Muito tem se ouvido falar no termo maternidade ou paternidade atípica para se referir à experiência de criar e educar filhos com deficiência. Mas não podemos esquecer que o termo parentalidade atípica pode abranger uma variedade de situações que não se encaixam nos estereótipos tradicionais associados à criação de filhos, incluindo famílias em que OS PAIS têm alguma deficiência.
Recentemente, eu assisti a um filme baseado em uma história real que retrata essa situação: Uma Família Extraordinária, disponível no Amazon Prime, mostra a história de Bea, uma jovem que foi forçada a amadurecer muito cedo para aprender a lidar com o fato de que seus pais tinham deficiência intelectual.
O filme mostra que a garota teve uma infância fora do comum e cheia de aventuras. Bea aprendeu a dirigir aos 10 anos, se mudou de casa diversas vezes e até chegou a morar em uma van com os pais, que se conheceram na juventude, se apaixonaram e decidiram se casar. O romance entre os dois dividiu a opinião dos familiares, que ficaram preocupados com a possibilidade de o casal engravidar e não ser capaz de cuidar de uma criança. Os pais do noivo sugeriram a esterilização, mas como não chegaram a um acordo com a família da noiva, acabaram desistindo.
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A atriz Samantha Hyde – que interpreta a mãe de Bea – é neurodivergente na vida real. Ela engravida e no início, os avós ajudam a cuidar da bebê. Μas chega uma hora que os pais decidem que querem morar sozinhos e levam a criança.
O filme mostra algumas cenas inusitadas como o dia em que a filha, com uns 7 anos, acorda e sozinha faz o seu próprio café da manhã – cereal com leite – enquanto os pais dormem.
A casa vive bagunçada e os papéis por vezes se invertem. Tem uma cena que mostra a filha tendo que lembrar a mãe que era hora de ir trabalhar e a ajuda a escolher e vestir a roupa mais adequada.
Um momento importante é quando chega a hora da filha ir para faculdade e Bea se vê num dilema: mudar de cidade e ir atrás de seus sonhos ou ficar para cuidar dos pais que dependem da ajuda dela?
Apesar de ser considerada uma família diferente e até estranha por quem está olhando de fora, o filme mostra uma jornada marcada pela resiliência, criatividade e uma conexão única entre os três. Em várias cenas a gente percebe o clima de alegria e amor na casa.
Na vida real, eu conheço várias famílias onde o pai ou a mãe nasceu com alguma deficiência física, sofreu acidente ou desenvolveu uma doença degenerativa.
Mas com deficiência intelectual, só tinha visto em reportagens e agora no filme.
Existem três casos no Brasil de mães que têm Síndrome de Down, se casaram – duas delas com homens que também têm deficiência intelectual – e geraram filhos sem deficiência.
A primeira é a Cíntia, mãe do Augusto que acabou tendo sua história contada em um livro: A filha Down em alto astral.
A outra é Izabel Rodrigues, mãe de Cristinna, que teve como um dos principais desafios provar para os parentes que seria capaz de criar a filha. Sua história foi contada na revista Veja e em vários portais de notícias. E a terceira é a Maria Gabriela, mãe da Valentina. Nesses três casos, os avós colaboraram na criação das crianças, junto com os pais.
A parentalidade atípica é caracterizada pela adaptação constante. Pais com deficiência ou que têm filhos com deficiência se veem aprendendo a inovar e adaptar suas abordagens para atender às necessidades que vão surgindo. Pode ser necessário desenvolver métodos de comunicação alternativa, estratégias criativas para brincar e até mesmo maneiras diferentes de realizar tarefas cotidianas.
Quero deixar aqui como indicação alguns perfis de pais que têm deficiência e compartilham suas experiências no Instagram: @paiderodinhas, @nathaliasantos , @familiadaptada, @giganteleo e @ketly.vieira.
Os filhos desses pais atípicos crescem em um ambiente que valoriza a empatia e o respeito pela diversidade. Eles aprendem desde cedo a aceitar as diferenças e a reconhecer a riqueza que a diversidade traz à experiência humana.
O amor demonstrado por esses pais é uma força motriz poderosa para superar as barreiras e dificuldades.
É importante lembrar que a comunidade desempenha um papel crucial na jornada dessas famílias. Apoiar a inclusão, promover a acessibilidade e cultivar um ambiente de compreensão são passos fundamentais para criar uma sociedade onde todas as formas de parentalidade sejam valorizadas e respeitadas.
Muitas vezes, criamos estereótipos em torno da parentalidade quando um ou ambos os pais têm uma deficiência. No entanto, convivendo e acompanhando essas famílias consideradas atípicas entendemos que a deficiência não define a capacidade de amar.
E você, o que pensa sobre esse tema?
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.