Crianças devem comer o que os pais oferecem ou só o que elas querem? Nem um, nem outro

Especialistas separaram algumas dicas para tornar mais agradável a hora das refeições e ensinar bons hábitos alimentares para os pequenos

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Crianças devem comer o que os pais oferecem ou só o que elas querem? Nem um nem outro; família jantando junta
Refeições em família podem trazer muitos benefícios para os pequenos
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Alimentar uma família com certeza não é uma tarefa fácil, mas uma mãe dos Estados Unidos acredita ter encontrado um sistema perfeito para seus filhos. Depois de compartilhar um vídeo mostrando os menus individuais que preparava para os pequenos, para que as crianças possam comer o que querem, ela viralizou no TikTok e dividiu a opinião dos internautas. Conhecida como Buggystops Kitchen na rede social, ela explicou que oferece opções diferentes para o café da manhã, almoço e jantar, de acordo com o gosto de cada um de seus sete filhos. 

Publicada em julho do ano passado, a gravação alcançou mais de 500 mil visualizações e 950 comentários, em que os seguidores começaram um importante debate sobre a alimentação dos pequenos. Muitos discordaram da atitude da mãe. “Meus filhos comem o que eu sirvo. Não sou chef nem dono de restaurante”, escreveu um usuário. No entanto, também tiveram aqueles que ficaram do lado dela. “Eu acho que todos ganham com isso. As crianças sentem que eles têm o que dizer, você sabe que eles vão comer e as decisões do que fazer já estão feitas. Genial”, comentou outro.

No vídeo, a mãe explicou que criou este sistema porque estava cansada de jogar comida fora e não gostava de importunar os filhos para comerem refeições que eles não queriam. Segundo ela, os menus funcionaram como mágica. “Chega de comida desperdiçada. Chega de lágrimas na hora de comer alimentos de que não gostavam ou simplesmente não estavam com vontade. Chega de dar comida para o cachorro debaixo da mesa. Chega de aborrecimento para mim”, disse.

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Anne Fishel, terapeuta familiar, professora associada de Harvard e cofundadora do Family Dinner Project, uma organização sem fins lucrativos que promove refeições em família, concorda com o pensamento da mãe, mas é preciso tomar alguns cuidados. Para ela, os pais não precisam oferecer apenas o que eles querem que as crianças comam e as crianças também não devem sempre comer apenas o que querem, mas há formas de fazer isso de forma equilibrada e saudável. 

“Para a grande maioria das crianças, estamos falando só de preferências individuais. E acho que existem maneiras pelas quais as famílias podem atender essas preferências sem transformar a cozinha num restaurante”, disse a terapeuta ao jornal estadunidense Washington Post.

Segundo Fishel, ao seguir encontrar este caminho, pais e mães podem ajudar seus filhos a ter um relacionamento saudável com a comida. Por isso, especialistas separaram algumas dicas para tornar a hora das refeições mais agradável e encontrar um bom equilíbrio que funcione tanto para as crianças quanto para os pais. Confira! 

Refeições em família são fundamentais

Anne Fishel reconheceu que nem sempre é fácil lutar contra o impulso de deixar as crianças comer o que elas querem. “Os pais querem fazer os filhos felizes e dar a comida que eles gostam de comer é uma maneira muito gratificante de fazer isso”, afirmou. Mas, existe uma preocupação em relação a isso: preparar pratos individuais demanda muito tempo e esforço. Isso pode acabar interferindo nas refeições em família, acabando com a energia para a interação com as crianças na mesa.

“É difícil juntar a família, mesmo que muitas pessoas concordem que as refeições em família são muito importantes”, concordou Blake Jones, professor associado e psicólogo do desenvolvimento da Universidade Brigham Young, que se concentra em questões de saúde. Uma revisão de 2015 de pesquisas descobriu que a frequência relatada de refeições em família por semana variou de cerca de 33% das refeições para cerca de 61%. 

Já é comprovado cientificamente que comer em família pode trazer benefícios físicos e psicológicos para as crianças. Um estudo concluiu que crianças e adolescentes que fazem refeições com os pais três ou mais vezes por semana têm dietas e pesos mais saudáveis do que os que compartilham menos de três refeições por semana.

Outra pesquisa revelou que almoçar e jantar com os familiares frequentemente melhora a saúde mental dos adolescentes e os deixa menos propensos a comportamentos de risco. Além disso, até os adultos podem se beneficiar emocionalmente com este ritual. E não precisa ser algo longo ou formal – especialistas indicam que a refeição em família dura normalmente de 18 a 20 minutos. “Isso é um tempo bem curto para estar associado a todos esses benefícios. Então não é só comer junto. Talvez seja o que as pessoas fazem durante a refeição”, destacou Jones.

