Por Juliana Sodré
Entender o rótulo de um alimento pode ser uma verdadeira missão. Mas ele não está lá à toa. As informações nutricionais são exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, para ajudar os consumidores a fazer escolhas mais adequadas daquilo que pretendem consumir. Mas nem sempre as informações são claras ou de fácil entendimento. Por isso, a reportagem de Canguru foi atrás desses esclarecimentos. A diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), Daniela Cierro, nos ajudou a desvendar esses segredos.

O VALOR ENERGÉTICO, por exemplo, é a energia produzida pelo corpo proveniente de carboidratos, proteínas e gorduras totais. Nos rótulos, esse valor é expresso em forma de quilocalorias (kcal) ou quilojoules (kj) – 1 kcal equivale a 4,2 kj – e é informado segundo uma dieta diária de 2.000 kcal. Mas esse valor varia de indivíduo para indivíduo (crianças, adolescentes ou doentes específicos têm necessidades diferentes, por exemplo), e os cálculos não são voltados para esse público.
Os CARBOIDRATOS são alimentos cuja principal função é fornecer a energia para todas as células do corpo, principalmente as do cérebro. São encontrados em maior quantidade em massas, arroz, açúcar, mel, pães, farinhas, tubérculos (como batata e mandioca) e doces em geral. São considerados vilões, muitas vezes, porque o excesso de consumo deles é armazenado em forma de gordura.
As PROTEÍNAS são componentes necessários para a construção e a manutenção dos nossos órgãos, tecidos e células e são encontradas em carnes, ovos, leites e derivados, além das leguminosas, como feijão, soja e ervilha. Assim, os que não comem carne conseguem se abastecer de proteína de outras formas. Um alimento rico em proteína é aquele que possui mais de 10 g do nutriente por 100 g de produto.
As GORDURAS TOTAIS referem-se à soma de todos os tipos de gorduras encontradas em um alimento, tanto de origem animal quanto vegetal. São as principais fontes de energia do corpo e ajudam na absorção de algumas vitaminas.
Já as GORDURAS SATURADAS são as gorduras presentes em alimentos de origem animal. Assim como os outros itens, não devem ser consumidas em excesso, mas eliminá-las completamente não é a melhor solução, uma vez que algumas vitaminas vêm dessas gorduras.
As temidas GORDURAS TRANS são aquelas produzidas pelas indústrias. Seu consumo deve ser reduzido, já que nosso organismo não precisa delas. Aqui está o maior desafio para os pais, pois estão exatamente nos alimentos que as crianças mais gostam: biscoitos, sorvetes, snacks, produtos de panificação, alimentos fritos e lanches salgados. “Quando uma embalagem diz que o produto não possui gordura trans, deve-se ficar atento, pois pode conter outra gordura que faz tanto mal em excesso quanto aquela”, alerta Daniela.
A FIBRA ALIMENTAR está presente nos alimentos de origem vegetal, como cereais, frutas, hortaliças, legumes e alimentos integrais. Contribuem para o bom funcionamento do intestino em geral e para diminuir as placas de gorduras no sangue.
O SÓDIO está presente no sal de cozinha e em alimentos industrializados e deve ser consumido com moderação, pois, em excesso, contribui com a elevação da pressão arterial. “O alto consumo de produtos industrializados fez com que tivéssemos uma geração de adolescentes mais hipertensos”, diz Daniela.

Ingredientes e validade

Além da tabela nutricional, os rótulos trazem também a lista de ingredientes, o prazo de validade, o conteúdo líquido, a origem e o lote do produto. Como o próprio nome já indica, na lista de ingredientes virá a informação dos produtos que compõem o alimento, mas o que quase ninguém sabe é que eles estão na ordem decrescente em relação à quantidade, ou seja, o primeiro ingrediente listado é o que existe em maior quantidade no produto, e o último, em menor.
O lote é um número que faz parte do controle de produção. Em caso de algum problema, o produto pode ser recolhido e analisado pelo lote a que pertence. Fica mais fácil também encontrar onde eles estão.
Alimentos com data de validade vencida podem causar distúrbios alimentares e mal-estar. Se mesmo após vencidos não apresentam aspecto diferente, é porque provavelmente contêm alto índice de conservantes.
Além dessas informações, que normalmente ficam no verso da embalagem, os produtos também trazem alertas às pessoas que possuem restrições alimentares por alergia ou por doença. É o caso dos alertas de glúten e lactose, por exemplo, ou da presença de gordura e açúcar.
Traduzidos os termos utilizados nas embalagens, ainda restam nomes como espessantes, goma jataí, carboximeticelulose sódica, emulsificante e outros que encontramos na lista de ingredientes. Quanto a esses termos, a nutricionista e diretora da Associação Brasileira de Nutrição explica que eles são obrigados a estar ali mesmo que as pessoas não entendam do que se trata. “Ao identificar esses ‘palavrões’ nos produtos, tendo três ou mais, oriento que a pessoa faça uma segunda escolha ou crie alternativas de consumo, como valorizar os produtos feitos em casa“, sugere. Para exemplificar, é muito mais saudável para a criança consumir um “picolé” feito em casa de leite batido com fruta do que um industrializado.
Pensamento igual tem a gastrônoma especialista em alimentação infantil Luiza Fiorini: “É preciso diminuir o acesso de nossos filhos aos industrializados, e, para fazer isso, é necessário informar e educar a criança. Ensinar a ela sobre todos as atratividades das embalagens de alimentos que nem sempre são os mais saudáveis”, diz. As duas recomendam a valorização da comida caseira e o consumo reduzido de industrializados.