‘É preciso restabelecer a conexão dos pais com a natureza, para que levem os filhos a esse espaço’

A pesquisadora Lis Leão recorda que o contato com o verde traz benefícios à saúde física e mental das crianças; o tema será debatido no Festival Criança e Natureza 2021

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Contato com a natureza beneficia a saúde física e mental das crianças; crianças brincam de mãos dadas em roda em área verde ao ar livre
Dados mostram que as crianças hoje passam 90% de seu tempo em ambientes fechados e somente uma hora do dia ao ar livre
Buscador de educadores parentais
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Correr no parque, subir na árvore, mexer na terra e observar pequenos insetos são atividades corriqueiras para crianças que frequentam espaços verdes nas cidades. E não se trata apenas de diversão – enquanto brincam, os pequenos favorecem o seu desenvolvimento. Diversos estudos comprovam que o contato das crianças com a natureza desde a infância traz benefícios a aspectos como a imunidade, a memória, o sono, a capacidade de aprendizado, a sociabilidade, o controle de doenças crônicas – como asma, diabetes e obesidade, e a redução de ansiedade, estresse e distúrbios de atenção. Pesquisas também indicam que quanto mais consciência a criança tem da importância da natureza, mais ela protegerá o meio ambiente quando adulta, beneficiando assim o planeta. 

No entanto, as crianças ficam cada vez mais emparedadas: em média, elas passam 90% de seu tempo em ambientes fechados – como a casa, a escola e o carro – e menos de uma hora do dia ao ar livre. Os dados são do Instituto Alana que, em parceria com o Sesc São Paulo, realiza o Festival Criança e Natureza 2021, a partir desta terça-feira (17) até quinta-feira (19), de forma online e gratuita. O evento pretende discutir caminhos e soluções para garantir o contato maior das crianças com a natureza, bem como a ampliação de espaços verdes, amigáveis e brincantes nas cidades para as crianças.

Entre palestrantes e convidados previstos no encontro estão a atriz Taís Araújo, apresentadora e jornalista, defensora do Direito das Mulheres Negras da ONU; a cantora Gaby Amarantos, defensora dos movimentos negros, LGBTQIA+ e direitos das mulheres,; a chef de cozinha natural e apresentadora Bela Gil; Catarina Lorenzo, de 14 anos, surfista e ativista global e Juliana Tozzi, engenheira e primeira montanhista cadeirante do Brasil, fundadora do Instituto Montanha para Todos. Especialistas em direito, educação e saúde, planejadores urbanos de diversos municípios e lideranças indígenas e jovens também participarão do evento.


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‘A infância é uma janela de oportunidades ímpar para o aprendizado’

Uma das palestrantes do festival, a especialista em Saúde Pública e Educação, Lis Leão, ressalta, em entrevista à Canguru News, a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento infantil. “A infância é uma janela de oportunidades ímpar para o aprendizado da criança. Ao frequentar espaços ao ar livre, ela recebe estímulos diversos que favorecem o seu desenvolvimento”, diz a pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo. Atualmente ela conduz a pesquisa “e-Natureza”, para analisar como imagens de ambientes naturais são processadas e que tipo de reação e benefícios exercem sobre as pessoas.

Lis dá como exemplos desses estímulos, questões ligadas à psicomotricidade e equilíbrio: “em um apartamento, o bebê anda no chão plano, bem diferente do terreno natural, que tem irregularidades e exige outras habilidades dos pequenos”. Inclui também a linguagem: na natureza, a criança aprende o nome de vários elementos ali presentes. E tem ainda a questão sensorial, do pensar, da criatividade e a possibilidade de realizar várias tarefas, as quais não se consegue ter dentro de um ambiente emparedado, que oferece menos recursos para o desenvolvimento infantil.

“Isso demonstra que quanto mais verde por perto, melhor para a saúde – física e mental. Hoje, aumentou muito o uso de ansiolíticos entre crianças para tratamento de problemas como depressão e ansiedade. O fato de brincar ao ar livre tem efeito protetor sobre esses aspectos”, destaca Lis. Ela avalia que os pais têm papel essencial nesse sentido.

“Estudos já demonstram que o melhor preditor para ter crianças em contato com a natureza é um adulto conectado com o verde. Se ele não for conectado, ele não vai levar o seu filho a esses espaços. É preciso restabelecer essa conexão”, afirma Lis Leão.

A pesquisadora cita o best-seller “A última criança na natureza”, do jornalista americano Richard Louv, que confirma, com base em uma série de estudos, como o distanciamento do mundo natural deixa crianças e adultos doentes. É o que o autor chama de Transtorno de Déficit de Natureza, que leva a problemas como ansiedade, medo, desatenção, miopia e falta de vitamina D, entre outros distúrbios físicos e emocionais. Um grande estudo publicado na revista pediátrica Jama, em 2019, feito com quase 60 mil crianças chinesas, constatou que a maior exposição ao verde pode reduzir em até 20% as chances de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O desafio de tornar as cidades mais verdes e atrativas para todas as crianças

Diversos motivos pesam contra a frequência das famílias a espaços ao ar livre: falta de segurança e de qualidade nesses locais públicos, falta de costume dos pais de ir a esses espacos quando criança, a violência, o consumismo e o excesso do uso de equipamentos eletrônicos por adultos e pelas crianças. Durante o confinamento da pandemia da Covid-19, esse cenário só se agravou.

“A construção de praças com espaços para encontro e brincadeiras em todos os bairros da cidade, a criação e recuperação de parques públicos, a redução da poluição e o reforço na arborização da cidade são exemplos de políticas favoráveis à infância”, declara JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana. Para ele, é preciso buscar caminhos práticos, com soluções baseadas na natureza, para que o direito à vida e à saúde, em um meio ambiente equilibrado, prevaleçam. “Esse é um dever de todos: famílias, profissionais, empresas, poder público. É essencial e urgente!”.

Confira aqui a programação do Festival Criança e Natureza 2021.


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