Crianças com asma não têm risco maior de desenvolver Covid-19, aponta estudo

Proteção dessa faixa etária estaria associada ao bom controle da doença, uso de corticoides nas crises e menor expressão de uma enzima responsável pela inflamação

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Médico faz nebulização em criança que está acompanhada pelo pai
Estudo publicado na revista científica Pediatrics fez uma revisão retrospectiva dos dados de saúde de 46.900 crianças, entre 5 e 17 anos
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Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein ‒ Logo no surgimento dos primeiros casos de infecção pelo coronavírus (SARS-CoV-2), no início de 2020, uma das principais preocupações dos pediatras era saber como ele se comportaria com as crianças asmáticas. A preocupação se justificava: a asma é a doença pulmonar crônica mais comum na faixa etária pediátrica e as crianças, em geral, são bastante afetadas pelos impactos das doenças respiratórias. Como o coronavírus ataca justamente os pulmões, a comunidade científica decidiu pesquisar se essas crianças apresentavam maior risco ou não para a infecção por covid-19, em comparação com as crianças sem a doença.

A boa notícia é que não. Um amplo estudo publicado no periódico científico Pediatrics fez uma revisão retrospectiva dos dados de saúde de 46.900 crianças, entre 5 e 17 anos, nos Estados Unidos, e concluiu que a proporção de crianças com asma que desenvolve a covid-19 era semelhante à proporção das crianças sem asma. Os dados são referentes ao período de 1 de março de 2020 a 30 de setembro de 2021 e se referem ao período em que a variante Delta era predominante – a Ômicron foi identificada após esse período.

Segundo os pesquisadores, do total de registros analisados, 12.648 crianças foram testadas pelo menos uma vez para o SARS-CoV-2 e 706 (5,6%) testaram positivo para a doença, sendo 350 (2,8%) com asma e 356 (2,8%) sem asma. Apenas uma criança com asma precisou de hospitalização para tratar a doença.

“O resultado desse trabalho é muito importante e bastante robusto. O que vimos durante a pandemia foi que o acometimento das crianças pela covid-19, embora fosse importante, teve uma incidência muito baixa em comparação com adultos e idosos. Há outros trabalhos que mostram que os asmáticos adultos tiveram mais complicações pela infecção e maior índice de mortalidade. Como em crianças a quantidade de casos era menor, os pesquisadores demoraram mais para ter um número suficiente para chegarem a essa conclusão”, afirmou o pediatra Celso Terra, que também é médico intensivista do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Israelita Albert Einstein.

Entre as hipóteses apontadas pelos pesquisadores para essa “proteção” das crianças asmáticas estão o uso dos corticoides inalatórios – que reduziriam a inflamação que a doença provoca nos pulmões e também diminuiriam a replicação viral. “Quando estão em uma crise aguda, os asmáticos usam corticoide, que é um poderoso anti-inflamatório. Na alta incidência dos casos de covid no Brasil e no mundo, um dos tratamentos para os pacientes foi o uso de corticoides”, lembrou Terra.

A segunda hipótese apontada pelos pesquisadores é que as crianças com asma teriam menor expressão da enzima ACE-2, que está associada ao início do processo inflamatório dentro do organismo pelo SARS-CoV-2. “Ao que parece, a expressão dessa enzima nos asmáticos é menor do que entre os sem asma. Na teoria, o vírus teria menos condições de atacar esse organismo”, explicou o pediatra.

Para Terra, os resultados desse estudo reforçam que as medidas universais de prevenção foram e continuam sendo fundamentais para o controle da pandemia: uso de máscaras, higienização das mãos e a vacinação. E que o controle adequado das doenças crônicas também é essencial para evitar complicações.

“Esse trabalho nos mostrou que a Covid-19 não atinge as crianças com quadros pulmonares da forma como imaginávamos no começo da pandemia. Mas mostrou que quanto mais bem cuidada e mais bem controlada estiver a asma dessas crianças, mais protegidas elas ficam. E que essa proteção não acontece apenas pelo uso de medicamentos. Inclui as medidas básicas de higiene – lavar as mãos com frequência e o uso de máscara – e também a vacinação [nos Estados Unidos a vacinação pediátrica começou antes que o Brasil]. O prognóstico é sempre melhor quando há acompanhamento médico e a doença controlada”, finalizou Terra.


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