Será que você é negligente com seus filhos?

A neuropsicóloga Iara Mastine explica as características e as consequências para os filhos desse estilo parental mais ausente, e dá orientações do que fazer para mudar comportamentos e estreitar vínculos em família

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Pai olha para celular e ignora filha que tenta falar com ele
Os pais negligentes são aqueles que não falam sobre suas necessidades e não contam suas vivências, relata Iara
Buscador de educadores parentais
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As diferentes formas de educar os filhos e as estratégias utilizadas pelos pais definem o seu estilo parental. Há desde os pais autoritários, que querem que as crianças sigam suas regras e sejam como eles, aos permissivos, que não possuem regras nem exemplos, os autoritativos (ou participativos), que estabelecem regras, mas incentivam o diálogo, e os negligentes, que não se envolvem com seu papel de pais. Dentre todos esses estilos, a parentalidade negligente é uma das mais comuns e perigosas, principalmente com filhos adolescentes, na opinião da psicóloga e neuropsicóloga infantojuvenil Iara Mastine. “O pai negligente é um pai permissivo, que está negligenciando o seu olhar, a sua conduta, e também o olhar e a conduta do filho, são os pais mais ausentes”, explica Iara.

Ela acrescenta que os pais negligentes são aqueles que não falam sobre suas necessidades, não contam suas vivências – o que o pai fez com sua primeira namorada, como a mãe lidou com determinada frustração – relatos esses que são muito benéficos para o relacionamento. “A criança ou adolescente cresce sem um exemplo, se sente não pertencente, como se não fizesse parte da família, não se sente ouvido, e os pais acabam abrindo mão de ser exemplo, de trazer uma reflexão, um olhar mais afetuoso”, destaca a psicóloga.

E não se trata de falta de amor: “a gente verifica que existe muito amor entre os membros, mas a falta de comunicação e de estratégias, acaba trazendo esse perigo para essa família desunida, o que pode gerar depressão e doenças psicossomáticas, é muito perigoso, pode inclusive levar ao suicídio”, alerta. Estudos já mostraram, por exemplo, que filhos de pais com estilo negligente e ou autoritário apresentam maior nível de ansiedade e depressão, que podem afetar na sua escolha profissional.

Ela diz que hoje os pais têm mais dificuldade de perceber negligentes, devido ao imediatismo, ao “tudo pra agora” e à necessidade do automático que a sociedade vive, o que dificulta a autopercepção não só desse, mas de qualquer estilo parental. “Alguns acham que estão dando espaço para os filhos, estão deixando eles agirem naturalmente, mas as crianças precisam de orientação, de um modelo”, comenta a psicóloga. Ela dá como exemplo a mãe que não quer fazer algo mas acaba fazendo. “Qual modelo ela está sendo para a criança? Estou negligenciando minhas emoções, eu gostaria de trabalhar fora, mas tenho que ficar aqui, o que eu passo para o meu filho? Negligencie algumas coisas de sua vida também.”

Iara ressalta que o modelo parental diz muito mais do que a fala parental. É como dizer ao filho para não gritar, gritando com ele. “A criança vai muito mais por aquilo que ela vivencia, do que pelo que ela vê e ouve. Ela tem uma vivência muito mais forte no aprendizado de seu dia a dia”, comenta a especialista.

Para fortalecer o vínculo com o filho e mudar o comportamento negligente, a especialista diz que é preciso agir com mais consciência. “Quando a gente faz um exercício de conscientização, a gente sai do automático para perceber nossos sinais e dos nosso filhos”, diz Iara. Isso inclui olhar para si e para a relação que estabelecemos consigo mesmo e com os familiares – o(a) parceiro(a) e os(as) filhos(as) – de modo a estabelecer uma relação mais harmoniosa, de ter comportamentos mais assertivos, de estar melhor com todos. Nesse sentido, Iara diz que há muita literatura disponível, cursos, e atendimentos focados nessa questão, feitos por educadores parentais, e também por psicólogos e mesmo psiquiatras capazes de sugerir estratégias para ajudar a família. Ela também dá alguns exemplos de perguntas que podem ajudar os pais a se autoavaliarem:

– Será que estou ouvindo minha filha do jeito que ela gostaria de ser ouvida?
– Será que ela está se sentindo acolhida?
– Será que estou muito em cima, ligando toda hora, perguntando o que ela está fazendo?
– Será que estou dando espaço para ela crescer?
– Será que esse espaço é uma ausência minha ou não?

“Tudo isso são reflexões importantíssimas pra gente sempre, entre os estilos, continuar esse caminho, mas cada vez mais escolhendo a sua própria jornada”, diz a psicóloga. Ela ressalta que a relação com os filhos pode melhorar muito quando os pais se conhecem melhor. “Quando a gente tem ferramentas, repertórios de autorreflexão, consegue entender exatamente em qual terreno estamos pisando”, completa.

Um dos recursos que a psicóloga usa com seus pacientes é o baralho de estilos parentais, cujas ilustrações do jogo ajudam a ampliar o olhar dos pais, a partir das escolhas de cartas que a criança faz para representá-los. Ela fala mais sobre o tema no vídeo abaixo, que faz parte da série “Conversas sobre Educação Parental”, gravada durante o 2º Congresso Internacional de Educação Parental, no final de 2021. Essa e outras entrevistas estão disponíveis no canal do YouTube da Canguru News. Vale conferir!


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