Há alguns dias, eu estava incumbido de levar meus filhos sozinho em duas escolas diferentes para a festa da leitura que a rede municipal de ensino da minha cidade realiza todos os anos. Essa não foi a primeira e também não será a última vez em que saí com eles sem a presença da mãe.
Por motivos pessoais, minha esposa já tinha um compromisso agendado para o final de semana, assim como em outras ocasiões em que eu não pude estar presente e ela ficou na incumbência de ir sozinha em algum evento com nossos filhos. Além disso, já houve situações em que tivemos que nos dividir com nossas crianças para irmos a escolas diferentes no mesmo dia e horário.
Mas, o que eu quero dizer com tudo isso? Quero trazer luz para as questões das paternidades solo e a presença paterna na vida dos filhos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) mostram um aumento no número de pais solo: em 2005, eram 3,1%, já em 2015 passou para 3,6% pais que criam os filhos sozinhos sem ajuda das mães. Apesar do crescimento, o número ainda é muito menor do que os índices de mães solo, que também aumentaram no mesmo período, passando de 25,8% para 26,8%.
Educar uma criança com pai e mãe presentes já não é uma tarefa fácil, fico imaginando o quão desafiador deve ser fazer isso sozinho.
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Na correria desse dia festivo na escola, cheio de conexões e desafios ao lado dos meus filhos, me peguei pensando em alguns amigos pais que vivenciam a realidade da paternidade solo diariamente, por diferentes motivos, como o falecimento da esposa ou o divórcio.
Buscando agora na minha memória, indo lá para minha adolescência e início da minha vida adulta, não me recordo de ter conhecido algum pai solo. Entretanto, mães solos, conheço várias desde os tempos da escola.
Por que será que há muito mais mães do que pais solos? A resposta é simples: a estrutura social e cultural brasileira impõe uma responsabilidade muito maior às mulheres do que aos homens em relação aos filhos, fazendo com que as mães se tornem as principais cuidadoras após o divórcio ou o abandono paterno, por exemplo. No imaginário popular machista, há uma crença equivocada de que ninguém cuida melhor de um filho do que a própria mãe.
Felizmente, estamos vivendo em uma época em que há um movimento de desconstrução de papéis sociais historicamente estabelecidos para as mulheres, que busca fazer com que o pai também assuma o lugar de cuidado com os filhos. Busca também abrir espaço para que os pais possam se expressar e demonstrar sentimentos, de forma natural, sem críticas, sendo responsáveis e afetuosos com os filhos.
Acompanhar os filhos na apresentação da escola, na consulta médica, na reunião de pais e em outras atividades de rotina é uma oportunidade de fortalecer vínculos e se mostrar presente de forma afetiva e efetiva na vida deles.
Assumir plenamente a paternidade – independentemente se você é pai solteiro ou casado, viúvo ou divorciado, biológico ou afetivo, cis ou trans – será sempre uma questão de vontade, consciência e amor.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.