Falar sobre racismo torna as crianças menos racistas, aponta novo estudo

Pesquisa mostra que prática conhecida como "paternidade daltônica" - que ensina às crianças a ignorar diferenças raciais - não funciona

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Três crianças ao ar livre, de diferentes raças
Para muitas famílias, raça ainda é um tema tabu
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Precisamos conversar com nossos filhos sobre raça e racismo. Isso é o que reforça um novo estudo publicado na revista Developmental Psychology, que avaliou as reações de crianças entre 4 e 10 anos de idade a situações de discriminação racial. 

Elas assistiram a vídeos em que uma criança negra era excluída de atividades sociais. Em seguida, as crianças do estudo foram questionadas se gostaram ou não do que viram nas cenas do vídeo. Separadamente, os pesquisadores perguntaram aos pais se eles já haviam discutido questões raciais com seus filhos.

O estudo realizado na Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) descobriu que os pequenos cujos pais conversaram com eles sobre raça e racismo eram mais propensos a dizer que não aprovavam comportamentos racistas e os consideravam inaceitáveis.  

“As conversas entre pais e filhos sobre raça e racismo podem envolver os pais instruindo seus filhos que o tratamento injusto com base na raça é censurável – e tal instrução pode levar as crianças a julgar a exclusão social baseada na raça como errada”, concluíram os pesquisadores.

“Infelizmente, essas conversas ainda são raras em famílias brancas”, afirma a jornalista especializada em ciência Melinda Wenner Moyer, colaboradora do The New York Times e da revista Scientific American. Ela cita um estudo recente que mostrou que pais brancos falaram menos sobre raça e racismo com seus filhos após o assassinato de George Floyd do que antes.

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Segundo Melinda, durante anos, pesquisas têm levantado preocupações sobre a prática popular conhecida como “paternidade daltônica”, em que pais brancos acham ser melhor se comportar como se as diferenças raciais não existissem e não devessem ser apontadas , o que, apesar das boas intenções, não funciona.

Estudos constataram que, aos 3 meses de idade, os bebês já demonstram preferência por rostos da mesma raça que eles. Investigações também revelaram que, entre 2 e 4 anos de idade, as crianças já podem internalizar o preconceito racial. 

“As crianças veem a cor da pele mesmo quando bebês e elas também percebem e tentam entender a hierarquia racial proeminente da nossa sociedade”, pontua Melinda. A jornalista ressalta que as crianças são capazes de perceber, por exemplo, que todos os presidentes dos Estados Unidos, exceto um, foram brancos e que a maioria da classe trabalhadora é composta de pessoas de cor. 

“Se não dissermos a nossos filhos que o racismo é o que impulsiona essas tendências, eles podem presumir que os brancos têm mais poder porque são mais inteligentes ou melhores”, relata.

Para a especialista, é fundamental que as famílias conversem com as crianças sobre cor da pele, racismo sistêmico, violência policial, escravidão e temas afins.

De acordo com a pesquisa, ao confrontar a discriminação dos colegas, as crianças podem regular os comportamentos discriminatórios de outras crianças, reduzir a dor causada pela discriminação racial e criar normas que desencorajem a discriminação. “Nossos resultados sugerem que as crianças – especialmente aquelas com 8 anos ou mais – podem ser capazes desse tipo de antirracismo fundamental”, reforçam os estudiosos. 

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