Os 5 Rs da parentalidade para criar bons humanos

Psicóloga do desenvolvimento americana lança obra em que propõe cinco estratégias para se reparar e ajudar os filhos a construir a resiliência de que necessitam para prosperar

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Psicóloga americana Aliza Pressman, autora do livro Os 5 princípios da parentalidade
Psicóloga americana Aliza Pressman, autora do livro Os 5 princípios da parentalidade
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Não existe parentalidade perfeita. Como pais, não precisamos ser perfeitos. Apesar da grande pressão para que façamos tudo “certo” com os filhos, a ciência mostra que a jornada de aprendizado dos próprios pais é a chave para todo o processo de criação de bons seres humanos. É o que defende a psicóloga de desenvolvimento americana Aliza Pressman, que lançou em janeiro o livro The 5 Principles of Parenting: Your Essential Guide to Raising Good Humans (Os 5 princípios da parentalidade: seu guia essencial para criar bons humanos, em tradução livre).

A obra chegou a figurar na lista de best-sellers do jornal The New York Times logo nas primeiras semanas após seu lançamento, e serve de alerta aos pais perfeccionistas que, influenciados pelo excesso de informações e fórmulas mágicas disponíveis sobre como educar as crianças, se enchem de cobranças, julgamentos e críticas exageradas. Na contramão da perfeição, o livro traz estratégias baseadas em conhecimento científico que todos os pais podem usar para aplicar a cenários comuns com os filhos. Os cinco Rs se referem a: Relacionamento, Reflexão, Regulamentação, Regras e Reparação. 

“Quando nos concentramos em nossos relacionamentos com nossas famílias, quando reservamos tempo para a regulação e reflexão, quando temos clareza sobre regras, e quando criamos o hábito de reparar depois dos erros, encontramos um espaço entre microgerenciamento e caos”, diz a especialista, mãe de dois adolescentes e cofundadora do Mount Sinai Parenting Center, em Nova Iorque.

Pressman atua há quase duas décadas com famílias e profissionais de saúde e é conhecida nos Estados Unidos pela apresentação do podcast Raising Good Human (Criando bons humanos). Na nova obra, ela diz que a proposta não é trazer um jeito certo e único de educar, mas sim traçar caminhos que estejam alinhados com os valores de cada família e os temperamentos de cada criança. “Esteja você nas trincheiras com uma criança pequena ou adolescente (alerta de spoiler: os acessos de raiva da infância refletem os acessos de raiva da adolescência) nunca é tarde para aprender a usar esses cinco princípios para se reparar e ajudar seus filhos a construir o resiliência de que necessitam para prosperar”, diz a sinopse do livro. 

“Os filhos certamente enfrentarão dificuldades e o nosso trabalho não é protegê-los, mas sim mostrar-lhes como lidar com isso” complementa a autora. Abaixo, veja um resumo dos cinco Rs, baseado em informações do site da Aliza Pressman e na entrevista que ela deu para o site CNBC

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1. Relacionamentos  

“Lembre-se de que um pai perfeito não é um presente para os filhos, é um fardo. Imagine se uma pessoa que você considerava a personificação da idade adulta se apresentasse como perfeita. Como você aceitou seu eu imperfeito ao perceber que nunca poderia viver de acordo com esse padrão?”, pergunta a autora. Ela recorda frase do famoso pediatra Donald Winnicott para mostrar a importância da imperfeição: “Prefiro ser filho de uma mãe que tem todos os conflitos internos do ser humano do que ser criado por alguém para quem tudo é fácil e tranquilo, que sabe todas as respostas e é um estranho à dúvida”.

Segundo Pressman, relacionamentos fortes podem ajudar a criança a sentir que pode lidar com as adversidades. Porque todas as crianças passarão por estresse – e nem todo estresse é ruim. Existem três tipos de estresse que a psicóloga aborda em seu livro: 

  • Estresse positivo: pode ser semelhante à excitação, como um frio na barriga antes do primeiro dia de aula, e é bom para o desenvolvimento. 
  • Estresse tolerável: ocorre quando uma criança passa por algo mais grave, como perder um ente querido, e pode ser melhor gerenciado se tiver pelo menos um bom relacionamento com um cuidador. 
  • Estresse tóxico: Esta é uma resposta forte à adversidade prolongada, como ver violência ou enfrentar dificuldades econômicas persistentes. O estresse tóxico ocorre na ausência de relações protetoras.  

