O que pais, mães e educadores têm a ver com o futuro profissional das pessoas com deficiência?

Desde a infância, é importante educar filhos e alunos com deficiência para que tenham autonomia, diz a educadora parental Mônica Pitanga

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Mulher com deficiência em cadeira de rodas está trabalhando no computador
Pais devem demonstrar confiança e encorajar os filhos com deficiência
Buscador de educadores parentais
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Quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, ainda temos um longo caminho a percorrer. As dificuldades e barreiras impostas estão presentes desde cedo: nas escolas, nos ambientes sociais e, muitas vezes, até mesmo dentro da própria família.

Como pais e professores, podemos agir construindo pontes ou muros. A diferença está nas crenças que carregamos e no tipo de educação que oferecemos: estamos, de fato, preparando nossos filhos e alunos para o mundo? Acreditamos genuinamente no potencial deles? Estamos investindo tempo em treinamento e presumindo capacidade?

O mundo é hostil, capacitista e repleto de barreiras visíveis e invisíveis. Por isso, é natural que pais e mães de crianças com deficiência sintam o desejo de protegê-las. No entanto, quando essa proteção ultrapassa o limite e se transforma em impedimento, ela rouba da criança algo essencial: o direito de tentar, errar, aprender e se desenvolver como qualquer outra pessoa.

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Crianças que são privadas de fazer escolhas, resolver problemas ou assumir pequenas responsabilidades tendem a crescer acreditando que são incapazes. Já os pais que praticam o encorajamento, confiam e dizem com palavras e atitudes: “Eu sei que você é capaz, você pode tentar. E, se não conseguir, eu estarei aqui para te ajudar”. Estes pais estão abrindo possibilidades reais. Isso vale desde as tarefas mais simples, como escovar os próprios dentes, vestir uma camisa e comer com autonomia até participar de decisões da casa e, mais adiante, pensar em um projeto de vida, sonhos e carreira. A educação para a autonomia começa na infância — e não aos 18 anos.

A inclusão no mercado de trabalho só será verdadeira quando tivermos construído trajetórias que validam competências, respeitam o tempo de cada indivíduo e acreditam nas possibilidades das pessoas com deficiência.

Com frequência, sou procurada por empresas que precisam cumprir a Lei de Cotas e enfrentam dificuldades para encontrar candidatos ideais para certas vagas. Do outro lado, conheço pessoas com deficiência que desejam trabalhar, mas encontram obstáculos nas universidades que negam vagas, na mobilidade urbana precária, no transporte público não acessível, nos olhares de piedade, na ausência de oportunidades — e, muitas vezes, na falta de apoio da própria família, que, por medo ou despreparo, acaba sendo mais um obstáculo do que um suporte.

É importante lembrar que pessoas com deficiência precisam, sim, de apoio e adaptações, mas também precisam ser vistas além do diagnóstico ou laudo — consideradas por suas habilidades, competências e desejos.

A escola pode (e deve) ser um espaço de protagonismo: rodas de conversa, projetos colaborativos, oficinas práticas, atividades que incluam e desafiem com segurança. Assim, plantamos hoje aquilo que o mundo do trabalho precisa colher amanhã: pessoas confiantes, criativas, seguras e conscientes de seu valor.

As famílias também podem promover vivências que desenvolvam habilidades e reconheçam o esforço. Evite frases como “isso é difícil demais pra você” e troque por: “Vamos tentar juntos, buscar soluções e ver o que dá pra fazer?”

A minha filha está com 21 anos. E apesar de ter uma doença rara que causa alguns impedimentos e limitações físicas, ela trabalha com carteira assinada em uma marca nacional, tem uma empresa em seu nome, fecha contratos de palestras e publicidades e tem autonomia para tomar decisões.

Como mães, pais e educadores, não cabe a nós definir limites, mas sim abrir caminhos e ser ponte. Celebre as conquistas do seu filho ou filha e ensine sobre seus direitos — a inclusão não é favor, é lei!

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 28,3% das pessoas com deficiência em idade ativa estavam empregadas no Brasil em 2022. Essa realidade reforça a importância de uma educação voltada para a autonomia e de uma cultura familiar e escolar que acredite, desde cedo, nas potencialidades dessas pessoas.

Mônica Pitanga
Mônica Pitanga é mãe atípica e rara. Formada em Administração de Empresas. Certificada em Parentalidade e Educação Positivas, Inteligência Emocional e Social e Orientação e Aconselhamento Parental pela escola de Porto, em Portugal. Certificada também em Disciplina Positiva pela Positive Discipline Association. Fundadora da ONG Mova-se Juntos pela inclusão.

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