Aumentam as internações de crianças por acidentes

Mais de 110 mil crianças foram internadas em 2021, segundo pesquisa da ONG Aldeias Infantis SOS, devido a quedas, queimaduras e acidentes de trânsito, entre outras causas

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O número de crianças e adolescentes que se internaram, em 2021, devido a acidentes, aumentou em comparação com 2020. Foram 110.341 casos de internações no ano passado, na faixa etária de 0 a 14 anos, segundo pesquisa da ONG Aldeias Infantis SOS e do Instituto Bem Cuidar. O número revela um crescimento de 5,3% em relação ao ano anterior.

As quedas foram a principal causa das internações, sendo responsáveis por 44% das ocorrências, seguidas pelas queimaduras, 19%, acidentes de trânsito, 10%, e intoxicações, 5%. Em média, 302 crianças foram hospitalizadas, por dia, por conta de algum acidente em 2021, segundo o estudo feito com informações do Datasus, do Ministério da Saúde.

“Chama muito a atenção, por exemplo, que a maior causa de internação seja a queda, pois a gente sabe que há medidas para evitar isso. É preciso colocar tela em janelas e sacadas, evitar deixar móveis próximo a janelas, enfim, uma série de dicas que são importantes para que pais e adultos estejam munidos dessas informações para evitar os acidentes”, afirmou Erika Tonelli, especialista em Entornos Seguros e Protetores da Aldeias Infantis SOS. 

Erika lembra que, embora os acidentes façam parte da vida das crianças enquanto estão se desenvolvendo e experienciando o mundo, a maioria deles poderiam ser evitados. “Até 90% dos acidentes poderiam ser prevenidos com medidas simples. Os pais e familiares devem estar sempre atentos aos ambientes – não só aos domésticos, mas também espaços comunitários, parques, escolas e todos os lugares que as crianças frequentam -, para perceber quais riscos existem e se é preciso tomar alguma medida ou ter um olhar mais cuidadoso para elas”, ressalta a especialista.

Apesar do aumento geral dos acidentes, constatou-se que em 2021 os casos envolvendo afogamento diminuíram em 2% e sufocação em 6%, quando comparado ao ano anterior.  

O estudo também ressalta que, apesar do aumento no volume de internações, os números de 2021 são menores que no período anterior à pandemia. 

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Tipos de acidentes por idade 

Segundo o levantamento, a faixa etária de 5 a 9 anos de idade é a mais atingida pelas quedas e a que mais sofreu hospitalizações em 2021 – representando 35,1% dos internados por acidentes. As crianças com idade de 10 a 14 anos também tiveram um número alto de internações (34,2%), sendo igualmente as quedas a causa mais comum. 

Já na faixa etária de 1 a 4 anos, que representa 25,6% das interações, intoxicação e queimaduras estão entre os principais acidentes. Menores de 1 ano representaram 5,2% das internações, motivadas por acidentes como sufocação, mas também queimaduras, afogamento, intoxicação e quedas. 

Erika relata que dependendo da faixa etária, a prevalência dos acidentes vai sendo alterada. Os bebês de até 1 ano têm um número maior de casos de sufocação, porque são crianças que levam coisas à boca. Já a intoxicação tem um número bastante alto entre 1 e 4 anos, depois vem a queda, com crianças acima de 5 anos, que exploram mais o ambiente e estão mais expostas ao mundo externo. “Mas isso não quer dizer que a gente não deva estar atento às demais causas de acidentes. Mesmo a queimadura pode ser comum nos bebês durante o banho, por exemplo”, explica a porta-voz da Aldeias Infantis SOS. 

Principais causas de acidentes com crianças (0 a 14 anos)*

  • Quedas – 44%
  • Queimaduras 19%
  • Trânsito – 10%
  • Intoxicações – 5% 

Acidentes mais comuns por faixa etária

  • 0 a 1 ano – Sufocação
  • 1 a 4 anos – Intoxicação
  • 5 a 9 anos – Quedas
  • 10 a 14 anos – Quedas

*Números consolidados pela ONG Aldeias Infantis SOS, a partir da base de dados Datasus, do Ministério da Saúde.

Quedas e queimaduras

Os registros de quedas no Datasus incluem tanto acidentes ocorridos em casa, quanto em ambientes externos, como playgrounds e parques. Segundo Erika, não é possível afirmar qual tipo de queda é a mais comum, mas ela avalia que tanto o maior tempo dentro de casa, durante a pandemia, quanto o incentivo às atividades ao ar livre, após o período de isolamento social, podem ter contribuído para esse tipo de acidente.

Já em relação às queimaduras, ela diz que percebeu um leve aumento de casos, principalmente, devido ao uso recorrente de álcool e álcool em gel, como forma de proteção contra a Covid, e possivelmente também pelo uso maior de formas alternativas de combustível na cozinha, como carvão, óleo e querosene, devido à piora da condição econômica de grande parte das famílias brasileiras. 

“Mesmo alimentos quentes em cima  da mesa, a criança pode puxar e eles virarem em cima dela. É importante também evitar tomar bebidas quentes com o filho no colo e estar atento ao risco de choque elétrico com ferro de passar roupa, com o uso do celular enquanto carrega e com instalações elétricas da casa”, destaca Erika.  

Para a especialista, a precarização das condições de trabalhos e a exaustão de alguns cuidadores também podem ser fatores que interferiram nos cuidados com as crianças. Além disso, existe o fato de muitas delas ficarem sozinhas em casa, sem a supervisão de um adulto, o que contribui ainda mais para o aumento de acidentes. 

Dados mostram que  1 a cada 4 crianças acidentadas fica com sequelas permanentes durante toda a vida.

“Quando falamos de internações, não é algo simples como ralar o joelho ou cair da bicicleta, são causas graves e isso gera um custo tanto para o sistema de saúde quanto para a família, além, claro, do impacto psicológico e emocional na criança”, pontua Erika.

Principais causas de mortes de crianças por acidentes em 2020

Em relação ao número de mortes de crianças por acidentes, Erika explicou que os dados mais recentes fornecidos pelo Datasus são de 2020, quando 3.117 crianças de até 14 anos de idade perderam a vida. Apesar de o trânsito continuar sendo a principal causa das fatalidades com 30% do total, os afogamentos e casos de sufocação também registraram marcas preocupantes, com 27% e 22%, respectivamente. 

Mortes de crianças por acidentes – 2020

  • Trânsito – 30%
  • Afogamentos – 27%
  • Sufocação – 22%

Apesar disso, se comparado com 2019, o número de óbitos recuou 2%, sendo a maior redução em sufocação, com queda de 14%. Por outro lado, fatalidades envolvendo intoxicações e quedas seguiram o caminho inverso e aumentaram respectivamente 23% e 12% cada uma. Sob a ótica da faixa etária, crianças de 1 a 4 anos concentram a maior taxa de mortalidade por acidentes no Brasil (32%).

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