As refeições são uma oportunidade para melhorar a forma como os nossos filhos interagem com a comida. Porém, por mais que os pais tentem, para muitas crianças é um desafio fazer com que provem novos alimentos e tenham uma alimentação saudável.
Há especialistas, contudo, que dizem que ter restrições no que comemos não é necessariamente uma coisa ruim. “O problema é chegar ao ponto em que isso interfira na vida da criança, impedindo-a, por exemplo, de ir a um evento ou a um restaurante”, afirma a jornalista e escritora americana Marnie Hanel.
Mãe de três crianças, Hanel é coautora de seis livros de receitas, entre os quais Lunchbox: so easy, so delicious, so much fun to eat (Lancheira: tão fácil, tão deliciosa, tão divertida de comer, em tradução livre), lançado este ano. Defensora das lancheiras bento, uma espécie de marmitas de origem japonesa em que os alimentos são dispostos de maneira lúdica, a escritora diz que além do uso escolar, “as lancheiras são incríveis em criar previsibilidade em situações imprevisíveis”, sendo muito úteis também em viagens de carro e passeios.
A seguir, separamos diversas dicas da autora para ajudar os pais a lidar melhor com questões de alimentação dos filhos. As sugestões fazem parte de entrevista publicada na newsletter Parent Data.
1. Mudar a apresentação dos alimentos
A apresentação é praticamente tudo para crianças. Elas são muito mais propensas a provar um alimento se este for cortado em forma de estrela, por exemplo, e cortadores de alimentos podem ajudar muito nesse sentido. Se a cenoura baby não agrada, vale tentar os chips de cenoura assados, sugere Hanel. Isso porque cortar em diferentes formatos pode afetar a sensação em torno do alimento – o que abre um leque de possibilidades em relação aos vegetais. “Quando você brinca, é mais provável que as crianças experimentem coisas novas”, diz a escritora.
2. Respeitar as preferências da criança
Hanel diz que se a criança não gosta de queijo, mas come quando ele está derretido, tudo bem. “Acho que podemos ter preferências no que comemos, e isso não é necessariamente uma coisa ruim. Eu acho que o problemático é chegar ao ponto em que isso interfere na sua vida, onde você não pode ir a um encontro, não pode ir a um restaurante – e essa é a dinâmica que tento muitas vezes trabalhar, pressionando por uma atitude um pouco mais descontraída em relação à comida, dando a ideia de que é divertido. Isso é o principal.” E para as mães mais céticas, que resistem a fazer as coisas parecerem fofas para as crianças, a autora diz que esse ceticismo pode mudar rapidamente ao experimentar cortar um queijo no formato da palavra “divertido” e ver uma criança, que nunca comeu queijo antes, se interessar pelo alimento.
3. Deixar que conheça a comida
E quando os pais pensam em crianças tendo uma grande variedade de alimentos para comer – isso não significa que elas tenham, a princípio, que mastigar e engolir. “Pode significar olhar, tocar, usar um cortador de comida para cortar aquela estrela com seu pai”.
4. Fazer uma lista de alimentos
Há uma tendência a estimular os filhos a terem o próprio arbítrio em muitas de suas decisões. Mas, quando se trata de comida, muitos pais querem controlar tudo o que eles comem. Essas mensagens contraditórias favorecem a resistência, segundo a autora. Fazer uma lista de alimentos e sugerir que as crianças marquem aqueles dos quais gostam, faz com que participem das escolhas do que vão comer, e permite aos pais acertar mais no preparo das refeições. “Acho que trabalhar a partir de uma lista de compras comum que é aprovada por todos os envolvidos é uma parte fundamental. E eu não acho que seja uma coisa ruim para as crianças terem controle sobre suas escolhas alimentares.”
5. Diversificar o uso da lancheira
“Mesmo que seus filhos almocem na escola, há um papel para as lancheiras em sua vida. Porque as lancheiras são incríveis em criar previsibilidade em situações imprevisíveis”, entre as quais viagens de carro, shows, visitas ao zoológico, ter uma nova babá ou visita aos avós. A escritora diz que poder contar com alimentos de que as crianças gostam e que elas já sabem que são deliciosos, faz com que fiquem mais propensas a comê-los. “E todos nós sabemos que crianças bem alimentadas são mais felizes e muito mais fáceis de lidar.”
