– Mas por que eu tenho que fazer isso? – pergunta Mafalda.
– Porque eu estou mandando e eu sou sua mãe! – responde a mãe.
– Se é uma questão de títulos, eu sou sua filha! E nos diplomamos no mesmo dia, não foi? – contesta Mafalda à mãe, em uma de suas tirinhas fabulosas, criadas pelo argentino Joaquín Salvador Lavado, mais conhecido como Quino.
Considerado o cartunista de língua espanhola mais famoso e traduzido do mundo, Quino morreu nesta quarta-feira (30/09), aos 88 anos, depois de não resistir a um acidente vascular cerebral (AVC). Foi justo um dia depois de Mafalda completar 56 anos de existência – a primeira tirinha com a personagem foi publicada no dia 29 de setembro de 1964.
No total, foram quase dez anos de produção de Mafalda, até 1973. Em 1976, Quino ainda faria ilustrações da personagem, a pedido do Unicef, para os 10 princípios da Declaração dos Direitos da Criança. Hoje, mesmo passados mais de 50 anos de sua criação, suas histórias seguem mais atuais do que nunca. “Parem o mundo que eu quero descer!”, disse ela certa vez. Mafalda falava de tudo um pouco – política, economia, guerra, educação, cultura, direitos, amizade e justiça. E o universo de pais e filhos, claro, não podia ficar de fora.
A garotinha de cabelos pretos e apenas 6 anos de idade ficou famosa por sua irreverência, forma crítica de ver o mundo e afirmações que deixariam qualquer mãe ou pai desconcertado. Como quando diz ao irmãozinho: “Seja compreensivo, pense que essa boa gente (os pais), antes de nos educar, não tinha educado a ninguém”.
A aversão a sopas, o amor pelos Beatles e os questionamentos às regras de convivência e ao politicamente correto também aparecem com frequência em seus diálogos. E como qualquer criança, ela, por vezes, se mostra ingênua e não hesita em acreditar em um mundo melhor. “Bom dia! As injustiças terrestres já foram abolidas?”, pergunta Mafalda ao acordar.
“Quando parei de a desenhar, em 1973, não pensava que Mafalda pudesse continuar a ter um tal sucesso. Surpreende-me o afeto que as pessoas nutrem ainda em relação a ela. As crianças, sobretudo… O que, por um lado, me alegra. Por outro, no entanto, entristece-me. Quer dizer que o mundo, as suas injustiças, as desigualdades, os conflitos – problemas, em suma, que Mafalda denunciava há meio século – permaneceram imutáveis. Na verdade, se alguma coisa mudou, foi para pior… Mas eu sou um pessimista”, disse Tino ao site “todohistorietas”, em 2014.
Tino também era tímido. No seu estúdio de produção, por anos manteve um cartaz que dizia: “Por razões de timidez não se aceitam reportagens de nenhuma índole”, recorda matéria sobre ele publicada no dia de sua morte no jornal argentino El Clarín. Em uma entrevista feita há décadas, Quino afirmou: “Escolhi desenhar porque falar me custa bastante”. Que bom que seus desenhos e personagens falam por ele – e dizem muito. Até hoje. E para o sempre.
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Mauricio de Sousa homenageia Quino
Desde o anúncio da morte de Quino, diversos artistas e cartunistas têm homenageado o argentino. Entre eles, o criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, que lamentou a morte do argentino e disse em suas redes sociais: “O amigo Quino está agora desenhando pelo universo com aqueles traços lindos e com um humor certeiro como sempre fez. Criou sua Mafalda, hoje de todos nós, no mesmo ano em que eu criei a Mônica, em 1963. Por isso, nos tornamos irmãos latino-americanos para desbravar o mundo dos quadrinhos. Quino vive agora mais forte dentro de nós”, escreveu o desenhista brasileiro.
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A seguir, selecionamos algumas tirinhas especiais que mostram Mafalda, sua mãe e seu pai. Confira!
Mafalda em 10 tirinhas: para dar risadas e refletir
A irreverência de Mafalda | Foto: Reprodução/Quino
O Dia das Mães e o receio de ter sopa na refeição | Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e a compreensão das coisas “ao pé da letra”| Foto: Reprodução/Quino
Sobre educar os filhos | Foto: Reprodução/Quino
A descoberta da infância da mãe | Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e seus questionamentos irônicos do mundo | Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e o “envelhecer” | Foto: Reprodução/Quino
A sobrecarga materna | Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e sua visão crítica do mundo | Foto: Reprodução/Quino
O amor infinito à mãe. Foto: Reprodução/Quino
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Mafalda ao perguntar para sua mãe com que idade as pessoas ficam velhas,de certa forma deixa sua mãe constrangida.
Mafalda faz crítica a educação dada pelos pelos pais.
A Mafalda estava à frente da sua época! Maravilhosa! Eterno reconhecimento a Quino!
Oi, Helena, tudo bom? Ela e Quino (ou Quino e ela) são maravilhosos mesmo, de um humor e ironia ímpares. Um abraço, Verônica.