Por Kelli Angelini* ‒ Proteger os filhos na Internet e fazê-los usar as ferramentas tecnológicas de forma positiva é um grande desafio. Mas fiquem tranquilos, vocês não estão sozinhos nessa jornada, a maioria dos adultos que convivem hoje com crianças e adolescentes enfrentam esses desafios. Para se ter uma ideia, segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil, 93% da população de 9 a 17 anos usa a Internet no Brasil, o que equivale a 24,3 milhões de crianças e adolescentes conectados.
Temos muitas histórias reais envolvendo crianças e adolescentes no uso da Internet. Vou te contar duas delas. Uma que chama a atenção é do garoto de 14 anos (Caio Temponi) que, apaixonado pelos estudos, criou um canal no YouTube para dar dicas gratuitas a jovens sobre o Enem, mostrando o quanto a Internet pode potencializar talentos e ajudar o próximo. Fantástico, não?
Por outro lado, temos o caso de um adolescente de 15 anos, que após se frustrar ao pedir uma garota em namoro, passou a ofendê-la e ameaçá-la pelo WhatsApp e redes sociais, causando tanto medo à garota a ponto de ela não querer mais sair de casa. Acabou virando um caso de polícia.
Esses são dois exemplos antagônicos que mostram o quanto a Internet pode gerar tanto efeitos positivos quanto devastadores, a depender do uso que os jovens fazem dela.
Observando o aspecto parental, vivemos a primeira geração de pais com filhos na era digital. Seus avós e pais não passaram pelo que você está passando, ao ter que lidar com uma geração influenciada pelo uso das tecnologias. E me incluo nesse grupo de pais. Daí vem esse desafio imenso de não saber lidar com o novo e não ter precedentes para nos apoiar.
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Há, então, dois pontos de partida para seguirmos nessa desafiadora jornada e evitarmos os efeitos negativos do abandono digital de crianças e adolescentes. O primeiro é saber que a Internet não é algo paralelo e não implica em ter no ambiente digital menos direitos do que deveres, tampouco deixar o respeito de lado nas interações online pelo simples fato de estar frente às telas e não face a face com pessoas.
O segundo é reconhecer a importância do papel dos pais em acompanhar seus filhos no uso da Internet e garantir a segurança digital e o desenvolvimento saudável deles. Muitos pais se sentem perdidos e inferiorizados por não terem a mesma familiaridade e habilidade com as inovações tecnológicas que seus filhos possuem, achando, por isso, que nada teriam a ensinar ou acompanhar.
Porém, impor limites, acompanhar e instruir sobre a melhor forma de uso das telas são práticas fundamentais para guiar e proteger crianças e adolescentes.
Impor limites é crucial para garantir o uso equilibrado e saudável das telas, um verdadeiro gesto de amor que, se não partir dos pais, não virá dos filhos, que têm pouca maturidade para entender os prejuízos e danos do uso exagerado das telas.
Além disso, o acompanhamento dos filhos na Internet é essencial na medida em que esse ato se assemelha a acompanhar os filhos na rua. Saber com quem interagem, o que consomem e que sites visitam, por exemplo, ajuda a identificar riscos e prevenir comportamentos prejudiciais ou inadequados.
Por fim, a instrução se torna uma prática fundamental na segurança digital dos filhos, e envolve ensinar valores, habilidades sociais e emocionais no uso da Internet, sendo um processo contínuo de orientação e exemplo, fornecendo-lhes ensinamentos, aconselhamentos e apoio para enfrentar os desafios do ambiente virtual e ter boas escolhas online. Ou seja, instruir filhos no uso da Internet significa capacitá-los e inspirá-los, encorajando-os a usar as ferramentas tecnológicas de forma positiva e proveitosa.
Trabalhoso, não é? Sim, é inegável o trabalho que dá criar e educar filhos na era digital, porém, o papel dos pais de hoje, além do dever de sustento, afeto e educação, também inclui o cuidar do uso da Internet e não podemos nos esquivar disso.
Para ajudar pais e educadores nessa tarefa de orientar crianças e adolescentes sobre o melhor uso da Internet, escrevi o livro “Segredos da Internet que crianças e adolescentes ainda não sabem”, que está sendo lançado agora. A obra traz, de forma lúdica, ensinamentos sobre como instruir e informar crianças e adolescentes em relação às boas práticas online, destacando os direitos e deveres dos jovens previstos na legislação brasileira, bem como histórias reais advindas de bons e maus exemplos do uso da internet.
Possibilitar aos jovens se empoderarem desse conhecimento sobre boas práticas, riscos, perigos, direitos e deveres no uso da Internet os torna conscientes do dever que eles têm em sociedade e da proteção que eles merecem online.
Cuide dos seus filhos também no que diz respeito ao bom uso da Internet. Não negligencie, não os abandone nesse caminho.
Kelli Angelini é mãe de filhos na era digital. Advogada especializada em educação digital, palestrante em escolas e autora do livro Segredos da Internet que crianças e adolescentes ainda não sabem.