Letalidade da covid-19 em gestantes e puérperas no Brasil dobra em 2021

Números atualizados divulgados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) mostram um aumento de 217% nos óbitos maternos neste ano, em comparação a 2020; obstetra explica o cenário de explosão nos números

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Sobe a letalidade da Covid-19 em gestantes e puérperas; mulher grávida na cama assoando o nariz
Grávidas e puérperas requerem cuidados especiais em relação à Covid-19, pois passam por mudanças fisiológicas que aumentam os riscos de formas graves da doença.
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Desde o início da pandemia, já foram contabilizadas 1.923 gestantes e puérperas mortas pela Covid-19. Dentre os óbitos, 1.462 ocorreram em 2021, ou seja, 217% a mais do que em 2020. Os números foram divulgados, na semana passada, pelo Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) a partir da atualização de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 para a população de gestantes e puérperas e para a população infantil de até 2 anos.

“Como, inicialmente, gestantes e puérperas não foram consideradas grupos de risco para Covid-19, pouca atenção e cuidado foi direcionado a este grupo de pacientes. Com isso, elas ficaram mais propensas a adquirir a doença. Com a mutação do vírus e surgimento de novas cepas de maior gravidade/letalidade, a doença também se tornou mais grave entre elas”, explica Cristiane de Freitas Paganoti, Médica Obstetra em Gestações de Alto Risco e participante dos braços COVID-19 e Qualidados do Observatório Obstétrico Brasileiro. “Gestantes têm modificações fisiológicas próprias do período que as tornam de maior risco para evoluir para formas mais graves da doença”, completa. 

A especialista ressalta que também é necessário considerar que esses casos referem-se apenas a quadros graves, cuja notificação é obrigatória. “Quando melhoramos a qualidade da informação obtida e notificamos mais, os dados a respeito de letalidade também tendem a aumentar.”

Sobe a letalidade da Covid-19 em gestantes e puérperas
Cristiane de Freitas Paganoti, Médica Obstetra em Gestações de Alto Risco e participante dos braços COVID-19 e Qualidados do Observatório Obstétrico Brasileiro.

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Casos graves

De acordo com os dados do OOBr covid-19, entre março de 2020 até a última atualização, são 18.463 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave confirmados por covid e 1.923 óbitos (11,7% dos casos finalizados). Isso sem contar outros 13.832 de registros com 367 mortes entre gestantes e puérperas com SRAG não especificada, que podem ser também episódios de SARS-covid-19. Em 2020, a letalidade da doença em casos graves era de 7,3%, saltando para 14,4% em 2021.

Camila aponta que, ao evoluir com quadros mais graves da doença, a exemplo da Síndrome Respiratória Aguda Grave, gestantes podem apresentar maior chance para desfechos gestacionais ruins, como abortamento, sofrimento fetal e óbitos fetal e materno.

“Aquelas que sobrevivem, podem vir a apresentar internação prolongada em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), podendo aumentar a chance de outras infecções, fenômenos trombóticos, complicações neurológicas e renais, bem como necessidade de reabilitação física, motora e respiratória”, explica a obstetra. Após a alta hospitalar, esse contexto demanda um cuidado intenso e importante para essas grávidas. Entretanto, Camila diz que, a longo prazo, as sequelas da covid-19 nessas mulheres ainda não podem ser completamente previstas.

“Somente o tempo e o entendimento da doença e suas complicações em longo prazo nos dirão quais serão as sequelas de um caso grave hoje. Tanto físicas, como emocionais.”

Covid em crianças até 1.000 dias: queda em relação a 2020

Além de registros do aumento da letalidade em gestantes e puérperas, novos dados também foram divulgados em relação aos casos de covid-19 em crianças até 1.000 dias. Esse período corresponde aos 270 dias de gestação até os primeiros 2 anos (730 dias) de vida, no qual é preciso uma atenção especial com a saúde do bebê. Esse é o intervalo de ouro que determina todo o futuro da criança no âmbito biológico, relacionado ao crescimento e desenvolvimento, assim como no intelectual e social.

Ao considerar todos os casos de SRAG nesse público infantil, foram 33.462 registros e 1.725 mortes em 2020. Neste ano, já são 54.753 casos e 1.406 óbitos, uma queda em relação às mortes do ano passado.

Em 2019, período anterior à pandemia, foram 19.142 casos de SRAG e 576 mortes nessa faixa etária. Um destaque dos dados obtidos pelo Observatório é a alta concentração de mortes nos primeiros meses de vida do bebê: 56% delas estão concentradas até o terceiro mês, o que corresponde a 545 óbitos.

Variante delta

Apesar de ter se mostrado mais transmissível do que a cepa original do coronavírus, Camila Paganoti ressalta que a variante delta não muda sua letalidade ao infectar gestantes ou puérperas. 

“A grande questão é que esses dois grupos de pacientes, sobretudo as gestantes, são mais propensas a evoluir de forma mais rápida e de maior gravidade quando apresentam alguma infecção respiratória devido às modificações fisiológicas que ocorrem no período gravídico.” 

“Essas modificações próprias da gravidez tornam essas mulheres mais susceptíveis às formas mais graves da doença, a exemplo do que ocorreu com a epidemia de H1N1 em 2009, em que a população obstétrica foi considerada de alto risco e sofreu muito com a epidemia”, explica. 

Máscaras, distanciamento e vacinação

Camila Paganoti ressalta que, para se protegerem da Covid-19, é essencial que as gestantes e puérperas continuem seguindo as recomendações gerais de distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos, além de evitar aglomerações. “Além disso, manter rotina e cuidados habituais do seguimento pré-natal e avaliação cuidadosa em atendimento de pronto-socorro por sintomas gripais, para que os profissionais de saúde que prestam atendimento estejam atentos aos sinais de piora ou evolução para formas graves da doença”, completa.

No atual cenário da pandemia, a vacinação também é protagonista no combate ao vírus, e merece atenção especial. Segundo a obstetra, é importante que as gestantes e puérperas sejam orientadas e tranquilizadas quanto à segurança e ao benefício da vacinação, para que sejam estimuladas a realizá-la.

“A vacinação será uma das medidas mais valiosas, aliada aos cuidados gerais, para a redução da mortalidade nesse grupo, como já demonstrado pelos dados divulgados pelo OOBr, em que grávidas com 2 doses da vacina apresentaram menor taxa de mortalidade quando comparado às não vacinadas.”


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