Estresse do isolamento social pode agravar alergias nas crianças

Dermatite atópica é a mais presente nos consultórios; médicos alertam para necessidade de cuidados

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Estresse da pandemia pode agravar alergias nas crianças; menino pequeno coça cotovelo
Lesões avermelhadas na pele que coçam muito e às vezes descamam caracterizam a dermatite atópica que tem afetado muitas crianças na pandemia
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As alergias são reações de defesa do organismo a agentes que, a princípio, são considerados nocivos, como os ácaros presentes na poeira. Mas nem sempre apenas manter a casa limpa é capaz de impedir que elas apareçam ou proliferem. O estresse emocional decorrente da pandemia tem intensificado alergias suscetíveis a esse componente.

A médica Ana Paula Castro, alergista e imunologista da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que tem notado um aumento das alergias nos pequenos pacientes durante a pandemia. “São rinites, devido ao confinamento e à proximidade de seus animais de estimação, além da dificuldade da limpeza da casa, porque pais e mães estão se virando em mil jornadas e nem sempre dá para limpar tudo adequadamente”, conta. “E a dermatite atópica, uma doença que é alérgica mas também tem um componente emocional, tem se mostrado mais descompensada. Fatores emocionais e estresse afetam sim,  principalmente a dermatite atópica, que é uma doença que precisa de muitos cuidados e qualquer sinal de maior estresse – estamos todos mais estressados!  – pode levar a uma piora”.

A pediatra e neonatologista Flávia Regina de Oliveira concorda. “Existe relação de alergia com questões emocionais, inclusive alergias de pele. Estamos vivendo um momento incerto e cada família enfrenta suas próprias batalhas, o que irá repercutir no estado emocional das crianças”, diz.

De acordo com a pediatra especialista em alergias Camilla Pereira, do Plunes Centro Médico, de Curitiba (PR), alguns produtos com os quais as crianças brincam também podem contribuir para as alergias. “Percebemos que com o aumento da permanência dentro de casa as crianças estão mais sensíveis aos alérgenos e itens com os quais têm mais contato – massinhas, slimes, tintas, maquiagem”, diz. “A dermatite de contato também tem sido vista com frequência. Ela se manifesta através de lesões na pele após contato repetitivo com algum produto. Crianças com dermatite podem ter descontrole da doença, já que o estresse pode acentuar as doenças alérgicas, principalmente a dermatite atópica”.


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Mas o que é dermatite atópica?

Este é um dos tipos mais comuns de alergia cutânea. Trata-se de um processo inflamatório crônico que pode estar associado a outras alergias, como rinite. Os sintomas são, geralmente, coceiras e lesões avermelhadas na pele que coçam muito e às vezes descamam. Geralmente elas se localizam na face das crianças pequenas e nas dobras do joelho e cotovelo das crianças maiores e dos adultos.

Não é uma doença contagiosa. Alguns fatores de risco para o desenvolvimento de dermatite atópica podem incluir: alergia a pólen, a mofo, a ácaros ou a animais; contato com materiais ásperos; exposição a irritantes ambientais, fragrâncias ou corantes adicionados a loções ou sabonetes, detergentes e produtos de limpeza em geral; roupas de tecido sintético; baixa umidade do ar, frio intenso, calor e transpiração; infecções e estresse emocional .

Ações que podem ajudar a reduzir as alergias na pandemia

Para o médico José Roberto Zimmerman, alergista e pneumologista da clínica Alergo Ar, do Rio de Janeiro, fatores emocionais decorrentes da pandemia, como a falta de contato físico, têm se mostrado prejudiciais no controle de alergias. A dica é tentar minimizar esses efeitos. “É importante que os pais  ajudem os filhos nas aulas, mesmo à distância, e criem atividades recreativas”, aconselha.

A médica Ana Paula Castro também reforça a dica. “É até um pouco doloroso exigir mais das famílias, além de tudo que elas já têm feito. Mas é importante, além de manter um ambiente fácil de limpar, tentar fazer alguns passeios ao ar livre, que são muito bem-vindos; conversar um pouquinho mais com as crianças, na linguagem delas, sobre a pandemia, mostrar o que está acontecendo, e entender que cada criança pode reagir de um jeito. São estratégias para ajudar”.

Dicas para promover o bem-estar da família

  • Tentar minimizar o estresse das aulas online ajudando os filhos sempre que possível
  • Pensar em brincadeiras e atividades recreativas, ainda que curtas, para descontrair o ambiente
  • Fazer passeios ao ar livre (nem que seja uma volta no quarteirão)
  • Conversar com as crianças sobre a pandemia, em linguagem que possam entender

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Limpeza da casa

A alergista pediatra Pilar Blanco complementa que para ajudar na prevenção de quadros alérgicos, também é importante atentar para a higienização do ambiente. A seguir veja dicas que a médica deu em reportagem publicada na Canguru News no ano passado:

  • Limpar a casa com pano úmido todos os dias, iniciando pelos móveis e posteriormente o chão – caso a pessoa queira usar aspirador de pó, o aparelho deve seguir algumas exigências, como possuir filtro de água ou filtro chamado HEPA (filtros capazes de reter os alérgenos, que são muito pequenos);
  • Utilizar capas antialérgicas em colchões e travesseiros;
  • Lavar cortinas, tapetes, almofadas e mantas a cada 15 dias;
  • Guardar brinquedos e livros em caixas plásticas organizadoras vedadas;
  • Trocar a roupa de cama toda semana;
  • Manter portas e janelas abertas para a ventilação do ambiente e evitar o acúmulo de mofo nos cômodos.

 


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