Foco na criação de bons hábitos alimentares

De acordo com a nutricionista e terapeuta familiar Ellyn Satter, é importante que os pais tenham uma visão a longo prazo. “Ao alimentar as crianças, o objetivo não é enfiar comida nelas hoje. O objetivo é ajudá-las a aprender atitudes e comportamentos alimentares positivos para a vida toda”, afirmou.

Para Satter, os pais devem focar na competência alimentar das crianças.  “É a capacidade de uma criança chegar a uma refeição e examiná-la sem surtar, escolhendo o que está disponível e comendo o quanto quiser da comida que colocaram na sua frente. Comedores competentes se tornam adultos que fazem refeições regulares, consomem uma variedade de alimentos e se sentem relaxados ao comer”, explicou. Estudos também mostram que eles têm dietas de alta qualidade.

Por outro lado, quando os pais se submetem ao paladar limitado do filho, essa criança cresce comendo a mesma variedade de alimentos com que começou, segundo Satter. “Além disso, ela terá medo da comida que existe por aí”, acrescentou. Uma pesquisa já mostrou que os exigentes não comem de forma tão saudável e têm mais fobias sociais do que os não exigentes.

Para evitar isso, Ellyn Satter aconselha os pais e mães que desejam criar comedores competentes a seguir sua Divisão de Responsabilidade na Alimentação, que diz que os pais e mães são responsáveis pelo que, quando e onde os alimentos são fornecidos. A criança é responsável pelo quanto e pelo que come.

Ofereça opções, mas sem fazer um bufê

Isso não significa que os gostos individuais das crianças devem ser deixados de lado. “Parte do trabalho dos pais e mães é considerar a experiência limitada da criança com comida”, disse Ellyn Satter. Por isso, na hora de planejar um cardápio, deve sempre incluir “um ou dois alimentos que a criança aceita prontamente ou normalmente come e gosta”. Dessa forma, quando ela chegar à mesa e ver um monte de comida desconhecida, ela também verá algo que sabe que gosta. E se a criança não come, os pais podem pedir para ela ficar na mesa para aproveitar os outros benefícios do jantar em família.

‘Você dá a ela a chance de se familiarizar com a comida diferente, de experimentar, de ver alguém comendo. E é assim que o paladar se expande”, afirmou Anne Fishel. Mas se ela recusar de primeira, não se preocupe. “Não é o fim do mundo a criança por uma noite não querer comer tudo o que está em oferta porque tem alguns alimentos de que ela não gosta”, reforçou a especialista.

Segundo Fishel, existem formas de reconhecer os gostos de cada filho, mesmo em crianças menores. Por exemplo, as famílias podem preparar um prato como tacos ou macarrão e a criança pode personalizá-los com molhos e acompanhamentos.

Deixe as crianças se servirem

Ao deixar os filhos se servirem, eles aprendem várias lições sobre a alimentação. “Você está ensinando à criança: ‘Ok, pegue um pouco e veja como você se sente, depois, se você quiser mais, pode pegar’”, disse o psicólogo Blake Jones. Isso ajuda as crianças a desenvolver autonomia e aprender a reconhecer os sinais de saciedade.

Ellyn Satter também tem conselhos em relação à sobremesa. “Coloque uma porção de sobremesa em cada lugar da mesa quando você colocar a mesa. E deixe todo mundo comer quando quiser. Antes, durante ou depois da refeição”, destacou.

Segundo ela, é preciso ter um cuidado especial com os doces. “Quando usamos a sobremesa como alavanca para fazer as crianças comerem seus legumes, você as está ensinando a comer demais duas vezes: uma vez para comer os vegetais quando eles não querem, e depois para comer a sobremesa quando elas estão cheias de legumes”, afirmou. Os pais também estão ensinando aos filhos que a sobremesa é a parte mais valiosa da refeição. “Toda vez que você usa um alimento como recompensa, esse alimento se torna o preferido”, ressaltou.

Não faça da comida o centro do jantar

Como os especialistas destacaram, as refeições em família não são necessariamente sobre comida. Fishel sugere que os pais digam às crianças: “Teremos uma variedade de comida na mesa. Coma o que quiser. Não vamos falar muito sobre isso. Vamos falar sobre o dia e as notícias e o que vamos fazer no fim de semana”.

Não importa o que esteja servido na mesa, o foco deve ser o ambiente e o clima ao redor da refeição. “São crianças sentindo que podem falar e que as pessoas querem ouvir o que elas têm a dizer. É uma atmosfera calorosa e acolhedora que realmente traz os benefícios para a saúde mental e os benefícios cognitivos e os benefícios nutricionais”, finalizou Anne Fishel.

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