Crianças trans existem

Frase exibida em estandarte durante Parada do Orgulho LGBT gerou polêmica nas redes sociais; para a psicanalista Bebel Soares, "as crianças trans merecem ser cuidadas com amor e carinho e sem imposições"

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Estandarte exibe frase
Cartaz com a frase 'Crianças trans existem' é exibida durante a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, na avenida Paulista, em São Paulo
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Sim, crianças trans existem. É difícil para quem aprendeu que o modelo binário de gênero é o único que existe, eu sei, também aprendi assim. Mas desde criança eu sabia que tinha alguma coisa que não fechava. A exibição de um estandarte com a frase “crianças trans existem” durante a Parada do Orgulho LGBT, no domingo (11), viralizou na internet, gerando polêmica nas redes sociais.

Na minha infância eu via a Roberta Close na TV, era uma mulher maravilhosa, modelo, apresentadora, posou nua em revistas que venderam muito. Na época me falavam que ela era hermafrodita. Não era, Roberta era trans. Se descobriu e se assumiu como uma mulher trans no início da sua adolescência e teve que enfrentar o preconceito da família. Ela foi até capa da Playboy de maio de 1984.

Roberta Close entrava nas casas de todos os brasileiros em suas TVs e todo mundo assistia naturalmente. Ela também entrava nos lares brasileiros estampada em revistas masculinas. E a gente sabe muito bem o que aqueles homens faziam enquanto apreciavam aquelas fotos. E são eles os mesmos homens que hoje bradam ferozes contra a transexualidade, que esbravejam negando a existência de crianças transgênero.

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Gosto de usar o exemplo da Roberta, porque ela já tem 58 anos e sempre foi uma referência. Ela achava que era um menino gay pois não sentia atração por meninas. Depois viu que ainda tinha algo estranho, entendeu que não se identificava com o corpo masculino e se entendeu uma mulher trans heterossexual e não um homem gay. Sim, gênero e sexualidade são coisas distintas!

Sobre as crianças trans, sim, existem crianças que não se identificam com o seu gênero e isso não é uma imposição dos pais, das mães, pelo contrário. Ninguém escolhe ter um filho trans sabendo de todas as violências as quais estão suscetíveis. O que essas famílias fazem é acolher as crianças e buscar ajuda profissional. Essas crianças são acompanhadas por profissionais por anos. Esses profissionais vão apenas acolher, escutar e minimizar as dores dessas pessoas.

Quando estão maiores, as crianças trans podem fazer o bloqueio da puberdade para atrasar o aparecimento das mamas ou dos pelos. Esse bloqueio é o mesmo feito no tratamento de crescimento e de puberdade precoce. Não é feito indiscriminadamente. É acompanhado por endocrinologista e não é feito sem o consentimento da família ou da criança. Grande parte das crianças opta por não fazer, não há imposição, há escolha, assim como os tratamentos de crescimento e de puberdade precoce em crianças cisgênero.

Para adolescentes com menos de 16 anos e crianças trans, o Conselho Federal de Medicina determina que seja feito acompanhamento psicológico, porém sem intervenção de quaisquer tratamentos hormonais. Somente a partir da puberdade é que o bloqueio hormonal pode ser ministrado. O bloqueio hormonal é diferente da hormonioterapia, ele apenas impede o desenvolvimento de características sexuais mais acentuadas como os seios para quem nasce mulher e os pelos para quem nasce homem.

Os hormônios não devem ser usados por conta própria. Até 2020 a idade mínima para início da terapia hormonal era 18 anos. Em 2020, o Conselho Federal de Medicina reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para terapia hormonal. A terapia hormonal pode ou não fazer parte do processo de transição de uma pessoa trans. Trata-se da utilização de hormônios para promover mudanças físicas. Já a idade mínima para cirurgia de redesignação sexual passou de 21 para 18 anos.

A hormonioterapia ou terapia hormonal é um dos recursos disponíveis para transição de gênero, promovendo as mudanças corporais, fazendo com que a aparência física da pessoa esteja de acordo com a sua identidade de gênero. Isso proporciona maior bem-estar físico e emocional.

Crianças mudam, aquelas que se entendiam como trans podem passar a se entender com cisgênero, é raro, mas acontece. Segundo a endocrinologista Erika Figueiredo Gomes: “Crianças podem apresentar mudanças quanto ao gênero. É muito raro e temos poucos dados sobre o assunto na literatura. Chamamos atualmente de Gênero Diverso ou Diversidade de Gênero. Estariam aí incluidas crianças transgênero binárias e não binárias assim como crianças com diversidade de gênero que podem não se identificar como transexuais mais tarde. O gênero nessas crianças é fluido e não há como prevermos como será a evolução. Daí a importância de uma avaliação individualizada e cuidadosa. Não se recomenda nenhuma intervenção definitiva.”

A psicóloga Fernanda Junqueira acrescenta que muitas crianças mudam de ideia ao longo do processo e descobrem que são gays ou bissexuais. “Mas isso não quer dizer que muitas delas não possam realmente se identificar com outro gênero nas suas múltiplas possibilidades. Em sua identidade, sua afetividade, sua sexualidade”.

Crianças trans existem e merecem ser cuidadas com amor e carinho e sem imposições. Cada um de nós dá o que tem. Eu escolho o amor, o acolhimento e a aceitação. Se você prefere escolher o ódio e a marginalização, isso não diz nada sobre pessoas trans, mas diz muito sobre você.

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;

    Levítico 18:22
    Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.

    Levítico 20:13
    Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
    E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.

    Romanos 1:26,27
    Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?

    1 Coríntios 6:9

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