Grupos de masculinidade tóxica: como eles podem impactar a criação de nossos filhos?

É preciso atenção à maneira como esses grupos influenciam as crianças, ainda mais diante da facilidade de acesso a informações via mídias digitais, ressalta o educador parental Mauricio Maruo

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Participar das tarefas de casa e envolver os filhos são maneiras de fazer com que eles entendam a importância desses comportamentos
Buscador de educadores parentais
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Diante da grande repercussão do texto O movimento Red Pill e o papel dos pais nesse cenário, resolvi trazer um conteúdo mais aprofundado sobre os  grupos de masculinidade “tóxica” que crescem nas redes sociais.

Hoje você consegue encontrar de tudo nesses ambientes, coisas boas e ruins, então encontrar grupos masculinos que manifestam ódio a outros tipos de gêneros não é tão difícil.

Segundo a ONG Safer Net, que monitora os crimes de ódio pela internet, em 2022, práticas de misoginia cresceram cerca de 184% equiparadas ao ano anterior. Esses dados reforçam o crescimento dos grupos espalhados pela rede. Abaixo, explico alguns deles:

Red pill

Os membros deste grupo acreditam que as mulheres são um gênero inferior, assim como os outros gêneros e que devido à sua superioridade, o homem red pill não deve se curvar a esses gêneros.

Incel

Os membros deste grupo, na maioria jovens autointitulados “celibatários involuntários”, são grupos de homens que acreditam que os movimentos feministas sejam os grandes culpados pela falta de interesse das mulheres nas relações conjugais. Devido a esse ideal, esses grupos também repudiam a comunidade LGBTQIA+, por acreditarem que seja uma concorrência para sua masculinidade. 

MGTOW

Sigla para “man going their own way” (traduzindo – homens seguindo o seu próprio caminho). Dos três, esse é o movimento mais antigo. Os Mgtows acreditam na autopreservação da masculinidade, onde as mulheres são as protagonistas pelo aprisionamento masculino em sua essência. Eles pregam que o homem deve ser livre em todos os aspectos masculinos e não se relacionar emocionalmente com as mulheres.
Até aqui não enxergo nenhum problema se esse movimento não afetasse o outro lado, porém todos sabemos que quando o homem se desliga das suas responsabilidades, tanto emocionais quanto sociais, isso acaba prejudicando o outro lado. Trocando em miúdos, os Mgtows são exemplos claros do que chamo de masculinidade irresponsável. Ser livre não significa ser irresponsável.

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Se a maioria desses grupos são favoráveis e tendenciosos a incitar a violência sobre o outro gênero, como eles têm tantos adeptos?

Esse é um problema social moderno. Os homens historicamente sempre tiveram mais privilégios do que as mulheres. Somente em 1789, com o início da revolução francesa, é que começou a discussão sobre direitos iguais entre gêneros. Até então, o privilégio era totalmente masculino. Imagine então esse homem que:

  • historicamente sempre foi privilegiado, somente por ser homem;
  • nunca foi ensinado a ter responsabilidade compartilhada;
  • aprendeu que ser forte é sinal de masculinidade;
  • é totalmente despreparado para acessar suas fragilidades.

Agora imagine esse mesmo homem se deparando com uma mudança dentro do seu mundo, onde seus privilégios são retirados sem que ele seja questionado? Essa é a explicação do porquê esses grupos têm tantos adeptos.      

Fazendo um recorte para a educação parental: o que esses movimentos representam para a criação dos nossos filhos?

Sabemos que a maioria das crianças são reflexos do nosso comportamento e também do ambiente em que vivemos, ou seja, na maioria dos casos, a formação da sua personalidade tem relação com o nosso comportamento e nossas atitudes. Nem preciso dizer que somos os responsáveis por não incitar em nossos filhos o ódio a outros gêneros – atitudes e comentários misóginos não deveriam existir dentro de casa. Mas há ainda o fator ambiente, que conta bastante, principalmente o ambiente digital.

Atenção ao perigo nas redes sociais

Existe hoje um termo muito utilizado dentro da rede social TikTok chamado “Homem Sigma”, usado por indivíduos que se auto intitulam “Lobos Solitários”. São aqueles homens que estão em oposição ao arquétipo Alpha, ou melhor, Macho Alpha, porém com as mesmas características do Alpha. A única diferença é que ao invés do comportamento autoritário, o Sigma tem um comportamento fora de um padrão social, ou seja, não liga para padrões impostos pela sociedade.

Não parece ser tão perigoso, correto?
Em sua essência, não, mas sabemos como as redes sociais têm o poder de distorcer as coisas e a minha preocupação é que o termo viralizou com um meme que é claramente perigoso, do rosto do ator Christian Bale em seu papel no filme Psicopata Americano.
Vejam o perfil da Filosofia Sigma, que tem mais de 45 mil seguidores, e tirem suas próprias conclusões. Na bio do perfil há um link que convida os homens a descobrir “como se tornar desejado, frio e respeitado, de uma vez por todas”.

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Mauricio Maruo
É pai da Jasmim e do Kaleo, e companheiro da Thais. Formado como artista plástico, atua como educador parental desde 2016. É fundador do "Paternidade Criativa", uma empresa de impacto social que cria ferramentas de transformação masculina através do gatilho da paternidade. Criador do primeiro jogo de Comunicação Não Violenta direcionado para pais e crianças do Brasil.

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