2020: o ano que mais prejudicou a visão das crianças

O aumento das horas de tela para uso recreativo e nas aulas on-line e a falta de lazer ao ar livre e sol atrapalharam o desenvolvimento saudável da visão

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2020: o ano que mais prejudicou a visão das crianças; menino de óculos apoia tronco sobre cama e segura bolsa com os dois braços
A prevalência da miopia está crescendo de forma preocupante e aqueles que estão ficando míopes estão ficando míopes com graus maiores
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Você sabia que metade da população mundial será míope até 2050? Essa é uma previsão relativamente antiga relatada em uma pesquisa realizada pela Academia Americana de Oftalmologia (AAO) nos idos de 2007. Já naquela época, observava-se um aumento bastante expressivo nos índices dessa doença ocular e uma das causas apontadas é o uso das tecnologias.

Os números analisados pela AAO não contavam com a pandemia que estamos vivendo. O ano de 2020 será marcado, sob o ponto de vista oftalmológico, como o ano em que mais causamos danos ao desenvolvimento da visão das crianças, posto que as horas de tela aumentaram consideravelmente, tanto com o uso funcional para as aulas on-line quanto com o uso recreativo. Além disso, o confinamento impediu horas de lazer ao ar livre, sob o sol, que tanto contribuem para o desenvolvimento saudável da visão.

A miopia é um distúrbio em que a imagem dos objetos é focada no olho em um local incorreto, não incidindo na retina. Assim, as pessoas míopes enxergam os objetos embaçados quando distantes. As causas mais comuns são um alongamento maior do que o normal do globo ocular ou uma curvatura acentuada da córnea.

A demanda de atividades que usam a visão de perto, a diminuição da exposição ao sol e a ambientes externos de recreação têm causado danos. Ao usar muito o foco para a visão de perto, os olhos passam a ter dificuldade de fazer o foco para longe. O ditado “a função faz o órgão” tem sido válido para os nossos olhos e, com o passar do tempo, essa condição pode ser permanente e evoluir até com perda visual.


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O que se tem visto é que a prevalência da miopia está crescendo de forma preocupante e que aqueles que estão ficando míopes estão ficando míopes com graus maiores. A alta miopia – maior que cinco graus – representa, hoje, a terceira causa de cegueira no mundo. A perda visual tem mais chance de ocorrer, porque a miopia aumenta o risco para outras doenças oculares como descolamento e degeneração da retina, catarata e glaucoma (aumento da pressão intraocular).

Esse aumento é tão preocupante que levou as sociedades de Oftalmologia a criarem um Alerta Permanente para o controle da miopia, com atividades que focam tanto no público médico quanto no leigo, para que possamos reverter essa tendência de aumento exponencial dos novos casos ainda na infância.

A atenção especializada é fundamental quando o problema já está instalado. Mas, sendo uma condição passível de prevenção, a disseminação da informação e implementação de práticas saudáveis é primordial. As crianças devem ser estimuladas a realizar atividades de recreação ao ar livre e a ficar expostas à luz solar. Por outro lado, precisam ser desencorajadas de fazer uso de aparelhos eletrônicos, principalmente antes dos três anos de idade. Lembrando que, antes dos dois anos, a recomendação das academias de pediatria continua sendo zero telas.

Quando o uso das tecnologias é imperativo para as crianças maiores, o chamado tempo de tela funcional deve respeitar momentos de descanso em que a criança ou adolescente possa repousar os olhos no horizonte, focando objetos à distância, mesmo que do alto das suas sacadas. Durante o uso da tela, alguns oftalmologistas recomendam a regra 20-20-20: após 20 minutos, focar em um objeto 20 metros distante por 20 segundos. Espelhar a tela do smartphone ou tablet na televisão também é uma maneira de aumentar a distância de foco.


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E, já que estamos falando em prevenção, quero comentar sobre a rotina oftalmológica da criança que começa logo ao nascimento com o Teste do Reflexo Vermelho ou Teste do Olhinho. Garantido por lei, é realizado pelo pediatra ainda na maternidade. É um exame não invasivo, que não causa dor e tem a capacidade de detectar várias alterações oculares.

Posteriormente, nas consultas de rotina com o pediatra, são avaliados diversos sinais do desenvolvimento normal da visão. Mas, até os dois anos de idade, os olhos da criança devem ser examinados pelo oftalmopediatra com equipamento específico ao menos duas vezes ao ano ou até mais, conforme fatores de risco individuais.

Crianças com mais de dois aos 10 anos de idade devem consultar o oftalmopediatra ao menos uma vez ao ano, a menos que seja detectado algum problema que necessite de avaliação mais frequente.

Como reforço sempre, a parceria entre a família e o pediatra é fundamental para implementar hábitos de vida saudáveis e rotinas de check-up individualizadas para cada criança. Juntos, temos o dever de cuidar de uma nova geração, para que seja longeva com saúde. Converse com seu pediatra.


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Talita Lodi Holtel
Talita Lode Holtel é mãe de Paola e Helena. Pediatra e hebiatra formada pela Unifesp, é especialista em gestão em saúde e coordenadora do Pronto Atendimento Infantil e da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital Sepaco (SP), além de Supervisora do Programa de Residência Médica.

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