Consultas virtuais com o pediatra vão continuar no pós-covid?

Aprovada na pandemia em caráter emergencial, prática da telemedicina deve permanecer, mas com ressalvas

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A telemedicina ou consulta por videochamada foi um recurso muito usado durante a pandemia, inclusive pelo pediatra. Com o afrouxamento das medidas de restrição, os especialistas acreditam que essa prática continuará sendo utilizada, mas com algumas ressalvas. Aprovadas pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), as teleconsultas exigem cuidados adicionais dos médicos na relação com o paciente, a ética e a responsabilidade. Para a SBP, a pediatria merece um cuidado ainda maior devido à dificuldade de expressão das crianças e a primeira consulta, se possível com o pediatra, deve ser sempre presencial.

A telemedicina foi autorizada pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Ministério da Saúde, e regulada no Brasil pela lei 13.989 em abril de 2020, em caráter emergencial. No dia 18 agosto deste ano, foi publicada no Diário Oficial da União nova resolução do CFM com o objetivo de garantir que a telemedicina seja um facilitador para os pacientes, oferecendo acesso e qualidade no atendimento sem substituir a figura presencial do médico. 

O pediatra Fábio Guerra, diretor de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz que a telemedicina é vista como uma evolução do processo de atendimento, mas não deve substituir a consulta presencial, especialmente em se tratando de pediatria. ”A proximidade e o exame físico são essenciais para o pediatra, por isso é preciso estabelecer uma relação de equilíbrio entre as consultas presenciais e as teleconsultas”, esclarece o médico.

Fábio Guerra explica que a pandemia acelerou a implementação definitiva. Segundo o médico, o recurso trouxe vários benefícios e vai continuar sendo aplicado na pediatria. Porém, observa, o médico deve estar ciente que a sua responsabilidade permanece a mesma. ”A telemedicina facilita o acesso, o contato, pode otimizar o tempo e reduzir distâncias. Mas é importante destacar que o médico que opta pela telemedicina precisa tomar os mesmos cuidados do atendimento presencial.” 

A importância dos vínculos e do exame físico

Guerra destaca também que ”o pediatra é o primeiro médico do ser humano e vai acompanhar a criança por um longo período da sua vida”. O médico, acrescenta, deve construir uma boa relação com o paciente e criar vínculos afetivos. 

“Entendemos que os vínculos podem ser mantidos com a telemedicina, mas alguns atendimentos e principalmente o primeiro deve ser presencial. A relação da criança é diferente, muitas vezes ela não consegue expor o que está sentindo, se manifestar, comunicar e além disso o exame físico é primordial para que o médico possa fazer uma avaliação correta do paciente. Não só para garantir segurança ao atendimento, mas também para ajudar na formação da relação entre as partes”, explica.

Ferramenta do atendimento à distância foi consolidada, diz médico

O médico Felipe Folco, diretor da Cia da Consulta, uma rede de atendimento online e presencial com diferentes especialidades médicas, percebeu um aumento nos agendamentos de consultas pediátricas no último ano e prevê que o fenômeno deve crescer ainda mais. 

”A possibilidade do atendimento a distância já se consolidou como uma ferramenta importante para garantir o seguimento dos pacientes. Ainda assim, é importante ressaltar que essa é uma ferramenta complementar que facilita os cuidados com saúde, e deve ser utilizada em complemento às avaliações presenciais.” 

Folco avalia que o recurso facilita a vida dos pais e tem se tornado natural para muitas crianças. ”A pediatria online auxilia muitos pais a resolverem questões de saúde, ou tirar dúvidas que eventualmente surgem. Nesses casos, a telemedicina aproxima os pais dos pediatras, facilita o acesso para orientações e permite que o pediatra avalie a necessidade de um atendimento presencial no momento. As questões relacionadas a alimentação, vacinação, hábitos e desenvolvimento podem ser abordadas em consultas por telemedicina tranquilamente, complementando uma consulta presencial. Para as crianças, as interfaces digitais são até mais habituais que para os adultos, então vemos uma boa aceitação e interação dos pequenos com os médicos”, conta. 

Pais querem aliar telemedicina a atendimento presencial com o pediatra

Cecília e a filha Catarina

A jornalista Cecília Mazieiro passou a agendar teleconsultas para sua filha Catarina, de dois anos, durante a pandemia. O objetivo era reduzir a probabilidade de contágio pelo coronavírus e obedecer à recomendação de ficar em casa. ”Foi tranquilo, eu tive algumas dificuldades como a questão do peso e das medidas, mas ela reagiu bem. Como a Catarina já conhecia a pediatra, ficou mais fácil. Eram consultas de rotina e não houve nada que necessitasse do contato direto com o médico”, conta. 

Cecília pretende continuar usando o recurso depois que a pandemia acabar para dicas e orientações, mas acha que em alguns casos a consulta presencial é necessária. ”Eu faço consultas médicas à distância e acho ótimo, mas minha filha é muito nova e ainda não sabe se expressar. Por isso prefiro aliar a teleconsulta ao atendimento presencial”, explica.

Gabriela, o marido e os três filhos – Júlia, Bernardo e Lucas

A bióloga e consultora em aleitamento materno Gabriela Prates é mãe de três filhos (Júlia, Bernardo e Lucas) de 7, 8 e 10 anos. Durante a pandemia, optou pela telemedicina tanto para ela quanto para os filhos. 

”Acho que o fato de ser uma profissional da saúde ajudou muito. Existem casos em que a consulta presencial é essencial e outros podem ser resolvidos à distância. Nos casos das consultas pediátricas de rotina, quando já conhecemos o pediatra a teleconsulta resolve super bem.” 

Gabriela Prates pretende continuar usando a telemedicina para as consultas dos seus filhos. ”Eu mesma faço consultas com os meus pacientes por videoconferência. Acho que a tecnologia usada durante a pandemia veio para ficar e melhorar a vida de todos, otimizando o nosso tempo sem perder a qualidade. Porém, existem casos em que a consulta presencial ainda é necessária”, relata.

O risco das variantes

Outro ponto importante para ser avaliado é o risco de contágio da variante Delta, pois mesmo com as vacinas sendo aplicadas na população a nova variante é muito mais transmissível e deve continuar causando estragos. 

No Brasil, até hoje, pouco mais de 40% da população recebeu as duas doses da vacina e ainda não há autorização da Anvisa para nenhuma vacina emergencial em crianças abaixo de 12 anos. 

Depois de idas e vindas, o Ministério da Saúde voltou a recomendar a vacinação dos adolescentes acima de 12 anos no último dia 22. 

”A telemedicina é importante não apenas nesse período, mas também no pós-pandemia, porque alguns pacientes possuem melhor acesso a consultas com o atendimento online”, conclui o médico Felipe Folco.


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