Após sete meses da pandemia do coronavírus que impôs o distanciamento social e a suspensão das aulas presenciais, as crianças têm sentido consequências preocupantes em relação à saúde e ao bem-estar mental e emocional. A alteração da rotina, a ausência do convívio com os amigos – tão importante nessa fase da vida – e as aulas realizadas à distância impactaram a vida dos pequenos. O fato de estarem em fase de desenvolvimento cognitivo e aprendendo a lidar com suas emoções, resulta em uma pressão e carga emocional ainda maior.
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Um levantamento recente do DataFolha, realizado junto ao Itaú Social, Fundação Lemann e Imaginable Futures, identificou que 74% dos jovens na faixa dos 6 aos 18 anos se sentem tristes, irritados ou ansiosos por conta da pandemia e 67% dos respondentes afirmaram encontram dificuldades em manter suas rotinas.
Nesse contexto, o atendimento psicológico pode se mostrar muito positivo para as crianças, e mesmo os pais e responsáveis. Flávia Turner, psicóloga especializada em terapia infantil e familiar, de Belo Horizonte, diz ter percebido um aumento de 30% em seu consultório, neste período de isolamento. Ela relata que o convívio intenso com os filhos dentro de casa deixou muitos pais sem saber como lidar com diversas situações sugidas dentro de casa. “A pandemia tirou todos do controle, incluindo as crianças. Elas se viram muito perdidas e tendo que se adaptar radicalmente a essa nova rotina”, afirma a psicóloga.
Milene Rosenthal, psicóloga e cofundadora da Telavita , clínica online de psicoterapia em São Paulo afirma que a psicoterapia pode ser um fator primordial na orientação das famílias neste momento. “O psicólogo pode ajudar as crianças a lidar com conflitos do dia a dia e seus sentimentos, ocasionando assim a melhora na qualidade de vida”, explica Milene. A seguir, as especialistas dão mais detalhes do benefícios da terapia infantil.
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Entenda os benefícios da terapia para crianças
Qual é a função da terapia infantil?
O profissional da psicologia e terapia tem como objetivo auxiliar crianças e jovens a entenderem e a lidarem com suas próprias emoções por meio de conversas e atividades lúdicas que sirvam de incentivo para que se expressem. “Com jovens e adultos, é possível aplicar técnicas terapêuticas diretas, com muita conversa e confronto de ideias. Já com as crianças, é preciso aplicar métodos lúdicos, correspondentes às suas capacidades cognitivas, como pinturas, desenhos e brincadeiras. Comumente, a criança não tem o discernimento do que sente, por isso essas brincadeiras possibilitam a interação com o profissional, de modo que ele encontre caminhos para aliviar o sofrimento e ajudá-la”, avalia Flávia.
Como saber se é hora de buscar ajuda profissional?
É importante estar atento às mudanças muito bruscas no comportamento das crianças. Assim como nos adultos, é possível identificar uma forte tendência de isolamento e perda de interesse em atividades que antes elas gostavam de fazer. Irritabilidade, excesso de timidez, choro, dificuldades na escola e para dormir, piora na imunidade, medo excessivo, aumento de peso, maus comportamentos e, até mesmo, demora para o desenvolvimento de capacidades como andar e falar também são sinais de atenção.
Como ajudar meus filhos a lidarem melhor com o distanciamento social?
Antes de mais nada, os pais têm de conversar com os filhos. Para isso, vale criar um ambiente acolhedor – por meio da leitura de um livro ou de um filme, por exemplo –, em que as crianças se sintam à vontade para falar de seus medos e angústias. “Se já é difícil para nós, que somos adultos, imagine para eles! Também aproveite o tempo a mais em casa para estreitar os laços: almocem juntos, brinquem, conversem, ajude na lição, façam sessões de cinema juntos. Aqui, vale tudo para reforçar os laços familiares e mostrar que, apesar de tudo, eles não estão sozinhos”, orienta Milene. Flávia aconselha os pais a não se preocuparem tanto com o aprendizado pedagógico e acadêmico neste momento e sugere priorizar a interação familiar, a saúde física e mental das crianças.
O atendimento infantil é tão seguro e recomendado quanto o adulto?
Sim, o atendimento psicológico para crianças e adolescentes é tão seguro e eficaz quanto para adultos, sendo, inclusive, recomendado e regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia. Nesta época de pandemia, o atendimento online infantil também foi liberado, desde que autorizado pelo responsável. Caso a criança seja muito pequena, a recomendação é de que um adulto esteja presente para assegurar o engajamento durante a consulta. “As técnicas utilizadas variam de uma criança para outra, de acordo com os sintomas que elas trazem. A primeira sessão é sempre feita com os pais para que o psicólogo possa entender o que está acontecendo com a família dessa criança”, explica Flávia. Ela diz que o trabalho levará em conta todo o contexto familiar no qual a criança está inserida e portanto deve ser feito em conjunto com os pais ou responsáveis para que a terapia funcione.
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