Nas escolas, faltam brinquedos, livros e narrativas literárias que valorizem a presença de bebês e crianças negros, indígenas, bolivianos e de outras nacionalidades. Além disso, as mediações são muitas vezes excludentes e racistas, contribuindo para um silenciamento por parte dessas crianças. As afirmações são da educadora, pesquisadora e doutora em educação e relações étnico-raciais Jussara Santos, e constam no livro Democratização do colo: Educação antirracista para e com bebês e crianças pequenas, da Papirus Editora.
Segundo Jussara, a criança negra costuma receber menos abraços e colo do que a criança branca. E ao se acostumar com o abandono em sala de aula, é taxada de introspectiva.
A educadora diz que essa distinção entre brancos e negros, prática comum no ambiente escolar, a levou a reunir vivências, pesquisas e relatos na obra, com o intuito de convidar a sociedade a refletir sobre infância e racismo com coragem, compromisso e honestidade.

Jussara apresenta na obra subsídios para que o preconceito na rotina infantil não passe despercebido, e apresenta possibilidades à identificação e ao manejo das situações de discriminação. Ela analisa a seletividade de quais corpos ganharão ou não o colo desejado em diferentes momentos. Aborda, ainda, os conceitos de raça, racismo, branquitude e como esses se apresentam nas relações entre bebês, crianças e adultos envolvidos nos processos de educação e cuidados.
Fruto de 20 anos de atuação de Jussara Santos na educação básica, o livro evidencia que a implementação de uma educação antirracista requer compromisso institucional e pedagógico que vá além de políticas superficiais.
A ideia é promover uma transformação estrutural e cultural nas instituições educativas. Para isso, é essencial potencializar o sentimento de pertença e segurança nas relações estabelecidas entre adultos, bebês e crianças pequenas.
Em “Democratização do colo”, a autora propõe a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e equitativa. Isso implica que a educação antirracista se constitua elemento basilar para as práticas pedagógicas nas instituições de educação infantil.
“A obra é um manifesto para que bebês e crianças negros, indígenas e todos aqueles que são racializados existam no planejamento, na organização dos espaços, nos brinquedos, nas fantasias, nas obras literárias e, sobretudo, nos braços que acolhem, protegem e acariciam”, sugere a autora.