“Ter um cuidador com quem você se sente seguro e conectado pode mudar a categoria de estresse de tóxico para tolerável”, diz ela.  

2. Reflexão  

A maioria dos pais não tem 20 minutos para meditar todas as manhãs. Tudo bem, diz a autora. O principal é poder encontrar momentos ao longo do dia para fazer micromeditações. Refletir ajuda a ter uma visão panorâmica do que os pais e seus filhos precisam e pode levá-los a ter respostas mais comedidas, em vez de respostas automáticas.  

Pequenas meditações, mesmo que sejam apenas durante a caminhada diária até a caixa de correio, podem ajudar a agir com intenção. “As crianças perceberão como você se autorregula e é mais provável que espelhem esse temperamento”, afirma Pressman.  

Convencer as crianças, especialmente as mais novas, a meditar é um desafio. Mas vale criar pequenos momentos de quietude que também podem ajudá-las a aprender a se autorregular. E eles não precisam parecer uma tarefa árdua. 

“Costumávamos fazer isso com nossos filhos mais novos, onde todo mundo tinha um Skittle (bala de frutas) e você colocava na boca e ficava em silêncio enquanto comia”, relata Pressman. “Isso apenas deixa você mais regulamentado porque você teve aquele momento de pausa. Nem tudo precisa ser sobre coisas profundas.”  

3. Regulação  

A psicóloga explica que as crianças “pegam emprestado o nosso sistema nervoso”, portanto, esteja você gerenciando ou não seu comportamento, seus filhos seguirão seu exemplo. Ela diz que a regulação é um grande fator de resiliência porque ensina as crianças a responder ao desconforto de uma forma calma, independentemente da dimensão dos seus sentimentos. Para tanto, sugere ajudar os filhos a se autorregularem, corregulando-os. Isso significa abordá-los com uma atitude calma, lembrando-lhes de respirar e expressando que, embora os seus sentimentos sejam válidos, as suas ações precisam permanecer adequadas ao ambiente. “Contanto que eles não estejam sendo perseguidos por um urso, você pode fazer uma pausa e decidir como deseja responder”, diz. “E ao fazer isso você está exercitando seus músculos de autorregulação.”  

4. Regras  

Pressman classifica as regras em duas categorias:  

  • Limites internos: restrições que alguém tem para si mesmo. 
  • Limites apropriados: deixa claras as expectativas em relação ao comportamento dos filhos.   

Aplicar ambos pode ajudar as crianças a se sentirem seguras.  

“Se tivermos regras claras e consistentes, e elas fizerem sentido, nossos filhos saberão o que se espera deles e não precisarão estar em alerta máximo para receber sugestões o tempo todo”, diz ela.  

E se estabelecermos limites com amigos ou familiares, as crianças se sentirão encorajadas a fazer o mesmo. 

5. Reparação  

Isso não se refere a consertar erros, mas sim a reforçar a importância do relacionamento.  

Os relacionamentos podem suportar uma quantidade impressionante de tensão, mas somente se você restaurar um sentimento de confiança e união em seus filhos após a ocorrência do acidente.  

Você pode fazer reparos mostrando empatia, amor e curiosidade a seus filhos. Por exemplo, se eles estivessem contando sobre o dia deles na escola, mas você estivesse ocupado respondendo e-mails, eles poderiam se sentir dispensados e agir mal. Em vez de ignorar a ocorrência, você pode pedir desculpas por ter se distraído, mas que adoraria saber como foi o dia deles agora.  

Os “Cinco R” não são passos cronológicos, diz Pressman.  

Por exemplo, os pais podem impor uma regra e depois refletir sobre como essa regra está servindo a eles e aos seus filhos.  

O objetivo não é fazer seu filho feliz, mas fortalecer o relacionamento entre vocês dois. Se se sentirem cuidados, é mais provável que se recuperem de quaisquer perturbações que encontrem ao longo da vida, pontua a especialista. 

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