O impacto da Covid-19 na vida das crianças brasileiras

Estudo da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com Unicef e Itaú Social, identifica impactos da pandemia na saúde, aspectos socioeconômicos e educacionais das crianças brasileiras de 0 a 6 anos

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Dois meninos correm em área externa de vila de casas simples
Buscador de educadores parentais
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A vida de crianças de todo o Brasil foi profundamente impactada pela pandemia da Covid-19. Aspectos como insegurança alimentar, aumento na mortalidade materna e queda de matrículas na educação infantil se agravaram muito nos últimos dois anos. Os dados são da pesquisa “Desigualdades e impactos da covid-19 na atenção à primeira infância”, lançada nesta quarta-feira (21) pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Itaú Social e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O estudo teve como objetivo identificar os principais desafios pós-pandemia em três áreas principais: educação, saúde e aspectos socioeconômicos das crianças do país.

As análises mostram os efeitos da pandemia e escancaram desigualdades regionais, de cor/raça e de aspectos sociais e econômicos na atenção à primeira infância. Segundo a Fundação, o levantamento permite ao gestor público obter um diagnóstico que o auxilie na priorização e no planejamento das políticas públicas. “Neste momento, o compromisso de todos deve ser o de minimizar danos, restabelecer direitos e prioridades para a primeira infância”, afirma a entidade. 

A primeira infância compreende os primeiros 5 anos de vida da criança, fase em que o cérebro se desenvolve de maneira intensa. Os estímulos e interações nesse período são determinantes para o desenvolvimento saudável e o sucesso da criança na vida adulta.  

Mais de um terço da vida dessas crianças se passou no período pandêmico, com consequências diretas e indiretas no desenvolvimento infantil, relata o levantamento, que trouxe dados preocupantes. Veja a seguir alguns deles, conforme detalhado em reportagem do Nexo Jornal

Saúde

O estudo mostrou que, no âmbito da saúde, houve uma queda nas consultas pré-natal das mães e dos parceiros antes do nascimento das crianças em decorrência da pandemia. Os partos por cesárea – mais agressivos para o corpo da mulher – também aumentaram.

57,2% dos partos feitos em 2020 e 2021 foram por cesárea

10 a 15% é a taxa ideal de partos por cesárea recomendados pela comunidade médica

“O Brasil tem historicamente altas taxas de cesárea e a pandemia pode ter contribuído para uma piora deste indicador”, conclui o estudo. “A OMS [Organização Mundial da Saúde] tem se posicionado de forma clara em relação à cesárea, situando-a como intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém apenas quando indicada por motivos médicos. Especialmente em locais sem capacidade de realizar cirurgias de forma segura, as cesarianas podem causar complicações significativas, como sequelas ou mortes.”

A pesquisa também indicou que a pandemia intensificou o aumento dos índices de mortalidade materna (durante a gestação ou até 42 dias após o parto devido a causa relacionada ou agravada pela gravidez).

89,3% foi o aumento da mortalidade materna entre 2019 e 2021

53,4% dos óbitos maternos de 2021 foram causados pela covid-19

“Do ponto de vista regional, em 2021, a taxa calculada registrou seu maior nível na região Norte (158,9 óbitos/100 mil nascidos) e o menor na região Nordeste (99,6 óbitos/100 mil nascidos vivos).”

Educação

“As crianças praticaram menos atividades físicas, interagiram e brincaram menos, ficaram mais tempo diante das telas e aprenderam menos”, diz a abertura do capítulo do estudo sobre educação.

2,8 pontos percentuais foi a queda na taxa de matrículas em creches no Brasil entre 2019 e 2021

O Paraná foi o estado com a maior queda: 4,9 pontos percentuais. Foi seguido do Mato Grosso do Sul (4,8); Minas Gerais (4,6); Rio Grande do Sul (4,3) e Rio de Janeiro (4,2).

A queda foi maior na rede privada do que no sistema público de educação. Segundo o estudo, a discrepância tem relação com a crise econômica que o país tem sofrido de forma mais intensa desde 2020.

Além disso, a pesquisa afirma que há prejuízos para a transição da educação infantil para o ensino fundamental, já que “muitas crianças estão ingressando no ensino fundamental sem terem vivido adequadamente as experiências da educação infantil.”

Aspectos socioeconômicos

A pesquisa mostrou que os índices de insegurança alimentar infantil aumentaram em decorrência da pandemia.

A insegurança alimentar é caracterizada quando alguém não tem acesso pleno e permanente aos alimentos, ingerindo menos calorias e nutrientes do que o necessário – seja pela falta de comida, seja pela substituição de alimentos ricos em ultraprocessados mais baratos e menos nutritivos.

O estudo mostrou que o número de crianças de 0 a 5 anos com peso baixo diminuiu. Por outro lado, o número de crianças com peso muito baixo aumentou. A variação de ambos foi na casa dos décimos percentuais, mas já mostrou que o problema está longe de ser resolvido.

“Há evidências de que a pandemia aumentou em 54,5% a proporção de crianças muito abaixo do peso (aumento de 0,6 ponto percentual, de 1,1% para 1,7%)”, diz o estudo.

128 mil é o número de crianças que estão muito abaixo do peso no país

196 mil é o número de crianças com peso baixo no país

Caminhos a seguir

“A realidade desalentadora que os dados expressam no impacto negativo à primeira infância brasileira não precisa, não pode e não deve ter efeito paralisante sobre aqueles que detêm poder e competência para recusá-la”, destaca a investigação. 

Os cenários descobertos pelo estudo são preocupantes, mas podem ser revertidos a partir da articulação de gestores públicos e da sociedade civil.

A orientação da pesquisa é que, “independentemente da inclinação política de cada governante, está nas mãos dos gestores dos três entes federativos – União, estados e municípios – a responsabilidade de devolver com urgência às crianças pequenas o direito inegável de viver com dignidade seu tempo presente, assim como de se desenvolver plenamente agora e para a vida adulta.”

Ao governo federal cabe, sobretudo, orientar e coordenar as políticas públicas da primeira infância, além de garantir o financiamento delas a partir do diálogo entre Legislativo e Executivo.

Em âmbito estadual, a pesquisa afirma ser papel dos governadores e seus secretários seguir reforçando políticas de auxílio e de atenção especializada que foram implementadas nos períodos mais difíceis da pandemia, e que o mesmo deve ser feito na esfera municipal.

“O momento pede esforços coordenados que contemplem a integralidade da criança e a urgência de atendê-la em suas múltiplas dimensões, convocando os gestores públicos para uma ação menos fragmentada e mais estruturada”, destaca a pesquisa.

Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.

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