Como lidar com o fracasso do filho

Segundo o psicólogo americano Martin Seligman, as crianças precisam falhar, se sentir tristes, ansiosas e iradas, ou seja, ter a experiência legítima das emoções negativas

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Atualmente, há uma tendência crescente dos pais a, equivocadamente, não enfrentar o fracasso do filho. Muitos acreditam que o fracasso, qualquer que seja ele (escolar, de socialização etc.), resultaria em baixa autoestima. Assim, o objetivo passa a ser ofuscá-lo. Se o fracasso se dá no campo da socialização, como no caso de o filho não ser convidado para o aniversário de um colega, o modo como os pais contornam a realidade pode incluir desde críticas aos amigos da criança até o extremo de fazer uma festa maior e não convidar o colega. Se o fracasso ocorre no âmbito escolar, quando, por exemplo, o filho tira notas baixas, os pais culpam a professora ou a escola. Assim como esses, vários outros exemplos podem ser citados. Segundo o psicólogo americano Martin Seligman, as crianças precisam falhar. Elas precisam se sentir tristes, ansiosas e iradas, ou seja, ter a experiência legítima das emoções negativas. Quando os pais impulsivamente protegem os filhos do fracasso, acabam por privá-los de um aprendizado de habilidades.

O que interessa realmente é que muitos pais deixam de se perguntar algo fundamental: qual é a responsabilidade do meu filho nessa situação? No caso da criança que não foi convidada para a festa, os pais poderiam questionar se o filho não teria sido antipático com o colega e por isso não foi convidado, ou, talvez, se o filho, por timidez, esteja tendo problemas de relacionamento. O mesmo vale para o caso da criança com notas baixas. Sentimentos de elevada autoestima desenvolvem-se como efeito colateral da capacidade de enfrentar e vencer desafios, não mascarando os fracassos ou se esquivando deles.

Se não pode evitar nem ignorar o fracasso, como os pais devem proceder? O ideal em situações desse tipo é, primeiramente, identificar a responsabilidade da criança ou adolescente e fazê-los entender exatamente sua parte de responsabilidade nesse processo. Um segundo passo, extremamente importante, é mostrar ao filho que o episódio de fracasso não tem um caráter de permanência. Frases de incentivo, como “Hoje você cometeu alguns erros no recital de piano, mas no próximo poderá tentar de novo e sei que se saíra muito melhor”, são sempre bem-vindas. O fracasso não pode ser generalizado para todas as áreas. Não conseguir uma vaga no time de futebol pode significar que ele não treinou o bastante ou, até mesmo, que, na verdade, ele tem aptidão para outros esportes ou para artes. Deve-se evitar, ainda, que a criança ou o adolescente associem o fracasso a algo pessoal. É necessário reforçar o aspecto comportamental, transmitindo, assim, a ideia de que a situação pode ser alterada. Outra coisa que os pais devem incentivar é a habilidade dos filhos para saber especificar o problema e pensar em alternativas de solução. Se o filho fracassou no vestibular, ele próprio pode encontrar a alternativa para solucionar a situação e ter êxito no concurso seguinte: montar grupo de estudos com outros colegas ou pedir ajuda ao professor em cuja matéria sentiu mais dificuldade na hora da prova.

Patrícia Quaresma RagonePsicóloga, pedagoga, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior e especialista em Psicologia Clínica e em Terapia Cognitiva, é autora dos livros Laços — Contribuições da Terapia Cognitiva para as Relações Familiares, publicado em 2009, e Laços — um Longo Caminho a Dois, de 2015.

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