Luar, em dinamarquês, diz-se Maneskin, o mesmo nome da banda italiana que ganhou o Festival da Eurovisão da Canção em maio deste ano. A dada altura, aqui em casa torcíamos pela França, mas à medida que o programa ia avançando e as músicas repassavam, comecei a olhar para o grupo italiano com outros olhos. Pensei: quem são estes loucos, vestidos assim e que incendiaram aquele palco? Que loucura boa é esta? Quis ouvir de novo a música e fiquei colada. Ainda que seja uma apaixonada por tudo o que seja francês, e que a interpretação tenha sido arrebatadora, havia algo nos italianos que era puro rock n’ roll, justamente aquilo que estamos todos a necessitar nesta fase pandémica que vivemos.
Fui pesquisar sobre eles de imediato, percebi que têm entre 20 e 21 anos e que fazem música a sério pelo menos desde os 16, ou seja, alguns começaram ainda pequenos, com a aprendizagem de instrumentos, por exemplo. Mas não fui só eu que colei. Todos, aqui em casa, fomos arrebatados pelo grupo de Roma, pelo seu estilo e ousadia. Há muito tempo que não ouvia música nova com tão boa qualidade. Claro que gostos são gostos e não são discutíveis, mas o que percebi foi que estes jovens se deixaram influenciar por grupos icónicos como os Fleetwood Mac, Nirvana, Radiohead, Led Zepelin, Franz Ferdinand, David Bowie, Red Hot. Que base!!!
Criar, e criar bem, não é dado a todos. É preciso talento, esforço, trabalho, sensibilidade e ousadia para experimentar, falhar e recomeçar. Malcolm Gladwell diz, no seu livro Outliers, que a diferença entre os que são brilhantes e os que são mais ou menos ou bons é o número de horas de treino, é o esforço e a capacidade em sermos resilientes. E o que sabemos é que se trata de um grupo dedicado e esforçado. Mas para além do talento artístico, esta banda tem, muito claramente, uma mensagem a passar: a da liberdade. Liberdade de expressão, de ser quem somos, de nos experimentarmos. É um grupo que pensa no que deseja transmitir, desde a forma como compõe a sua música, à roupa que escolhe e à maneira como se comporta em palco ou o que decide mostrar
nas suas redes sociais. É um grupo inteligente, tão fora da sua idade que, nas suas redes sociais não publicam nada das suas vidas pessoais.
Damiano tem uma namorada há 4 anos e só agora decidiu revelar a relação. Parece que neles se fundiu o espírito do rock n’ roll com a sabedoria e inteligência. Posso estar muito enganada, mas é o que transmitem e isso não deixa de me emocionar por ver tanta competência e capacidade em miúdos tão jovens.
Escrevo tudo isto para dizer que este grupo de jovens artistas e tudo o que trazem consigo parece que devolveu-nos um pouco de esperança: a da ousadia, da paixão e do tesão pela vida. E embora este tema aparentemente nada tenha que ver com parentalidade, para mim confirma-me que uma das fases mais importantes da nossa vida é mesmo a adolescência e que pode ser
vivida com a liberdade que se deseja, sem que ela tenha de causar repulsa, medo ou dano. Para quem sempre achou que esta fase da vida é de tontice, aqui fica um exemplo brilhante de como, quando damos espaço aos miúdos desde cedo, permitimos que se descubram, se experimentem e voem sem medos nem preconceitos. Se olharmos bem, vemos nos Maneskin, miúdos a divertirem-se e a serem felizes com o que adoram fazer. Não diria que Maneskin seja a luz da lua, mas um raio de sol cheio de esperança para uma geração que parece perdida, desorientada e adormecida. Grazzie mille!
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