A estreia do filme Divertida Mente 2 nos cinemas, no dia 20 de junho, traz à tona a temática da adolescência e os desafios que os jovens enfrentam nessa etapa de transição da infância para a vida adulta. A animação da Disney Pixar, que dá sequência ao filme de mesmo nome lançado em 2015, mostra a garota Riley, agora com 13 anos, tendo de lidar com emoções como vergonha, inveja, tédio e ansiedade, diante das transformações biológicas e fisiológicas do corpo que surgem com a puberdade.
Essa fase de amadurecimento sexual leva a mudanças na aparência, na autoimagem e no papel do adolescente na família e na sociedade. Muitas crenças, relações e funções são revistos, podendo fazer surgir dúvidas, angústias e transtornos emocionais nos jovens.
“Há inúmeras perdas no modo como o adolescente passa a ser compreendido e tratado pelas pessoas. Surgem demandas específicas a respeito dos estudos, das escolhas vocacionais, da capacidade para o trabalho e da conquista de autonomia relativa, e elas variam nos diversos contextos socioculturais”, explica a professora de psicologia do Centro Universitário São Camilo, Lydiane Fabretti.
E não são só os filhos que passam por mudanças – os pais também têm de se habituar à nova situação, em que deixam de cuidar de uma criança que até então dependia muito deles, e passam a lidar com um jovem adulto com opiniões próprias e gradual ganho de autonomia.
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De acordo com Lydiane Fabretti esse processo é permeado por mudanças de comportamentos, interesses e rotinas e pode suscitar emoções ambivalentes nos pais, que passam pelos sentimentos de orgulho, alegria, projeções positivas, medos e até o luto pela perda do filho idealizado. Daí a necessidade de os pais também cuidarem de suas emoções, para que sejam capazes de continuar oferecendo um espaço de regras e de segurança para os filhos, no entanto, de maneira diferente.
“Há nos pais o registro de suas próprias adolescências, e quanto mais consciência eles tiverem acerca de suas dificuldades e alegrias naquela etapa, mais poderão abrir espaço para que os filhos vivenciem a nova fase da vida de maneira singular, evitando projeções a partir de fantasias e temores que dizem respeito aos adultos. Assim, o exercício da paternidade é atualizado, abrindo espaço para que todos lidem com as novas experiências e vivam seu processo de autorrealização”, diz a especialista.
Para enfrentar melhor essa fase, que pode ser turbulenta para muitas famílias, ela reforça a importância da abertura para a conversa e a expressão, a escuta de amigos que atuem como referências positivas, e a promoção de um ambiente familiar e social com limites e aconchego. Assim, o adolescente poderá manifestar suas dúvidas, dores, confusões e outras emoções intensas e de difícil compreensão. A prática de atividade física e outros hobbies como desenhar, cantar e afins também são válidos para dar referências sobre as dinâmicas complexas das relações humanas e a oportunidade de elaborá-las de maneira criativa e protegida.
Ritos de passagem
A professora lembra ainda o papel de rituais tradicionais que servem como marcos de encerramento da infância e início da adolescência, e podem ajudar a organizar as emoções direcionando o comportamento e a preparação para as demandas mais complexas da vida adulta.
“Na sociedade ocidental urbana há a festa de formatura e o baile de debutantes, já o povo judeu tem o bar mitzvá, os grupos indígenas apresentam rituais de caça para os meninos e rituais específicos para as meninas quando elas têm a primeira menstruação, criando experiências emocionais que norteiam suas crenças e comportamentos sociais”, afirma a especialista.