Como funciona o sono dos adolescentes?

De acordo com especialistas, os jovens possuem um padrão diferente das crianças, pois a melatonina - hormônio produzido durante o sono - passa a ter seu pico de excreção mais tarde, atrasando a sensação de sono. Saiba mais!

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Como funciona o sono dos adolescentes?; menino adolescente dormindo
Os adolescentes possuem um padrão de sono diferente das crianças/Foto: Freepik
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O seu filho adolescente costuma dormir muito tarde e acordar muito tarde também? Fique tranquilo, você não está sozinho! Essa é uma queixa muito comum entre os pais – e saiba que existe uma explicação para isso. Sem dúvidas, a chegada da adolescência vem acompanhada de muitas mudanças e transformações, inclusive no sono. Um estudo publicado no periódico médico JAMA descobriu que entre 14 e 33% dos adolescentes se queixam de problemas para dormir, enquanto 10 a 40% dos estudantes do ensino médio apresentam moderada ou transitória privação ou insuficiência de sono.

Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), os jovens são bastante vulneráveis a distúrbios do sono, principalmente a insônia. “O adolescente é um ser biologicamente ‘programado’ para dormir e acordar mais tarde, sendo que, na maior parte da manhã, seu cérebro não está em estado de vigília”, afirma a especialista. Mas, afinal, como é o sono dessa faixa etária?

De acordo com a psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, enquanto as crianças são predominantemente matutinas, os adolescentes vão se acostumando cada vez mais com a noite ao longo da puberdade, atingindo o máximo da vespertinidade próximo dos 20 anos de idade. “Geralmente, acometem primeiro as meninas, podendo ser considerado um marcador do final da adolescência“, diz.

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Por que isso acontece?

Primeiro, é preciso lembrar que o nosso relógio biológico é orientado pelo ciclo luz/escuro, que é a principal fonte de informação do corpo sobre horários, como explica Danielle Admoni. “A secreção do hormônio melatonina se inicia no escuro e é inibida pela exposição à luz. A mesma passa pela retina para o núcleo localizado no cérebro, o supraquiasmático, que é considerado o relógio central do nosso organismo. Nos adolescentes, a melatonina passa a ter seu pico de excreção mais tarde, atrasando a sensação de sono“, destaca a psiquiatra.

Ainda segundo a Admoni, o hormônio cortisol, liberado pelas glândulas suprarrenais, é responsável por nos manter em alerta durante o dia. Já para os adolescentes, essa secreção também é tardia, levando ao despertar vagaroso e apresentando muito sono ao longo da manhã.

O sono afeta o desempenho escolar

O indicado é que os adolescentes durmam de 8 a 10 horas por noite para terem uma vida saudável, de acordo com recomendações da American Academy of Sleep Medicine, AASM, Academia Americana de Medicina do Sono. Caso eles não cumpram este padrão de sono, podem ter consequências para o aprendizado e para a saúde geral. “Eles podem apresentar dificuldades de atenção e de concentração, baixo desempenho escolar, oscilações de humor, predisposição a acidentes, atraso no desenvolvimento puberal, hipertensão, obesidade, diabetes e depressão, entre outras complicações”, alerta a psicóloga Monica Machado.

Isso é comprovado por um estudo realizado pela Escola de Medicina de Harvard (Harvard Medical School). Para a análise, estudantes do ensino médio foram divididos em dois grupos. Por 7 dias, um grupo dormiu nove horas por noite, enquanto o outro grupo dormiu apenas cinco horas. Os que dormiram menos apresentaram mais alterações cognitivas e de humor ao longo da semana, quando comparados ao outro grupo. Além disso, foram necessárias duas noites de “sono de recuperação” para o organismo voltar ao normal.

O que os pais podem fazer?

Infelizmente, há evidências de que os adolescentes, na maioria das sociedades industrializadas, não atingem as horas diárias de sono recomendadas durante o período escolar. Segundo estimativas consistentes, nos últimos 100 anos, o sono dos jovens encurtou em cerca de uma hora. “Junte a isso o excessivo uso de telas e a intensa atividade social, que acabam contribuindo para a diminuição do tempo de sono. Além disso, a exposição à luz durante a noite favorece ainda mais a desregulação desse ciclo comportamental e biológico”, analisa a psiquiatra.

Mas, então, o que os pais podem fazer? Ainda que não seja saudável, a especialista defende a importância de entender e respeitar que o organismo dos adolescentes atue de forma diferente. “Nesta fase, o ideal é organizar as atividades e a vida do adolescente conforme seu ritmo. Cobrar, exigir e pressionar uma rotina fora do seu padrão biológico só irá gerar improdutividade e desgaste. Se for preciso, vá incentivando a mudança de hábitos aos poucos, até chegar no prazo de validade da adolescência”, finaliza Danielle Admoni.

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