Em que fase seu filho está? Saiba como superá-la e o que esperar da próxima

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Como em um jogo de videogame, as crianças passam por algumas etapas do desenvolvimento que apresentam desafios e exigem habilidades dos pais. Saiba em que fase o seu filho está, como lidar com ela e o que esperar da próxima

Por Rafaela Matias – Assim como nos jogos, as crianças passam por algumas fases de desenvolvimento – naturais e até necessárias, mas que vêm carregadas de um turbilhão de obstáculos os quais os pais precisam superar junto dos filhos. Segundo a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo Regazzoni, presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a família precisa entender cada fase em que a criança se encontra para conseguir estimular a maturidade e a autonomia dos pequenos. “É comum, por exemplo, que birras aconteçam por volta dos 2 anos, mas os pais precisam contornar a situação para que elas não continuem nas próximas etapas do desenvolvimento. Ao entender cada estágio, as famílias podem ajudar a criança a passar por eles de forma natural e contribuindo para o amadurecimento saudável”, explica.Mario e Bowser. Sonic e Dr. Robotnik. Donkey Kong e Tiki Tong. Zelda e Ganondorf. Claire Redfield e Nemesis. Um herói de videogame que se preze precisa enfrentar alguns vilões para cumprir o objetivo do jogo. Naturalmente, os desafios vão ficando cada vez mais difíceis e é preciso se superar para chegar ao final como vencedor. Alguns dos jogadores assíduos, que durante a infância não soltavam os manetes e faziam questão de manter em dia os seus cartuchos para zerar os clássicos do videogame, hoje precisam superar chefões da vida real na tentativa de alcançar objetivos pessoais e profissionais. Certamente a maternidade e a paternidade estão entre os maiores deles.

Por falar em birra, o Mateus, de 2 anos, fez uma histórica no mês passado e deixou a mãe, a bióloga Adriana Alves Oliveira Paim, cheia de preocupação. Detalhe: o show aconteceu no meio do shopping e não deixou alternativa para a família senão ir embora. Lucas Pinho Musumeci Suarez, de 6 anos, já passou dessa fase. Agora, ele está na alfabetização, o que também não tem sido nada fácil para a mãe, a administradora de empresas Marcella Pinho. Apesar das dificuldades, Adriana e Marcella sabem que uma das etapas mais difíceis ainda está por vir: a transição da infância para a adolescência. É nela que o Enzo, de 9 anos, está. “Ele agora quer sair com os amigos, acha que sabe tudo, não quer mais passar férias na casa da avó no interior. Precisamos ter muita paciência, pois sabemos que não durará para sempre. Daqui a pouco ele será um homem, e sentiremos saudades do garoto rebelde”, diverte-se a mãe, a publicitária Fabiana Gomes Gaillardetz.

Com a ajuda de especialistas – a pediatra Marisa da Matta Aprile, professora afiliada da disciplina de pediatria da Faculdade de Medicina do ABC e membro da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP); a pediatra e psiquiatra Ana Maria Costa da Silva Lopes, membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da SBP e professora da Faculdade de Medicina da UFMG; o psicólogo e psicopedagogo Cássio Frederico Veloso, criador do Núcleo de Desenvolvimento Bora Brincar; a pediatra Laís Valadares, presidente do Comitê da Primeira Infância da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP); a psicóloga Cristina Eiras, especialista pela USP em violência doméstica; e a médica de família e comunidade Denize Ornelas, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), além da doutora Liubiana –, organizamos as principais etapas de desenvolvimento da meninada para que os pais consigam identificar em qual delas o filho está e se preparar para o que vem pela frente, além de, claro, entender como lidar com cada desafio da melhor maneira possível. Afinal, no game da criação de filhos, o objetivo principal sempre será a felicidade dos pequenos, e falhas técnicas devem ser evitadas com toda a habilidade de um bom jogador.

Fase da cólica

Em geral, dura até os 6 meses de vida. O sistema digestivo do bebê ainda está se desenvolvendo, e as cólicas podem ser motivo de muito choro noites afora. Além disso, é um momento em que mãe e filho precisam se adaptar à amamentação. “O bebê nasce com um potencial enorme, mas insuficiente para cumprir suas necessidades básicas sem auxílio, já que seu instinto, por mais que opere, não é capaz de lhe garantir a sobrevivência”, afirma a pediatra Laís Valadares. Por isso, o bebê precisa de cuidados intensivos, de alguém para alimentá-lo, agasalhá-lo e protegê-lo dos estímulos invasivos do ambiente. Ele está construindo as relações de vínculo com a mãe, e é importante o estímulo à amamentação e o suporte do pai e dos familiares como facilitadores da construção desses primeiros contatos afetivos. “Algumas medidas, como colocá-lo no charutinho, no sling ou no contato pele a pele, sentindo calor corporal e o batimento cardíaco da mãe, ajudam a acalmá-lo como se ainda estivesse no útero”, afirma Denize Ornelas.

