A presença do pai tem grande importância na vida dos filhos, contribuindo para que as crianças se desenvolvam de forma plena e tenham relações saudáveis na vida adulta. Porém, a régua da paternidade no Brasil, no geral, é muito baixa. Tanto que o pai que troca fralda ou participa minimamente da rotina do seu filho é considerado por muitos um paizão.
E há aqueles que sequer chegam a assumir a paternidade, haja vista o número de crianças que não têm o nome do pai em seus documentos. Em 2023, 172.289 bebês foram registrados apenas com o nome da mãe na certidão de nascimento, segundo dados do Portal da Transparência do Registro Civil, revelando um aumento de 5% em relação a 2022. E se focarmos nas crianças com deficiência, os dados são ainda mais desanimadores.
Um total de 78% dos pais homens de crianças com deficiência e doenças raras abandonaram seus filhos antes de eles completarem cinco anos de idade, informa pesquisa do Instituto Baresi.
Esses dados mostram o quanto a parentalidade atípica é desigual para pais e mães. Nasce uma criança com deficiência, nasce uma mãe atípica e um pai que se acha no direito de escolher ou não o exercer da sua paternidade.
Nas famílias que enfrentam o abandono paterno, toda a carga do cuidar e gerir o lar fica sob os ombros das mães, que acabam na maioria abrindo mão de tudo pra cuidar da criança.
A sociedade enxerga as mães atípicas como heroínas ou guerreiras, mas, na verdade, elas são mulheres cansadas e sobrecarregadas.
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Na tentativa de mudar esse cenário, há um movimento de pais atípicos – eu entre eles – que, conscientes de seu papel, têm se reunido desde 2020, em meio à pandemia, para conversar sobre os desafios da paternidade em relação aos filhos com deficiência.
Daniel “Zoia” Fernandes, pai dos trigêmeos Maria Flor, Benício e Pedro (sendo um deles uma criança com Síndrome de DiGeorge, conhecida também como Síndrome de Microdeleção 22q11), fez uma série de lives acerca de temas como inclusão, capacitismo e falta de representatividade paterna.
A identificação com as temáticas debatidas fez com que outros pais atípicos entrassem no debate, incluindo pais com deficiência e filhos sem deficiência, o que resultou na fundação do Coletivo Pais Atípicos. O grupo possui uma formação horizontal, sem cargos hierárquicos, sendo as decisões tomadas democraticamente através de debates e votos verbalizados que ocorrem nas reuniões mensais de forma virtual.
É importante destacar que, o Coletivo Pais Atípicos é um grupo apartidário e laico, embora seja compreendido que suas ações são gestos políticos na direção de melhorar as políticas públicas de inclusão.
O coletivo conta hoje com 11 membros, sendo dez pais que são atípicos porque têm filhos com deficiência e um pai com AME (atrofia muscular espinhal) desde criança, que é pai de uma criança sem deficiência.
Um dos principais objetivos do coletivo é o comprometimento em oferecer apoio a todos os pais, típicos e atípicos, que se sentirem tocados a participar e contribuir com atitudes propositivas no avanço das leis e no ativismo para difundir ações de conscientização da luta anticapacitista sobre as mais diversas deficiências, síndromes e transtornos.
Além disso, o grupo faz o acolhimento e escuta ativa de pais em relação ao diagnóstico de seus filhos, trazendo reflexões acerca das paternidades e masculinidades em grupos de apoio e rodas de conversas.
Convido todos a visitar o perfil @coletivopaisatipicos e para conhecer histórias de alegria, receios, desafios e conquistas desses pais que fazem o possível para deixarem um mundo melhor para seus filhos.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.