‘Já senti de tudo: medo preocupação, tristeza, saudade, insegurança…’, diz Bete P. Rodrigues

Lições da pandemia: os colunistas da Canguru News contam como estão enxergando esses tempos desafiadores de Covid-19

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Sentimentos da pandemia: Já senti de tudo: medo, tristeza, saudade, irritação..., diz Bete P. Rodrigues, que aparece nesta foto
'Eu moro com a minha mãe idosa (91 anos) e a minha casa e rotina, tal como no mundo todo foi afetada', conta Bete
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Pedimos aos colunistas da Canguru News que falem sobre suas angústias e sentimentos nestes tempos de pandemia da Covid-19. Quem inaugura a série “Lições da pandemia” é a mãe, madrasta, vódrasta e educadora Bete P. Rodrigues.

Trainer em Disciplina Positiva para mães, pais e profissionais, Bete é uma das principais referências no assunto no Brasil. Ela já traduziu para o português, em parceria com outros especialistas, quatro livros: “Disciplina Positiva”, “Disciplina Positiva em sala de aula”, “Disciplina Positiva para crianças de 0 a 3 anos”, “Disciplina Positiva para adolescentes”.

A especialista atua há mais de 30 anos como professora para crianças, adolescentes e adultos em escolas particulares, institutos de idiomas, organizações do terceiro setor e escolas públicas de São Paulo. E tem longa experiência com formação de educadores e coordenadores, tendo sido coordenadora e diretora pedagógica de escolas particulares e de instituições sociais.

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A seguir, confira o depoimento de Bete P. Rodrigues.

Sentimentos durante a pandemia

“Nessa pandemia, que está durando muito mais do que podíamos imaginar, eu, pessoalmente, já senti de tudo… Medo, preocupação, insegurança, nervosismo, apreensão e irritação – por causa do vírus, do efeito no sistema de saúde e na economia do país, e em todas as áreas da vida. Eu moro com a minha mãe idosa (91 anos) e a minha casa e rotina, tal como no mundo todo foi afetada. Estamos falando de uma verdadeira guerra contra esse vírus. Medidas extremas e de emergência foram tomadas. Senti também tristeza e saudade – conheço pessoas que se infectaram e felizmente superaram a doença. Mas soube de muitas que não. Estamos falando de 900 mil mortes no mundo. O assunto é sério. E triste. E traz reflexos na economia, na violência doméstica, no alto índice de doenças mentais, emocionais, casos de depressão e suicídio. E sinto ainda a tristeza e saudade por não poder encontrar, abraçar, interagir com pessoas queridas. Mas o que me afetou principalmente foi a perda da liberdade, do direito de ir e vir – por sobrevivência.”

Legados positivos

“Observar os efeitos positivos da pandemia me traz também outros sentimentos e aprendizados. Sim, parece incrível, mas eu consigo enxergar muitos legados positivos para minha família e muitas outras:

– A possibilidade de aprender e ensinar os filhos a resolver problemas, lidar com os desafios da vida e superar dificuldades. Portanto, a oportunidade de realmente olhar para os “desafios como oportunidade de aprendizagem” e desenvolver diversas habilidades de vida, como por exemplo: resiliência, superação, persistência, otimismo, responsabilidade.

– A convivência forçada cria também a oportunidade de aprender a delegar, a pedir ajuda, a colaborar e a buscarem soluções JUNTOS para cada desafio diário. Há a necessidade de um verdadeiro trabalho de equipe, no qual a cooperação substitui a comparação ou competição.

– Muitas oportunidades de tempo de qualidade com os filhos. Antes da pandemia, vivíamos nos queixando da falta de tempo com nossos filhos e passamos a ter esse tempo. Pais e mães sábios aproveitaram para interagir, conversar, ouvir e realmente conhecer seus filhos, aumentando assim a conexão entre os membros da família.

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– Grandes aprendizados na área da saúde física: os cuidados com a higiene pessoal, o considerar o outro, o bem estar de todos. Aprendemos que lavar as mãos, usar máscara, cuidar de si significa muito mais do que seguir regras. Significa preservar vidas.

– A valorização dos diferentes profissionais em uma sociedade – os que precisaram ficar na linha de frente (profissionais da saúde, entregadores, colaboradores dos serviços básicos etc) e dos que precisaram se reinventar para não deixar de existir.

– A possibilidade dos alunos de continuar aprendendo durante as aulas online e adquirir novas habilidades por meio das tecnologias e o reconhecimento do papel dos professores e da escola por pais e alunos.

– O reconhecimento do que realmente importa em cada família, em cada casa. Uma importante reflexão sobre prioridades, consumismo, planejamento, educação financeira e até valores familiares.”

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Legados negativos

  • Aumento do abismo sócio-econômico-cultural para os alunos que tiveram as aulas suspensas ou más condições de estudos;
  • O estresse causado pelo desafio desse confinamento forçado;
  • A fragilidade das emoções que surgiram por causa da iminente possibilidade de contaminação e efeitos da quarentena na economia doméstica;
  • A sobrecarga de trabalho doméstico, muitos pais e mães passaram a trabalhar em casa e tiveram que assumir tarefas que antes delegavam para outras pessoas e profissionais
  • A falta de habilidade para lidar com os frequentes conflitos diários com tantas pessoas convivendo em um mesmo espaço;
  • Os altos índices de violência doméstica presentes nos lares das diferentes classes sociais;
  • Os diversos casos de doenças mentais e emocionais decorrentes dos sentimentos de tristeza, incapacidade, impotência etc.”

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