Obesidade infantil, maternidade e consumo

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PEQUENA.jpg (76 KB)As taxas de obesidade infantil seguem numa progressão ascendente e, se a medicina aponta para a gravidade de um quadro clínico de risco, os pais dessas crianças nos revelam outra dimensão dessa dor, responsabilizados que são pelo excesso adiposo de seus rebentos.

Quais seriam as formas adequadas de abordagem e manejo para a adesão bem-sucedida a uma dieta e todo o protocolo corporal que envolve o processo de emagrecimento? E quais seriam as estratégias necessárias para transformar em algo mais lúdico e tolerável as privações e a disciplina necessárias à perda de peso?

A fim de ajudar e melhor instrumentalizar um imenso contingente de crianças, e os diversos atores sociais que as cercam, que sofrem o prejuízo de uma exclusão socialmente validada, a resposta para uma estratégia eficiente de intervenção e de combate à obesidade infantil nos parece residir no oferecimento de uma escuta atenta e acolhedora às mães dessas crianças. Diante da cena de crianças obesas, cujas mães não cessam de empanturrar, é possível pensar em um amor oceânico que a tudo tenta preencher.

Como em um rio onde não pudéssemos ver as margens que balizam as torrentes de afeto e, por isso mesmo, um volume caudaloso e incomensurável parece que tudo irá tomar. Isso em um país que há pouco menos de duas décadas migrou da desnutrição à obesidade.

Competimos, ferozmente, com os Estados Unidos nessa dramática estatística. E, portanto, é sempre bom lembrar que, na memória da fome, um passado com morada em ambiente hostil faz da gulodice entorpecimento, refúgio e brincadeira mortífera para suportar o contato com a dor.

Se historicamente medicina e família são antigas e solidárias companheiras, é necessário refletir às expensas do que se dá esse “companheirismo” e como foi sendo construído o que hoje denominamos de “maternidade científica”, ou seja, o exercício da maternidade fundamentado em bases científicas, objeto de práticas educativas próprias e supervisionado por médicos.

É nesse sentido que enfatizamos a necessidade de estarmos atentos ao “como” e “quando” se dá a passagem da alimentação para uma dietética. O alimento, para além de seu valor nutricional, é um mediador das relações da criança com seus cuidadores primários, estando, portanto, relacionado ao campo emocional do indivíduo.

Joana de Vilhena Novaes é professora doutora, leciona no programa de mestrado e doutorado em psicanálise, saúde e sociedade da Universidade Veiga de Almeida. Coordena o Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio e é pesquisadora e psicoterapeuta do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social LIPIS/PUC-Rio.

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