Pandemia muda os medos no imaginário infantil

Medos fantasiosos, como de monstros e bruxas, deram lugar a temores reais, como o de ficar doente e de perder alguém da família

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Menina ruiva cobre rosto com as mãos
Pesquisa teve como objetivo conhecer os medos infantis, e ouviu 40 crianças, de 8 a 11 anos de idade
Buscador de educadores parentais
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Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein – A Covid-19 tomou o lugar do bicho papão. A pandemia mudou o imaginário infantil e, agora, o vírus assusta mais do que qualquer outro monstro. Em vez de dragões e bruxas, as crianças passaram a temer coisas reais, como o medo de ficar doente e perder alguém da família revela um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. 

A pesquisa, que começou antes da pandemia com a finalidade de conhecer os medos infantis, acompanhou 40 crianças com idades de 8 a 11 anos. As autoras pediram que elas desenhassem e contassem histórias sobre seus terrores – primeiramente de forma presencial, nas escolas, e posteriormente por meio de videochamadas. 

“No início apareciam personagens de filmes de terror, algumas lendas urbanas, monstros etc. Com o surgimento da pandemia, passaram a retratar doenças, a perda dos pais e até catástrofes, como tsunamis”, conta Geovana Figueira Gomes, psicóloga clínica, mestre em psicologia e autora do estudo. 

Se por um lado pavores do imaginário infantil podem ser muito assustadores, por outro os pequenos têm mais mecanismos para se proteger deles. Isso porque, da mesma forma que fantasiam perigos através da imaginação, também desenvolvem formas de enfrentá-los. 

Com a ajuda dos responsáveis, o lúdico começa a entrar como uma ferramenta para equilibrar o que está no mundo da imaginação para com o mundo real. “Essa transição entre os medos imaginários para os mais reais acontece de forma gradual. Se isso vem de uma vez, ela ainda vai ter dificuldades de compreender o que ela pode acessar nesse momento”, diz Geovana.

Por isso os medos reais precisam ser enfrentados com muito apoio dos adultos. “Quando a gente sofre esse bombardeio de informações, às vezes gera uma angústia maior do que se pode suportar pela falta de recursos para lidar com elas”, explica a psicóloga. “Pais e responsáveis devem ajudar com muito diálogo de acordo com a idade para que não vire um trauma e desencadeie sintomas precoces de ansiedade, por exemplo”, continua ela. 

Daí a importância de filtrar as informações que chegam até os mais novos, e de ajudá-los a entender e processar o que estão absorvendo. No caso daqueles avaliados pelas pesquisadoras, trazer esses assuntos à tona ajudou a manter medidas de proteção como o uso da máscara e do álcool gel, por exemplo.  

Enquanto imagina, aprende

O estímulo à imaginação é crucial para desenvolver a linguagem e a criatividade.  “Enquanto imagina, a criança também aprende. Quando cria mundos desconhecidos, ela elabora sua própria visão de mundo e a amplia com as diversas possibilidades. Quando inventa algo, a criança pensa em uma situação-problema e em estratégias para resolvê-la, contribuindo para atuações futuras frente ao desconhecido”, diz a psicóloga Caroline Nóbrega de Almeida, do Hospital Israelita Albert Einstein. Quando dão vazão aos medos, as fantasias podem ajudar a encontrar a coragem para lidar com desafios.

Mas o papel da imaginação não acaba na infância. “Em todas as fases da vida, o processo criativo nos ajuda a lidar com problemas, encontrar soluções, construir relações. Ele nos permite ter esperança e nos faz sentir vivos”, finaliza Geovana.

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