomia é gradual e precisa ser trabalhado diariamente, construindo confiança com seu filho. Entender seu universo e supri-lo de presença de qualidade é essencial para ajudá-lo a se sentir seguro e capaz de se apartar dos pais na hora de dormir”,  explica Debora.

Dar confiança

A natureza do sono passa pela insegurança e vulnerabilidade do indivíduo. No passado, dormir e perder a consciência por horas representava pôr a vida e mesmo a espécie em risco. “O sono é um estado comportamental reversível de desprendimento e inconsciência, e levando em consideração esta programação ancestral, devemos entender que a natureza do sono, passa – essencial e biologicamente – pela insegurança e vulnerabilidade do indivíduo. Para haver entrega, é necessário um vínculo de confiança inabalável com o ambiente e com os cuidadores”, relata a mentora familiar.

Fazer pequenos rituais

Crianças amam pequenos rituais antes da cama, cheios de vínculo e presença dos pais. A começar com um banho quentinho, se possível, com pouca luz e contato próximo com os cuidadores. Contar histórias, cantar canções tranquilas, fazer carinho – sempre no escuro ou com pouca luz e no próprio quarto de dormir da criança – enchem-na com a presença real dos pais e servem de prepar

ação para a separação que o sono significa. É muito difícil para a criança se apartar da mãe e do pai se ela não sentiu a presença deles realmente. “Mas, se você esteve presente de verdade, então você pode beijar o seu filho, colocá-lo na cama e esperar que seja capaz de dormir sozinho, e isso é saudável para ele”, diz Debora.

Contar histórias sobre a própria criança

“A criança ama ouvir histórias sobre sua própria vida e quando encontramos nossas próprias histórias para contar, acessamos uma ferramenta que nos permite mudar quase todas as situações que estão emperradas em nossa casa, incluindo as questões de ritmo e sono de nossos filhos”, comenta Debora. Contar uma história sobre eles mesmos, com pitadas de fantasia e sem apresentar imagens já criadas – como nos livros figurativos – é uma maneira de ajudar os filhos a encontrar suas próprias imagens interiores e fortalecê-los. “Assim, poderão superar obstáculos naturais da infância, como medos e traumas, viabilizando seus processos de resolução própria, e assim, ajudando-os a se tornarem cada vez mais autoconfiantes”, orienta a especialista.

Usar luzes amarelas

Detalhes pequenos como o tipo de luz usado na casa podem afetar o sono do seu filho. Lâmpadas de LED, apesar de economicamente superiores às incandescentes, emitem luzes brancas possuidoras de espectro azul, vibrações luminosas que não conseguimos enxergar mas que atuam diretamente nas mitocôndrias da nossa retina, inibindo nosso hormônio do sono, a melatonina, que começa a ser produzida ao anoitecer, quando há menor incidência de luz do sol  – o melhor amigo, de fato, de toda mãe.

Nada de luzes brancas, portanto! Luzes brancas são sempre estimulantes. Uma casa precisa de luzes amarelas, que relaxam e auxiliam na chegada do sono. A melatonina é secretada em penumbra de no máximo 5 watts de luminosidade e é ela a responsável pela nossa sonolência e também pela manutenção do sono ao longo da noite.

Nos quartos, o ideal é lançar mão de acessórios de iluminação amarela suave que possam ser utilizados em momentos pré-sono, como na troca de roupa após o banho noturno e no ritual como um todo, favorecendo a secreção da melatonina.

Deixar o quarto escuro

Apesar de algumas luzes não afetarem a produção de melatonina, apenas o escuro total pode proporcionar uma produção completa desse hormônio. Portanto, o lugar ideal para dormir deve ser totalmente escuro, livre de barulhos, confortável e de temperatura agradável.


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