Nos últimos dias, foram intensamente noticiados os atos racistas em uma partida de futebol no campeonato espanhol, onde a vítima (mais uma vez) foi o brasileiro Vinícius Jr, que joga pelo Real Madrid. Ele foi chamado de “macaco” por torcedores do Valencia e, na mesma semana, o presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores declarou que ele deveria deixar de “fazer macaquices”.
Não foi a primeira e, infelizmente, não será a última vez que um atleta brasileiro sofrerá racismo nos gramados mundo afora. Vini, um jovem preto de 22 anos, vê o racismo atravessar sua história de vida desde a infância, e descobriu no futebol uma chance de mudança de vida. Porém, mesmo estando em um país desenvolvido e jogando em uma das ligas mais ricas do mundo, o preconceito ainda faz parte do seu dia a dia.
No seu perfil no Twitter, Vini escreveu: “Tenho um propósito na vida e, se eu tiver que sofrer mais e mais para que futuras gerações não passem por situações parecidas, estou pronto e preparado.”
Atos lamentáveis como esse, sofrido por um jovem preto que é ídolo de muitas crianças apaixonadas por futebol, servem ao menos de incentivo para reforçar a importância de conversarmos sobre racismo com nossos filhos.
Nos manter em silêncio não pode ser uma opção. Por isso é de suma importância abordarmos as questões do racismo desde cedo.
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Sei que essa pode ser uma tarefa difícil para pais e mães. Alguns terão a preocupação em expor questões relacionadas ao racismo e à discriminação apenas quando suas crianças estiverem maiores. Há também quem evite falar sobre temas que eles próprios (os pais) podem não entender completamente ou não se sintam à vontade para discutir com uma criança.
Contudo, nossos filhos já estão em contato desde cedo com valores sociais que são reproduzidos na sociedade e assim criam uma pseudo hierarquia que define privilégios a determinados grupos de indivíduos em detrimento de outros.
Isso vemos, muitas vezes de forma velada (ou nem tanto assim), na mídia, nos esportes, nas relações de trabalho, entre outros ambientes.
Lembrando que, no Brasil, a lei n° 14.532 tipifica como crime de racismo a injúria racial, com pena de dois a cinco anos de reclusão. Enquanto o racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo.
É notório que a maneira como as crianças entendem o mundo vai evoluindo com o passar do tempo. Isso implica diretamente no entendimento sobre o preconceito e as diversas formas de discriminação racial, que serão diferentes a depender da faixa etária e de como cada família abordará conversas relacionadas a esses temas.
Parafraseando Djamila Ribeiro: “Em uma sociedade, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Mas você sabe o que significa ser antirracista?
Ser antirracista é se opor à propagação de qualquer ação racista, além de proteger e acolher a vítima de racismo, incluindo as crianças, que em muitas vezes, já sofrem racismo desde o ventre de suas mães.
Proteger os filhos vítimas de racismo não é dizer a eles que foi um mal entendido, ou que a pessoa falou algo sem pensar, ou simplesmente, para não ligarem para o que lhes foi dito. Essas ações agridem duplamente, fazendo com que as crianças vítimas do racismo se sintam desumanizadas, com a autoestima e autoimagem menosprezadas, culpadas, inseguras e ofendidas. Além de fazê-las acreditar que a ofensa seja verdadeira.
O entendimento sobre o que é ser antirracista faz com que as crianças, independentemente da cor da sua pele, entendam as consequências dos atos racistas.
Para isso, todos nós adultos devemos compreender o assunto. Ler, pesquisar e conversar com pessoas que já sofreram racismo são importantes para termos repertório ao falar sobre isso com nossos filhos.
Estimule, instigue e encoraje as crianças a falar sobre o que sabem sobre racismo, assim como suas dúvidas e curiosidades sobre o tema.
E tudo bem se você não tiver todas as respostas para as indagações e curiosidades que os pequenos trouxerem. É possível encontrar fontes seguras de informações. Aqui mesmo, no Portal da Canguru News, assim como em outros veículos de comunicação, existem vários artigos que abordam o tema de forma segura para serem pesquisados.
Não sinta medo de abordar o tema do racismo com os seus filhos. A conversa ajuda nossos filhos a enxergar o problema como algo real e se conscientizarem para agir de forma diferente caso se envolvam em algum episódio, como vítima, agressor ou espectador de uma ação racista contra outra criança.
Como diz Humberto Baltar, fundador do Coletivo Pais Pretos e também um grande amigo meu: “Não devemos criar nossos filhos para a diversidade, mas sim, criá-los na diversidade”.
Lembrem-se: nossos filhos aprendem muito mais através do exemplo que nós damos a eles. Aproveite todas as oportunidades para ser antirracista, demonstrar gentileza, empatia e defender o direito de cada pessoa a ser tratada com dignidade e respeito.
As crianças não nascem com preconceito, elas aprendem. Seja o melhor exemplo para seus filhos e incentive a diversidade.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.