6. Aproveitar as vantagens da caixa bento
Abrir a lancheira e ver tudo junto dá às crianças aquela surpresa visual que pode convencê-las a se envolver com os alimentos. Diminui também a barreira de acesso à comida – não há embalagens nem recipientes, é só abrir e começar a comer – considerando que os horários das refeições estão cada vez mais curtos. Além disso, os compartimentos permitem separar os alimentos. “Todos nós sabemos que esse é um comportamento infantil clássico em torno de experimentar coisas novas: alimentos que se tocam”. Colocar duas frutas diferentes em um compartimento também pode torná-las mais atrativas. Essa também pode ser uma técnica de exposição precoce aos alimentos. Vale também perguntar aos filhos o que os amigos levaram de bom na lancheira, o que pode ajudar a diversificar as opções do que enviar. Pode inclusive ser um alimento de que eles não gostavam, mas o fato de um outro aluno estar comendo, serve de incentivo para que provem algo novo.
7. Repetir a exposição do alimento
Entre os conselhos dos especialistas para fazer com que a criança prove um novo alimento está o de expô-la à mesma comida muitas vezes. Porém, o que fazer quando você oferece brócolis a seu filho e ele diz algo como: “Não acredito que você me deu brócolis. Eu não gosto de brócolis.” Para Hanel, a lancheira de bento, com vários compartimentos, pode ajudar. “Se você coloca brócolis no canto 15 vezes, não parece agressivo. Parece que, coma ou não, aí está.”
8. Relaxar com as exigências da criança
Segundo a autora, crianças exigentes com a comida são aquelas que comem menos de 50 alimentos. Ela diz que a alimentação hoje ficou muito mais variada e interessante, e as opções do que os filhos podem comer também se tornaram muito mais amplas do que antes. “Então, acho que os pais podem relaxar um pouco sobre ser exigente com a comida. E digo isso da perspectiva de alguém que viu uma criança de 7 anos passar do ‘ele está comendo meu purê de beterraba; ele come tudo’ para ‘Oh meu Deus, aqui estou eu fazendo macarrão e manteiga, e eu nunca vou sair daqui’. Acho que chego a isso da perspectiva de ver uma criança se expandir. E se sentindo menos preocupada com isso.”
9. Celebrar o momento em família
Hanel diz que as crianças gostam de comer taco porque têm controle do que podem colocar nessa comida mexicana, muito comum também nos Estados Unidos. E mesmo que o taco das crianças não tenha tantos ingredientes saudáveis quanto o dos adultos, o importante é valorizar o fato de que as crianças estão comendo algo de que gostam e estão comendo todos juntos, segundo a autora.
10. Questionar o tempo de almoço nas escolas
A orientação da Academia Americana de Pediatria é para que as crianças tenham pelo menos 20 minutos para almoçar na escola. Mas se levado em conta o tempo de procurar uma mesa, abrir embalagens, conversar com o amigo e pegar a bebida, por exemplo, é preciso pelo menos meia hora para fazer a refeição com calma.
A escritora sugere que os pais questionem na escola quanto tempo os alunos têm para comer. Ela afirma que muitos estudos já mostraram que quando as crianças contam com almoços mais longos, elas comem uma variedade maior de alimentos, mais verduras e legumes, obtendo resultados mais saudáveis e mais energia ao longo do dia.
Para diminuir a perda de tempo, Hanel propõe que os pais facilitem o acesso à comida, evitando embalagens que sejam difíceis para os filhos abrirem. E que criem estratégias para otimizarem o tempo, por exemplo, indo ao banheiro antes do horário do almoço, e deixando as conversas com os amigos para depois da refeição – embora ela ache lamentável ter que propor essas medidas devido à falta de tempo dos almoços escolares.
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