Educação parental. Você já deve ter ouvido falar sobre esse termo, que propõe, de diferentes formas, construir um vínculo duradouro e saudável com as crianças, atendendo às suas necessidades de desenvolvimento. Embora a educação parental seja relativamente nova no Brasil – somente em 2010 a nomenclatura passou a ser usada por aqui –ela surgiu na Áustria há mais de um século, sendo levada para os Estados Unidos em meados da década de 1920 pelos austríacos Alfred Adler (psicólogo) e Rudolf Dreikurs (psiquiatra e educador).
A história desse movimento – quando surgiu, quem são os seus principais expoentes e as mudanças educacionais que trouxe na criação dos filhos – foi o tema da palestra da publisher da Canguru News, Ivana Moreira, na abertura do Parenting Brasil, 1o Congresso Internacional de Educação Parental. O evento começou hoje (19), na capital paulista, em formato presencial e a distância e tem como objetivo debater o papel da educação parental no desenvolvimento da sociedade e compartilhar informações sobre ferramentas e metodologias que fazem diferença no trabalho do educador parental.
“A gente pode transformar as famílias se explicar a mães e pais o poder do que eles falam, de como as atitudes e pequenos gestos impactam na vida de uma criança”, disse Ivana. Durante sua palestra, ela destacou modelos de educação parental conhecidos no Brasil, como a Disciplina Positiva – que tem como uma de suas pioneiras a professora, consultora educacional e colunista da Canguru News, Bete P. Rodrigues – e o Parent Coaching Brasil, fundado por Jacqueline Vilela, certificada em parentalidade consciente e em coaching para pais e co-organizadora do evento. “Nossa missão é transformar as relações familiares de forma positiva e duradoura, contribuindo para a construção de uma geração mais conectada com os seus valores e propósitos”, relata Jacqueline, que também faz parte da equipe de colunistas da Canguru News.
A aprendizagem que os erros e as frustrações proporcionam
A conexão entre pais e filhos também foi abordada pela psicóloga e fundadora da Escola de Inteligência, Camila Cury, em sua palestra durante o Parenting Brasil. Ela destacou a importância do vínculo para um relacionamento saudável entre pais e filhos, principalmente, nos momentos que parecem problemáticos. “As maiores chances que tenho de me vincular com meus filhos surgem quando eles me decepcionam”, afirma Camila. Segundo a psicóloga, erros, frustrações e mesmo perdas são todos processos de muito aprendizado. “A perda nos faz ter noção do que é a felicidade. Se você educa seu filho para ser feliz o tempo todo ele não saberá o que é ser infeliz e poderá não valorizar o que tem”.
Camila conta que não ter medo dos erros é um conselho que recebeu de seu pai – o renomado psiquiatra e escritor Augusto Cury, autor de 55 livros, publicados em 70 países e que já venderam mais de 30 milhões de exemplares. “Tenho a honra de ter tido um pai com uma educação excepcional, muito bem sucedido, mas que sempre me falou de seus erros e fracassos. “É muito importante ter uma educação que nos tire do perfeccionismo e possibilite perceber que há seres humanos educando seres humanos, que falam de suas dores, que transmitem as falhas e dores do percurso, fortalecendo assim o vínculo e encorajando o filho a seguir seu próprio caminho por mais desafiador que ele possa ser.” Camila finalizou a palestra elogiando a educação parental, “uma arte belíssima na aventura do autoconhecimento e da autorregulação quanto a como e o que falamos”.
‘A educação parental é uma arte belíssima na aventura do autoconhecimento e da autorregulação quanto a como e o que falamos”, diz Camila Cury.
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Como ensinar aos filhos algo que os pais não tiveram
Na palestra “O que os pais não sabiam e agora precisam saber”, a biomédica Telma Abrahão disse que como educadora parental o seu papel é ser agente de mudança na sociedade. “Imagina como seria se nós tivéssemos tido uma educação emocional na infância?, questionou ela, referindo-se ao fato de que essa educacao é algo recente e que, embora os pais de hoje não tiveram acesso a ela na infância, devem aprendê-la para praticá-la com seus filhos.