Fase oral

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Lucas, de 6 anos, vive um momento
de curiosidade aflorada | Foto: Ricardo Borges

A criança quer conhecer o mundo pela boca, e é preciso atenção para que ela não se exponha a perigos. Em geral, dura até o primeiro ano de vida, e, aqui, é provável que o seu bebê já esteja engatinhando ou dando os primeiros passinhos. Os pais precisam estar em constante alerta para que o pequeno não se machuque nem ingira objetos nocivos. Também começam a nascer os primeiros dentinhos, o que pode causar febres e desconfortos. “A continuidade do aleitamento materno deve ser estimulada, e, na introdução de novos alimentos, o vínculo afetivo do bebê com a mãe ou com o cuidador é essencial”, afirma a pediatra e psiquiatra Ana Maria Costa da Silva Lopes. Atitudes afetivas pela estimulação sensorial também são fundamentais (cantigas de ninar, toques, contato visual, sorrisos, embalar o bebê etc.) para uma transição mais tranquila.

Fase da birra 

Também conhecida como “terrible two”, essa fase ocorre por volta dos 2 anos. A criança está aprendendo a lidar com as próprias emoções e não tem uma capacidade bem desenvolvida de verbalizar os seus sentimentos. Ela começa a se perceber enquanto indivíduo e, a partir disso, faz escolhas. Quando percebe que nem todo desejo será atendido, ela precisa lidar com as frustrações. Em situações em que algo que deseja não é alcançado, é comum (e tolerável) que a criança faça a temida birra. Nesse momento, os pais devem intervir de forma firme e afetiva, por meio do diálogo. “É importante que os adultos não tentem travar uma luta com a criança para mostrar quem pode mais. Entenda como um processo natural, e não como uma afronta”, alerta a pediatra Marisa da Matta Aprile.

Fase do egocentrismo

É comum que aconteça junto com a fase da birra, mas existem algumas peculiaridades. A criança tende a se perceber como o centro do mundo e, algumas vezes, tem dificuldade de dividir e aceitar o não. Ela não concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas conceituais e da lógica. Mesmo assim, está progredindo na construção de sua autonomia e de suas próprias escolhas. Por exemplo: ela já manifesta como deseja se vestir. É importante que os pais respeitem essa construção e que negociem com a criança o que é permitido ou proibido em determinada situação. “Será no meio familiar, rodeada de pessoas que a amam, que ela deverá aprender a lidar com o não e ser preparada para os nãos que virão do mundo”, defende a psicóloga Cristina Eiras.

Fase do aprendizado social

Em geral, é quando a criança larga de vez as fraldas e a chupeta. Começa o aprendizado social, e os exemplos dos pais são mais compreendidos, incorporados e imitados. A convivência no ambiente escolar e no meio familiar deve ser estimulada, para que o pequeno desenvolva noções do convívio em sociedade. A criança se formará como um espelho das relações familiares, por isso é preciso muito cuidado com o que é apresentado a ela. Os pais devem se preocupar com a construção de um vínculo positivo. “Nesse período, é importante uma relação conjugal harmoniosa, afetiva, estável e com certas interdições. É fundamental que, desde muito cedo, os responsáveis reflitam sobre as funções paternas e maternas para educar os pequenos de forma convergente”, explica o psicólogo e psicopedagogo Cássio Frederico Veloso.

Fase da alfabetização

Começa o aprendizado da leitura e da escrita. A curiosidade está aflorada, e as crianças querem saber as razões das coisas. Perguntas difíceis podem surgir e devem ser respondidas de acordo com a capacidade de entendimento do pequeno. A criança captura percepções e a aparência imediata dos objetos. Elas adquirem a capacidade de investigação. Os “porquês” são uma forma de construção de resposta às descobertas infantis. “É importante que as crianças sejam estimuladas juntamente pelos pais e pela escola, e que estes conservem um tempo para o brincar, que é a atividade mais rica e importante para o desenvolvimento delas em todas as fases”, orienta a pediatra Laís Valadares.

Pré-puberdade

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Enzo, de 9 anos, dá sinais de que a
adolescência se aproxima |  Foto: Willians Moraes

A idade pode variar bastante, mas, em geral, acontece entre os 9 e os 12 anos. Eles tendem a se achar adultos, começam a questionar limites e comportamentos, os hormônios estão aflorados, o corpo começa a mudar e a se desenvolver. Tem início a preferência pelas atividades em grupo, o que será intensificado na adolescência. Aquela criança que antes era dependente apresenta sinais de maior autonomia e desejo de independência. “Cabe aos pais e aos cuidadores ter consciência de que ela ainda precisa de supervisão e acolhimento, apesar de suas tentativas de oposição e de impor sua vontade”, afirma a psicóloga Cristina Eiras. Os pais devem estimular a continuidade de construção de autonomia e de vínculos afetivos duradouros.

Adolescência

Aqui, uma enxurrada de novos desafios marca a transição da infância para a vida adulta. Os pais precisam se reinventar em suas habilidades para lidar com questões sociais e emocionais que possam surgir. A puberdade traz mudanças corporais que marcam a construção de escolhas identificatórias, sexuais e profissionais, entre outras.

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