O treino de musculação é uma atividade física comum entre adultos e, aos poucos, vem ganhando adeptos também entre as crianças. Mas será que a prática é indicada para os pequenos? E existe uma idade certa para começar a musculação na infância? Quais são os riscos que os pequenos correm? Dois médicos especialistas em esportes respondem essas e outras perguntas. Confira a seguir.
A maior dúvida que surge quando o assunto é musculação para crianças é se as crianças podem mesmo realizar esse treinamento. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a resposta é sim. Mas, desde que com supervisão de um adulto e respeitados os limites físicos dos pequenos. Segundo o Departamento Científico de Medicina do Esporte da SBP, atualmente, aceita-se o início precoce da musculação, mesmo em crianças pré-púberes, que têm menos de 8 ou 9 anos, desde que a atividade seja devidamente adaptada à idade do praticante. A fase pré-púbere antecede a puberdade, período de transição entre infância e idade adulta, na qual o corpo passa por intensas modificações, que ocorre nas meninas, por volta dos 8 aos 13 anos, e nos meninos, em torno dos 9 aos 14 anos.
“Ao contrário do que se imagina, não existe uma idade mínima ou indicada para o começo da musculação. Porém, são necessários alguns cuidados com as crianças”, explica Jan Willem Cerf Sprey, médico do esporte e especialista em Ortopedia e Traumatologia Esportiva, da Clínica SO.U. Ele diz que se a criança tem interesse, ela pode iniciar a prática em qualquer idade, se avaliadas suas capacidades motoras e cognitivas e seguidas as ordens de segurança para evitar qualquer incidente durante o treino. “Reforçando que é preciso sempre haver um instrutor ou professor para garantir que os jovens estejam bem assistidos e que a execução dos exercícios seja bem orientada”, diz o médico.
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Benefícios da musculação para os pequenos
A prática de musculação vai muito além daquele treino clássico de academia, podendo ser realizada com pesos livres, como pequenos halteres e tornozeleiras, pesos fixos, como os aparelhos de academia, e o peso do próprio corpo, muito usado nos chamados treinos funcionais, por exemplo. Também conhecida também como treino resistido, a musculação tem como principais objetivos o crescimento muscular, o ganho de força e o desenvolvimento da potência corporal. Além disso, contribui para o gasto de gordura corpórea e para o aumento de massa óssea.
Segundo o pediatra e especialista em medicina do esporte, Carlos Eduardo Reis da Silva, a musculação na infância é benéfica para a saúde como um todo. “O maior ganho da prática de musculação na infância é a criança estar envolvida com uma atividade física”, diz o pediatra, que preside o Departamento Científico de Medicina do Esporte da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP).
“Existem evidências científicas suficientes que atestam que a prática de exercícios resistidos na infância, ou seja, que envolvem forças opositoras utilizando cargas progressivas, diferentes velocidades e tipos de movimento, trazem benefícios à saúde, ao condicionamento físico e à performance de outros esportes”, conta o médico Jan.
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Confira alguns das principais vantagens que o treinamento de força pode propiciar:
- Tendência a se machucar menos ao praticar outros esportes e, caso isso ocorra, a reabilitação é melhor;
- Fortalecimento muscular;
- Melhora na composição corporal;
- Melhora no perfil lipídico (colesterol e triglicérides);
- Menor chance de desenvolver doenças crônicas, como obesidade, diabetes e pressão alta;
- Maior autoconfiança;
- Menor risco de desenvolver depressão e ansiedade.
Recomendações importantes: avaliação clínica e supervisão
Assim como todos os exercícios, a musculação na infância também pode oferecer riscos à saúde. A prática de treinos com carga, seja fixa, solta ou do próprio corpo, pode gerar lesões nas crianças, assim como nos adultos. Porém, há uma tendência menor de ocorrer lesões por sobrecarga na infância, como distensões e estiramentos. “Nessa fase da vida, é mais comum que haja algum dano acidental, que pode ser evitado com um profissional capacitado orientando e auxiliando durante toda a sessão de treinamento, desta forma evitando cargas excessivas e movimentos incorretos”, explica o médico Jan.
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Antes de iniciar a prática, deve-se levar a criança ao pediatra para que seja feita uma avaliação clínica do quadro de saúde dela. Assim, será possível determinar a condição física da criança e investigar caso alguma anomalia seja identificada. Além disso, existem outros fatores que também são muito importantes na hora de começar a nova atividade. “O ambiente onde deve ser feito o exercício deve ser um ambiente seguro, em que os aparelhos sejam adaptados para os exercícios das crianças e o principal é que haja a supervisão de um profissional habilitado e que possa oferecer um planejamento adequado para a criança”, aconselha o médico Carlos Eduardo Reis.
Para ele, o importante é praticar alguma atividade física, seja ela musculação, futebol, natação ou até mesmo circo. E se possível juntar o treino de resistência com outro esporte. “Ao fazer o treino de força, a criança pode prevenir ou melhorar o desempenho em algum outro esporte que ela pratica”, finaliza Carlos Eduardo.
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Conteúdo bem interessante e essencial. É muito bom ter a medicina ao lado da educação física, combatendo o preconceito de décadas sobre musculação e infância.
Hoje em dia há profissionais de educação física doutores e pesquisadores com foco em exercícios de força na infância e adolescência.
Sugiro apenas uma correção:
A atividade não deve ser supervisionada por um adulto, médico ou fisioterapeuta, deve ser supervisionada pelo único profissional habilitado, qualificado e com formação/experiência em prescrever, o profissional de educação física. Do contrário, além da supervisão sem qualificação, configurará exercício ilegal da profissão.
Os pequenos merecem o que há de melhor e ideal para atender suas necessidades.