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Bullying e suicídio: estamos ouvindo o silêncio dos nossos filhos?

Soube de mais uma notícia de vítima de bullying que tirou a própria vida. O caso não foi noticiado na imprensa, mas representa mais um suicídio de adolescente. Ninguém gosta de usar essa palavra: suicídio. Mas não adianta não usar essa palavra, não a mencionar, se o fato continua acontecendo. E aconteceu na escola.
A escola deveria ser um lugar seguro para crianças e adolescentes, mas muitas se tornaram um lugar que desvaloriza o ser humano. Onde foi parar a humanização? Escola não pode ser uma máquina de empurrar matéria nos alunos, escola deve ser muito mais. Deve ser um espaço de convivência, de aprendizado, de acolhimento, de convívio. Lugar de aprender a ser gente, a conviver com o diferente.
Estamos falhando miseravelmente com nossas crianças, com nossos adolescentes. Como vamos dar a eles um futuro melhor se nem conseguimos dar um presente menos sofrido?
É necessário haver uma parceria entre a família e a escola. É preciso haver apoio psicológico. Conversando sobre o assunto com um grupo de amigas, a psicóloga Katia Silva Simões trouxe uma reflexão importantíssima:
“A escola precisa mediar os conflitos. Trabalhar com os adolescentes que sofrem violência e com os que cometem a violência também. É preciso trabalhar com os dois lados. Vivemos em um dos países que mais encarceram no mundo sem que isso reduza nossos indicadores de criminalidade e violência. Punição só por punição tem sido pouco efetivo. Não que não seja necessário. Sobretudo com adolescentes é preciso trabalhar de maneira pedagógica para que eles aprendam como lidar porque a violência faz parte da nossa constituição como sujeitos. Se eles são somente expulsos de uma escola onde agem mal, no outro lugar repetirão o comportamento. Os conflitos são parte da sociedade. Cada caso é um caso apesar do fenômeno se manifestar de formas parecidas em diferentes espaços.”
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É necessário que família e escola se envolvam e sejam parceiros, se responsabilizem. E quando digo família, me refiro à mãe e ao pai. Aí temos aquela questão recorrente da ausência paterna, mesmo quando os pais são casados, essa tarefa costuma ser direcionada à mãe. Há exceções? Sim, mas são poucas.
Como pais, nosso papel é o diálogo. Estamos conseguindo falar a linguagem dos nossos filhos? Estamos conseguindo manter a conexão com eles? O que leva uma pessoa tão jovem a se matar? Será que os pais sabiam o tamanho da dor que ela sentia? Será que pais e escola souberam validar e acolher essa dor?
Vítimas de bullying costumam sofrer em silêncio, mas esse silêncio diz muito. Estamos ouvindo os silêncios dos nossos filhos? Às vezes eles ficam agressivos e nos afastamos, nessas horas precisamos nos aproximar. Quando a gente sente que eles não estão merecendo a nossa atenção é quando eles mais precisam dela. As crianças são muito inteligentes e sensíveis. Mostre que você as respeita e as considera e não permitirá que nenhum mal lhes aconteça.
“Às vezes, a gente tem vergonha de pedir ajuda; às vezes, tem medo; outras tantas, insegurança e um certo orgulho, uma espécie de dificuldade de dizer que “não vai bem”. No entanto, é essencial assumir fraquezas, experenciar fragilidades. Ninguém é forte o suficiente para suportar sozinho, por vezes, o mundo desabando sobre a sua cabeça. Se você não está bem, se há mesmo algo que te tem trazido tristeza e dor, peça ajuda, converse com alguém confiável, fale, diga o que incomoda você, não guarde. Aquilo que nos faz mal e guardamos, cedo ou tarde, fica incontrolável….”, afirma o professor Hugo Monteiro Ferreira, autor do livro A geração do quarto: Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar.
Não adianta colocar na escola mais cara, mais famosa, se ela esmaga a autoestima dos seus filhos. Não tente encaixá-los onde eles não se encaixam. A melhor escola é aquela onde seu filho é feliz.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.
Para pedir ajuda
O Centro de Valorização da Vida (CVV) se propõe a prestar apoio emocional, a acolher e conversar sobre quaisquer assuntos com respeito, sem julgamento e de forma sigilosa. Oferece serviço gratuito e comprometido com a prevenção ao suicídio, atende mediante telefone (ligue 188), chat, skype, email e pessoalmente. Saiba mais em www.cvv.org.br.
Bebel Soares
Bebel Soares é arquiteta urbanista, psicanalista, escritora, mãe do Felipe e fundadora da comunidade materna Padecendo no Paraíso, onde informa e dá suporte a mães desde 2011.
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