“Eu gosto mais do meu pai do que de você.”
Você já ouviu essa frase do seu filho ou da sua filha? Se sim, o que sentiu?
Hoje vamos falar sobre um assunto bem delicado, afinal ninguém gosta de receber uma frase dessas assim na lata.
Muitas crianças são espontâneas, isso não é novidade nenhuma, mas as crianças podem ser também imediatistas, impulsivas e, na maioria das vezes, copiadoras – sim, a palavra copiadora está correta.
Em todas as minhas palestras sempre ressalto que até certa idade as crianças são como esponjas, elas replicam comportamentos e atitudes de adultos de referência ou de outras crianças maiores.
Então a frase “Eu gosto mais do meu pai do que de você” pode ter alguns outros sentidos, ou quem sabe, seja isso mesmo.
A questão é: quais as motivações que levam as crianças a dizer isso?
Com muitos movimentos e intenções de conscientização da sociedade sobre a importância da “paternidade ativa“, muitos homens/pais estão abraçando essas transformações masculinas e se tornando pais mais conscientes, afetuosos, amorosos e por que não dizer, mais responsáveis, não somente pela sua paternidade, mas por tudo que cerca a criação e educação da criança.
Alguns pais hoje são tão presentes que “aos olhos da sociedade” chegam a ofuscar a força da maternidade. Isso também é percebido pelas crianças (lembra que as crianças são iguais a uma esponja?).
A pergunta que fica é:
Estamos mesmo preparados para uma paternidade consciente e responsável?
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Porque em tese a “paternidade ativa” não necessariamente significa que mães e pais têm a mesma opinião sobre a educação dos filhos. Homens e mulheres apresentam diferentes formas de maternar e paternar.
Pensando nessa pergunta, saí para fazer uma pesquisa: conversei com mais de 80 pais e mães de filhos(as) entre 4 até 10 anos, fazendo apenas 3 perguntas:
- Você já ouviu essa frase do seu filho ou da sua filha, ou algo parecido neste sentido?
- O que você sentiu?
- Por que você acha que ele(a) disse isso?
A estatística mostra que:
Obs: Fiz um recorte estatístico somente das pessoas que já haviam ouvido a frase.
- 92% disseram já ter ouvido a frase ou algo parecido.
- 83% dos homens que ouviram a frase se sentiram orgulhosos, porém, com medo da reação da companheira. Se sentiram também perdidos em relação aos cuidados da relação conjugal x relação paterna.
- 98% das mulheres sentiram uma sensação de um luto, misturada com uma revolta, seguida de uma raiva muito grande.
- 80% dos homens acreditam que a frase é resultado da “paternidade ativa” que eles dizem exercer.
- Somente 18% dos homens acreditam que as crianças falam isso para provocar a mãe.
- 74% das mulheres afirmaram que seus filhos(as) falaram isso em um momento de revolta ou estresse.
- Quase 90% das mulheres acreditam que essa frase não demonstra necessariamente o que a criança está sentindo.
- Somente 5% das mulheres confirmaram que seus companheiros exercem melhor a paternidade do que a sua maternidade e estão bem com isso.
E agora, quais conclusões podemos tirar desses dados?
Acredito que cada pessoa que leu o texto até aqui, deve ter alguma conclusão específica para o assunto, porém devo lembrar que as entrevistas foram feitas com os adultos e não com as crianças, ou seja, a percepção das crianças sobre o “gostar” é diferente da nossa percepção.
Na minha opinião, a tal frase vem porque existe alguma disputa (voluntária ou involuntária) entre o pai e a mãe, seja sobre as formas de criação dentro de casa, sobre o tipo de educação que cada um acredita ou até mesmo sobre as questões de relacionamento que a criança desenvolve com outras crianças.
As crianças não são bobas, elas sentem vibrações diferentes que existem dentro das disputas familiares e entendem que elas têm opções de escolha, ou seja, elas sabem qual é o melhor lado para elas naquele momento.
Como educador parental, sugiro aos pais e as mães e responsáveis que não se sentiram bem ouvindo essa frase dos (das) filhos(as), revisitar suas pequenas disputas ou os acordos sobre tudo que envolve a criação da criança.
Lembrando que as disputas ou acordos não tão bem acordados são gatilhos para o conflito, então minha última sugestão, tenham maturidade para o diálogo.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.