Com a volta às aulas, pais, educadores e alunos devem ficar atentos aos riscos do ambiente online. Seja nas redes sociais, seja em grupos de WhatsApp, crianças e adolescentes estão cada vez mais expostos a práticas de cyberbullying e outras situações violentas e abusivas.
Para ajudar a promover o uso seguro e responsável da internet, foi lançado em janeiro deste ano o “Guia para Influenciadores e Comunicadores: Como apoiar a proteção de crianças e adolescentes online?“, desenvolvido pela ONG de educação midiática Redes Cordiais, em parceria com o ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade Independente e sem fins lucrativos).
O guia convida influenciadores digitais a se tornarem aliados na proteção de crianças e adolescentes no ambiente virtual, e chega em um momento estratégico — o início do ano letivo, período em que os jovens passaram mais tempo conectados. A ideia é que os influenciadores orientem e conscientizem pais e responsáveis sobre práticas de segurança digital.
Segundo a pesquisa TIC Kids Online 2024, 42% das crianças e adolescentes já presenciaram discriminação online e 29% relataram ter sido vítimas de situações ofensivas ou perturbadoras. O estudo também mostrou que apenas 31% das crianças e adolescentes buscam o apoio dos pais ou responsáveis quando se encontram em situações difíceis no ambiente digital.
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Por isso o guia também aborda a mediação parental, que consiste em adotar estratégias para uma navegação mais segura. Isso inclui o uso de ferramentas digitais que permitem acompanhar o consumo de conteúdo, restringir páginas impróprias, limitar o tempo de uso e até monitorar a localização dos dispositivos das crianças e adolescentes.
“Na mediação parental, o diálogo entre responsáveis e jovens é essencial para que essas medidas sejam percebidas como proteção, e não como controle ou invasão de privacidade”, afirma Clara Becker, cofundadora e diretora-executiva do Redes Cordiais.
Uso do guia no contexto do “brain rot”
Em dezembro do ano passado, o Dicionário de Oxford anunciou “brain rot” como a “palavra do ano” em 2024. O termo pode ser traduzido como “decomposição ou apodrecimento do cérebro” e se refere aos efeitos do consumo excessivo de conteúdo online considerado superficial ou pouco desafiador. “O debate sobre o impacto desse fenômeno reforça a necessidade de iniciativas como o guia”, comenta Ana d’Angelo, diretora de comunicação estratégica do Redes Cordiais. “Os influenciadores têm um papel estratégico na criação de ambientes digitais mais seguros. Ao engajá-los, multiplicamos o impacto dessa conscientização e ajudamos a prevenir situações de risco”, completa.
O guia alerta ainda sobre outras questões emergentes, como o aumento do consumo direcionado por anúncios nas redes sociais e a exposição a padrões irreais de consumo, que afetam diretamente o público infantojuvenil. Segundo pesquisa do Instituto Alana, 87% dos entrevistados acreditam que as propagandas nas redes incentivam o consumo excessivo entre crianças e adolescentes.
“Promover a segurança digital vai além de proteger os mais jovens contra ataques diretos. É sobre garantir que o ambiente digital fomente um desenvolvimento saudável das nossas crianças e adolescentes, livre de experiências que possam impactar negativamente sua saúde mental”, afirma Celina Bottino, Diretora de Projetos do ITS Rio.
O “Guia para Influenciadores e Comunicadores: como apoiar a proteção de crianças e adolescentes online?” faz parte da ação “Redes de Proteção”, iniciada em novembro de 2024 com uma visita de 25 influenciadores que dialogam com o público infanto-juvenil à Secretaria de Direitos Digitais do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Entre os influenciadores que participaram da criação do guia estão psicólogos como Cecília Dassi e Márcia Tosin; Fernando Fernandes, do Instituto de Psiquiatria da USP; a jornalista, escritora e educomunicadora Januária Alves; a educadora parental Lua Barros; Mariana Fulfaro, do canal de vídeos educativos Manual do Mundo e Sheylli Caleff, que atua na erradicação da violência sexual e online, entre vários outros produtores de conteúdo digital.