Formada em biomedicina e com carreira de executiva em banco, Telma contou durante o Parenting Brasil como a experiência da maternidade a fez mudar de profissão e chegar à educação parental.
“Quando meus filhos eram pequenos, eu tive muitas dificuldades com eles, eu era mandona, julgava, repetia padrões e perdia o controle. Até que, um dia, estava em casa tão exausta com a minha rotina de mãe que cheguei à conclusão de que precisava aprender algo novo. Foi quando comecei a estudar a parentalidade positiva e passei a praticar a empatia e a frear os meus impulsos, troquei gritos por conversa, parei de julgar as crianças por tudo.”
Para Telma, é preciso se dedicar para aprender. “Se você realmente quer contribuir na educação parental, mude você primeiro. Não precisa estar pronta. Você pode ir mudando no caminho, mas lembre-se que você tem que ser um bom modelo. Não pode falar para o filho não gritar se você continua gritando que nem uma louca”, concluiu ela durante sua apresentação no Parenting Brasil.
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A escolha dos pais: reproduzir a educação que tiveram ou transformá-la?
A psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Patrícia Nolêto, que trabalha há mais de 19 anos com psicologia clínica em atendimento a adultos e crianças, abriu o painel da tarde do Parenting Brasil para falar do impacto dos pais na personalidade dos filhos. Segundo Patrícia, todos nós, mães e pais, temos um modelo parental que é fruto não só do que somos, mas também do que recebemos dos nossos pais e estes, por sua vez, receberam de seus pais e assim por diante, como num elo de corrente. Dentre os diversos modelos parentais, há, por exemplo, pais que estimulam a autonomia, que impõem limites realistas ou que buscam promover a espontaneidade.
“Vamos entregar algo para nosso filhos, que vão entregar algo para nossos netos, como um corrente que começou muitos anos atrás e representa a historia da parentalidade da sua família. Então, frente a essa fato, cabe aos pais se perguntar qual elo da corrente ele quer ser?, comenta Patrícia.
Há pais que entregam exatamente o mesmo que receberam de seus pais e há outros que buscam se transformar e educar os filhos de forma diferente. “Nós não conseguimos mudar o que vivemos, mas conseguimos ressignificar nossa história e fazer um elo mais saudável para nossos filhos, entregando para eles não só aquilo que recebemos, mas aquilo que eles precisam para se tornarem adultos saudáveis”
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É importante observar o que a criança quer dizer com o seu comportamento
A coach e formadora sueca, Mikaela Oven, que vive em Portugal, foi quem encerrou o primeiro dia de palestras do Parenting Brasil. Mikaela apresentou uma tabela de cores, organizadas segundo a personalidade e o comportamento de cada criança, que ajudam os pais a definir as melhores estratégias para educar os filhos.
Tabela de cores das necessidades da criança:
- Novas experiências (amarelo);
- Reconhecimento (vermelho);
- Segurança e controle (azul);
- Conexão e pertencimento (verde).
Segundo Mikaela, muitos pais se preocupam com o que é certo ou errado fazer – convencer a criança a comer sopa ou ensiná-la a dormir, por exemplo – mas o foco da educação deve estar em atender às necessidades dos filhos, indicadas por trás de seus comportamentos.
“Existe uma necessidade em nós e nas crianças que cria uma emoção e que gera um comportamento. Quando nós conseguimos perceber as necessidades de nossos filhos, temos uma informação muito valiosa. O comportamento dele comunica alguma coisa mas a necessidade que está por trás nós precisamos satisfazer. Se a criança se sente desconectada dos pais, por exemplo, é preciso investir em mais tempo de qualidade entre pais e filhos, em fazer programas em família juntos, aproveitar as refeições para reunir a família. Saiba mais sobre a palestra de Mikaela aqui.
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