3 brincadeiras para aproximar as crianças da cultura africana

Jogos servem de estímulo para um maior respeito à diversidade e diminuição dos preconceitos raciais

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Crianças afro brincam com aviãozinho; brincadeiras da cultura africana estão presentes na infância brasileira
Brincadeiras africanas remetem a costumes e crenças do país
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Estima-se que o Brasil tenha uma das maiores populações de origem africana no mundo ‒ mais da metade dos brasileiros (56%) se autodeclararam pretos e pardos, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), de 2022 ‒ porém, as crenças e os costumes daquele país ainda são pouco conhecidos por aqui. Trabalhar a cultura africana com as crianças desde cedo, por meio de jogos e brincadeiras, é uma forma de mudar esse cenário, visto que os pequenos observam e assimilam o que veem no mundo ao seu redor, seja em casa, na escola ou durante programas de entretenimento.

Para a professora e pesquisadora de relações étnico-raciais, Francine Cruz, historicamente, a cultura africana e afro-brasileira foi desvalorizada, por isso, quanto mais contato com outras etnias e culturas a criança tiver, melhor ela vai compreender e respeitar a diversidade. “É importante apresentar a temática às crianças para que tenham a oportunidade de enriquecer o conhecimento, desconstruir estereótipos raciais, combater o racismo e construir uma sociedade mais justa e tolerante. Além disso, é uma forma de garantir que estudantes negros se sintam representados no ambiente escolar”, afirma a professora que lançou neste ano o livro Relações étnico-raciais na educação física escolar.

Francine Cruz, pesquisadora das relações étnico-raciais

Ela diz que embora o ensino da história e cultura afro-brasileira seja obrigatório nas escolas do país, muitos professores se sentem inseguros e despreparados para abordarem a temática, e a obra busca preencher essa lacuna, servindo de material de consulta, com conceitos teóricos e sugestões de práticas pedagógicas. “Existe uma grande contribuição da cultura africana e afro-brasileira nas mais diversas manifestações da cultura corporal, como nas danças, nas lutas, nos esportes, nos jogos e nas brincadeiras que estão presentes e influenciam a vida cotidiana”, diz Francine.

Abaixo, ela sugere três brincadeiras africanas para aprender com as crianças, e ressalta que ao fazê-las é necessário contextualizar o tema para que haja compreensão e respeito às culturas. “Para os africanos, os jogos sempre tiveram ligação com a vida social, religião e artes, por exemplo, e muitos foram adaptados ao dia a dia das crianças brasileiras, de maneira que podemos perceber semelhanças entre eles”. 

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Bon Kidi

De origem moçambicana, essa brincadeira semelhante ao jogo de bolinha de gude exige poucos recursos: um espaço de terra e alguns grãos de milho. Traça-se uma linha reta no chão (linha inicial) e, a uma distância aproximada de três metros, é traçado um pequeno círculo (cerca de cinco centímetros de diâmetro). Cada jogador recebe inicialmente cinco grãos de milho. O jogo consiste em, posicionado na linha inicial, tentar acertar com um grão de milho o pequeno círculo. Os jogadores tiram na sorte ou escolhem livremente a ordem para jogar e cada um tem direito a uma jogada até que todos executem pelo menos uma vez. Caso ninguém acerte o grão no círculo, volta-se à sequência inicial de lançamento, só que, desta vez, com a diferença que o grão de milho é lançado de onde ele havia parado na jogada anterior. Quem acertar o alvo primeiro ganha todos os milhos da rodada. Terminada a jogada, os competidores voltam à linha de partida e sorteiam para ver quem dará início novamente.

Matacuzana

Esse jogo tem regras semelhantes ao jogo brasileiro conhecido como “bugalha”, “pedrinhas”, “cinco marias”, “chincha” ou “saquinho”, dependendo da região na qual é praticado. Contudo, em Moçambique, onde surgiu, ele é praticado somente em algumas épocas do ano, visto que utiliza a semente de um fruto específico que nem sempre aflora. O jogo consiste em lançar uma semente para o alto e, nesse intervalo de tempo, enquanto ela sobe e desce, deve-se pegar outra semente e colocar em um buraco previamente cavado no chão (o que não consta das regras brasileiras), agarrando a semente lançada antes que ela toque o solo. Após ter colocado todas as sementes no buraco, inicia-se o processo inverso para retirá-las do local. Os participantes também podem formular ou alterar as regras como: “jogar a semente para cima e pegar com a mão contrária”, “quem deixar cair à semente que jogou, devolver as que ganharam em outras partidas” etc.

Terra-mar

Também do Moçambique, essa brincadeira segue a mesma lógica de “morto-vivo” e acontece da seguinte maneira: traça-se uma linha no chão, com giz ou algo similar, e designa-se um lado da linha para ser a terra e o outro para ser o mar. Em seguida, os participantes se posicionam todos do mesmo lado da linha para iniciar a brincadeira. Ao comando do mediador, que irá alternando entre os dois ambientes (terra e mar), todos devem pular para um ou outro lado, ou seja, se o mediador falar “mar”, todos devem pular para o lado do mar, se falar “terra”, todos devem pular para o lado terra. Conforme as crianças erram elas saem da brincadeira e aguardam a próxima rodada. O ganhador será o último a permanecer no jogo.

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