Por Cristiane Miranda
Aulas de natação, inglês, judô, música, balé, programação… Tudo isso, claro, além da escola regular. Com uma agenda cada vez mais lotada, a criançada vem sofrendo de um mal que pertencia apenas ao universo dos adultos: o estresse. Inquietação, nervosismo, irritabilidade, ansiedade, mau humor, dor de estômago e dor de cabeça são, segundo os especialistas, alguns dos sintomas que devem deixar os pais em estado de alerta. Mas não são raras as vezes em que passam despercebidos. “Com essa correria da vida moderna, é comum não atentar ao que está acontecendo à sua volta”, observa a médica Ana Christina Pimentel, secretária-geral do Departamento de Psiquiatria Infantil da Associação Brasileira de Psiquiatria. Mudanças de comportamento e humor são luzes de alerta. Mas é importante lembrar que um sintoma só não significa que a criança está estressada. “Para que o diagnóstico seja feito, vários desses sintomas têm de existir ao mesmo tempo”, afirma Marilda Novaes Lipp, PhD em psicologia pela Universidade George Washington e fundadora do Centro Psicológico de Controle do Estresse, que tem unidades em Campinas, São Paulo e Uberlândia.
Quando não tratado, o estresse pode causar depressão, ansiedade e problemas de estômago e dermatológicos. O último levantamento coordenado por Marilda sobre essa doença em crianças é de 2002 e foi realizado em escolas das redes municipal e particular em três cidades do estado de São Paulo. Mesmo não sendo atual, a pesquisa serve de parâmetro. Dos 255 estudantes avaliados, 12,5% apresentaram sintomas de estresse. O trabalho revelou que o tipo de escola pode influenciar a saúde da meninada. “Quanto mais pressão, mais estresse”, diz Marilda. E os pais têm sua parcela de culpa. “Hoje em dia, é comum os pais criarem grupos de WhatsApp para fiscalizar o que acontece na sala de aula. Isso acaba estressando os professores e, consequentemente, os alunos.” A pesquisa também apontou que a primeira série do ensino fundamental é a que provoca um nível de estresse mais alto, já que a criança se vê chegando a um universo diferente e precisa se acostumar com uma nova metodologia, provas e tarefas de casa.
É necessário saber ainda que pais estressados influenciam o comportamento dos filhos. “O estresse é contagiante emocionalmente”, afirma Marilda. Então, a primeira atitude dos adultos deve ser buscar ajuda para livrarem-se de seus próprios problemas. Depois, têm de calmamente avaliar o que está ocorrendo na vida do pequeno e organizar a agenda da criança para que ela tenha tempo livre suficiente. “Reconhecer que nada de ruim dura para sempre é essencial”, ensina a psicóloga. Para o professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFMG Arthur Kummer, situações de estresse não são necessariamente ruins. “Desde quando o homem precisava acordar e sair em busca de seu alimento, na Idade da Pedra, essa situação já era causa do estado de estresse”, conta. “E isso o manteve vivo.” Mais importante do que eliminar o estresse é aprender a lidar com ele. E isso vale para adultos e crianças.