A educação parental pode oprimir?

É preciso atenção com a produção de conteúdos destinados a mães e pais, divulgados nas redes sociais, ressalta o educador parental Mauricio Maruo

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Pai e mãe discutem com filha
Não existe fórmula mágica para resolver conflitos e os caminhos seguidos por cada família podem ser diferentes
Buscador de educadores parentais
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No meu último texto publicado aqui na Canguru News questionei sobre a participação masculina dentro do mundo da educação parental e hoje venho trazer um pouco mais de questionamentos ou se preferirem, inquietações.

Para explicar melhor o contexto deste texto gostaria de expor dois relatos, um de uma mãe e outro de um pai, que participaram das minhas rodas de conversa. Lembrando que esses dois tipos de relatos vêm crescendo de alguns anos para cá.

1º relato (mãe):

— Não sei se estou fazendo certo, meu filho fica muito irritado e eu acabo me irritando junto, procurando na internet profissionais que dão “dicas” sobre educação infantil, dizem para entender o que a criança realmente precisa e blá,blá,blá, mas ninguém diz como isso é difícil, eu queria que alguém me ajudasse a entender o que meu filho precisa e não dizer o que tenho que fazer.

2° relato (pai)

— Em casa tem uma cobrança muito grande com essa suposta “paternidade ativa”. Eu trabalho de casa e não temos uma rede de apoio por perto nem tanto dinheiro para contratar uma diarista ou uma babá. Sou eu que faço todas as funções de casa, cuido da logística das crianças, como dar o café da manhã, fazer o almoço com comidas saudáveis, levar para a escola, fazer o jantar e colocar para dormir, e tento no meio de tudo isso ainda trabalhar, mas o que mais me incomoda é quando a minha esposa chega em casa, com todas aquelas informações sobre como um “pai ativo” deve ser (provavelmente definido por algum influenciador na internet) e ela me diz que eu preciso fazer mais. Na verdade eu só queria poder ter um tempo de qualidade com meus filhos, é só isso que eu quero. Acho que não precisa ter regras para ser um suposto “pai ativo”, alias nem sei se sou um pai ativo pelo que minha esposa me diz.

Muitos educadores parentais estão surgindo e muitos deles utilizam as redes sociais para alcançar o maior número de seguidores, porém como os relatos acima provam, muitos se preocupam somente em despejar conteúdos e muitas vezes o jeito que esses conteúdos são criados causam uma certa opressão para quem consome. 

Já recebi nas minhas rodas de conversa, muitas famílias com dúvidas, inquietações, angústias que não eram propriamente deles. Muitas dessas famílias consomem conteúdo ou informações (inclusive de educadores parentais) e levam isso como verdade, o problema não é no que acreditam e sim em como acreditam (daí o problema de como o conteúdo é criado).

Para ilustrar melhor o que estou dizendo vou contar uma historinha que aconteceu em uma roda de conversa:

Um casal me perguntou:

— Por acaso você conhece alguma técnica para mostrar ao nosso filho que riscar as paredes da casa não era legal?

Eu perguntei:

— O que vocês já tentaram? Dentro dessas tentativas algo deu certo?

Eles disseram (deu para sentir uma culpa): 

— O que deu mais certo foi gritar com ele, pois ele ficou assustado e não fez mais, por um tempo.

Eu perguntei:

— E o que vocês acharam disso?

O casal então respondeu muito rápido:

— Não achamos legal, pois todos dizem que não resolve gritar com a criança, pois isso pode causar traumas.

Na minha inquietação, perguntei:

— Todos quem?

Eles responderam:

— Todas as pessoas que falam sobre criação respeitosa, educação consciente etc.

No fim, o casal compreendeu que tudo bem eles gritarem com a criança, pois no fundo eles sabiam que isso não iria trazer o resultado que eles queriam, mas que em determinados momentos o grito vai vir e tudo bem, pois todos temos limites que conseguimos e não conseguimos alcançar. O ponto mais importante foi que eles descobriram por conta própria que essa conscientização já existia dentro deles e não foi ninguém que disse o que era certo ou errado.

A reflexão que quero deixar aqui é…

Dentro da educação parental é muito difícil dizer com certeza o que é certo ou errado, pois cada família é única e com isso elas desenvolvem dinâmicas diferentes de como lidar com seus relacionamentos tanto externos quanto internos, acredito que a educação parental deva ser livre e oferecer o maior número de “caminhos seguros” para que as famílias decidam qual se adequa melhor a suas vidas.

Dizer a uma mãe que é errado gritar com uma criança é no mínimo opressor.

Perguntar (de forma segura) a uma mãe o que ela acha de gritar com uma criança é dar abertura.

Ouvir a verdade de uma mãe sobre como ela se sente ao gritar com a criança é empático.

Acolher a mãe quando ela descobre que seus conflitos internos pessoais podem estar de certa forma interferindo no seu relacionamento familiar é dar segurança.

Compreender realmente que os caminhos para criação de relacionamentos de cada mãe são diferentes uma das outras e que não existe uma fórmula mágica de resolver conflitos familiares, mas podemos estar presentes, isso é criar conexão.

Oferecer caminhos seguros (se ela pedir) para transformar o contexto é exercer a profissão de educador parental.  

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